20/08/18

Raio de sol



A minha tia, irmã do meu pai, fazia anos no dia internacional da felicidade, e ela própria era o retrato da felicidade. Só nos últimos tempos o reconheci, no entanto. Ela não me era assim tão próxima; apesar de, tal como eu, ter nascido em São Miguel, vivia na ilha da Madeira e só cá vinha de vez em quando. Apenas recentemente passou a vir cá mais vezes. A partir daí, passou a ser comum encontrarmo-nos, e foi nesses poucos encontros que vi que era feliz.

Sempre bem-disposta e sorridente, a irradiar boas energias, a rir e a contar histórias engraçadas; assim esteve ela durante as vezes em que cá veio e a encontrei, e é assim que me lembrarei dela. Comprou uma casinha aqui em São Miguel, antiga e pequenina com um terraço. Era super fofinha e tão bem decorada, com um estilo meio vintage que eu adorei; o terraço tinha uma vista deslumbrante sobre o verde e o mar; ela tinha uma cadelinha tão gira que nunca parava quieta, estava a aprender crochet e estava a construir um pequeno jardim por trás da casa, com flores e uma cama de rede. Lembro-me tão bem da última vez em que lá estive: tinha ido almoçar com o meu pai e, depois, parámos lá para tomarmos um café juntos – e foi aí que eu conheci a cadelinha e que a minha tia nos mostrou o jardim em construção. Lembro-me de uma outra vez em que lá fui jantar, e as horas à volta da mesa foram preenchidas por dezenas de histórias engraçadas contadas por ela, o meu pai e o meu tio. Eu achava-a feliz, e sempre que estava com ela ou quando ia àquela casinha acolhedora pensava no quanto queria ser assim, sem grandes preocupações e sem dramas, a fazer aquilo de que mais gosto, a ter a minha própria casa pequenina e fofinha, a ser feliz estando por minha conta. Dito de outra forma, ela dava-me uma certa esperança. Esperança de que também eu poderia ser feliz. Dito ainda de outra forma, era como uma inspiração.

Ainda antes da tristeza da sua partida me invadir, a primeira coisa que senti foi choque. Por ter sido tão rápido e tão súbito, sem ninguém estar à espera – a morte pode chegar sem aviso. Por ela ser ainda tão nova e por não ter nenhum problema de saúde aparente ou que se soubesse – a morte pode chegar a qualquer um. E, por fim, por ela ser feliz. Há pessoas infelizes, pessoas que já nem têm consciência de estarem neste mundo, pessoas em sofrimento, pessoas que já estão mortas por dentro. Muitas delas ainda cá estão. Já a minha tia, que era feliz e cuja vida parecia cada vez melhor, partiu de repente.

Mas lembrar-me-ei sempre da inspiração e da esperança que me dava, sem ela sequer saber. E espero lembrar-me sempre disto nos dias mais sombrios, como se se tratasse de um raio de sol a abrir caminho pelo negrume.

05/08/18

Coisas boas do mês - Julho de 2018


Via We Heart It

Resolvi ressuscitar a “rubrica” que tinha no meu antigo blog. Chamei-lhe Coisas boas do mês, e foi graças a ela que comecei a procurar algo de bom em dias que se revelavam aparentemente maus, monótonos ou desinteressantes. Escrever este tipo de publicações permitiu-me ver as coisas com outros olhos e a ver como boas as coisas mais simples do mundo, como luzinhas na escuridão. Via que a vida não era tão má nem tão aborrecida, que coisas simples conseguiam pôr-me um sorriso na cara. E sinto que preciso disto novamente.