
Assim, quando eu ouvia a pergunta de que, se o dinheiro não fosse importante e eu pudesse ser ou fazer o que quisesse, eu sempre respondia – para dentro, pois tinha receio da opinião dos outros caso o proferisse em voz alta – que seria escritora. Agora, no entanto, acho que responderia outra coisa.
Apesar de já não o fazer com grande frequência – ou, melhor dizendo, de o fazer raramente –, continuo a adorar escrever. Continuo a adorar inventar histórias e criar mundos. Mas…até que ponto as minhas ideias e os meus mundos imaginários dariam bons livros?
Às vezes penso que as minhas ideias são boas mas que eu não sou boa a desenvolvê-las. Ou seja, penso que podia apenas ceder, a alguém com melhor jeito para escrever e desenvolver uma história a partir daí, ideias para uma história ou livro. Acho que tenho uma imaginação fértil, mas não ao ponto de ter milhentas ideias para histórias. Até posso ter imensas ideias, mas fico sem saber que história desenvolver a partir delas. Acho que não tenho jeito para criar personagens, e definitivamente não sei criar aquelas frases marcantes e cheias de significado, dignas de serem partilhadas nas redes sociais. Talvez ainda venha a terminar as minhas histórias – gostava muito de o fazer. Talvez até venha a publicar um livro. Mas não sei se viveria dessa arte. Não sei se teria a capacidade de escrever ou de criar dezenas de histórias diferentes.
Há uns dois anos, as coisas inverteram-se, e o desenho regressou em força aos meus dias. Mas, antes disso, eu senti a necessidade de resgatá-lo e de usá-lo para me expressar. Foi algo que nunca tinha feito antes. Nem nunca tinha compreendido a frase de que a arte nunca provinha da felicidade. Eu apenas desenhava por gosto, porque me apetecia. Era apenas um hobby. O que tinha o desenho a ver com a expressão de sentimentos?
Descobri isto nos finais de 2016 ou já em 2017 – não me recordo ao certo –, quando passei um período muito mau. Eu não conseguia falar sobre o que sentia, porque eu nem sequer era capaz de explicar ou compreender o que sentia e o que me ia na alma. E tinha vergonha de falar, e medo dos julgamentos dos outros. Escrevia no meu antigo blog, mas sentia que não seria ouvida ou ajudada dessa forma, uma vez que aquele blog – e o próprio mundo dos blogs – tinha caído no abandono. Por isso, desenhei bonecas tristes, com frases à sua volta que tentassem transmitir o que sentia, e publicava no Instagram como um pedido de auxílio. As poucas pessoas que entenderam aquelas publicações como gritos de socorro disfarçados tentaram, realmente, perceber o que se passava comigo, mas, mais uma vez, eu não sabia explicar, tinha vergonha e tinha medo.
No entanto, eu descobri como o desenho podia ser usado para me expressar. Não era preciso desenhar apenas bonecas, ou fazer algo tão espectacular e abstracto para exprimir sentimentos. Podia juntar palavras ou frases que me definissem ou que significassem algo para mim, que mostrassem realmente às pessoas o que estava a sentir, em vez de estas tentarem adivinhar. Descobri que palavras e letras podiam ser desenhadas, moldadas e dispostas de forma a criarem um desenho no seu todo. E descobri que cada palavra, ou conjunto de palavras, podia ser escrito ou desenhado com diferentes cores, com diversos tipos de letra, com motivos ou padrões variados. Inconscientemente, eu estava a descobrir o que era o lettering.
Oi é a @lusyoliveira, adorei a série! Também me identifiquei um pouco neste texto. Eu gostava de desenhar desde criança, mas parei quando comecei a trabalhar, e também porque eu me sabotava e não achava que seria capaz de trabalhar com arte.... hoje me arrependo de ter desperdiçado este tempo... abraços!!!
ResponderEliminarOiii! Obrigada! Eu também achava isso, que não era boa o suficiente...e a maioria das pessoas à minha volta dizia que nunca poderia trabalhar com arte porque "não dava dinheiro". Se eu soubesse o que sei hoje...enfim xD
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