30/12/18

2018


Pela primeira vez na vida, comecei o ano com um mergulho no mar, com a intenção de me trazer boas energias e de me lavar a alma das más. Passei no exame de acesso à Ordem dos Nutricionistas, depois de tanta frustração. Adquiri uns óculos novos; estou cada vez mais cegueta, mas ao menos agora tenho uns óculos de que gosto e com que gosto de me ver ao espelho. Fiz coisas de que me arrependi, mas não vou falar sobre elas. Troquei de carro, não por querer, mas porque a necessidade assim o obrigou (“morte” do motor...RIP, boguinhas). Fiz férias no Alentejo e tive dias tão, mas tão preenchidos em que conheci muitos sítios novos. Deixei o meu trabalho. Foi um ano em que não fui a um único concerto. Doei a maior parte do meu longo cabelo. Tive um Verão infernal, que eu espero que tenha sido o pior da minha vida. Comecei a aprender lettering e, agora, não vou largar isto. A minha tia de espírito livre, jovem e feliz partiu, coisa em que ainda me custa acreditar. Ganhei vontade de regressar à blogosfera e criei este novo blog. Fiz uma formação na minha área que me fez pôr várias coisas em perspectiva. Deve ter sido o ano em que fui mais vezes ao cinema – quatro vezes, se não me estiver a esquecer de nenhuma. Removi o aparelho dos dentes superiores e parece que me sinto mais livre e mais leve – pelo menos gosto mais do meu sorriso agora. Mudei o visual por duas vezes – ir duas vezes à cabeleireira no mesmo ano é um recorde para mim, que passei anos sem lá pôr os pés – e fartei-me de receber elogios sobre como tinha mudado para melhor. Comecei, devagarinho e com alguma dificuldade, a voltar a gostar de mim própria.

Estas dezoito frases representam dezoito coisas que marcaram o meu ano. Coisas boas, coisas más, coisas mais importantes do que outras. Pensei que me ia ser difícil encontrar dezoito acontecimentos, mas, para além de, no fim, ter sido mais fácil do que pensava, podia, até, ter acrescentado mais coisas.

Foi um ano tão estranho. Agora que anotei estas dezoito coisas, que as relembro e que olho para trás, reparo em como foi preenchido. Em como teve tanto de mau e de sufocante, mas em como, ao mesmo tempo, trouxe coisas boas, mesmo que pequeninas. Parece que começa a haver algum equilíbrio. Como se eu, depois de ter saído de 2017 como se tivesse o peso do mundo às costas, completamente perdida, triste e desmotivada, tivesse tentado, a custo, equilibrar a balança, para que ela depois começasse a pender para o outro lado. Só o mero facto de tentar equilibrá-la foi penoso, pois era como se, ao adicionar algo de positivo, viesse algo de negativo bem mais pesado, que chegava com todas as forças. E parece que isto se manteve desta forma durante o ano inteiro. Só agora, no final, é que as coisas parecem estar minimamente equilibradas. Embora, no fundo, eu pressinta uma ligeira tendência, por parte da balança, para o lado do positivismo.

Tenho planos para o próximo ano, sim. Planos, objectivos, ideias que quero pôr em prática. Não vou revelá-los e falarei sobre eles apenas quando os cumprir ou estiver a caminho de os cumprir, sob pena de nenhum deles se concretizar. Julgamentos à parte, acho que dá azar revelar estas coisas a qualquer um e como se nada fossem. Porque, às vezes, parece que existe uma força má e mesquinha sobre nós todos, que sabe tudo de nós excepto os nossos pensamentos, à espera de um pequeno incentivo ou deslize da nossa parte para estragar tudo e impedir-nos de fazer aquilo que queremos.

Também acho incrível constatar que, se não tivesse feito certas coisas ou não tivesse tomado certas decisões durante este ano, determinadas coisas boas e positivas não teriam acontecido. É quase como se fosse obra do destino, coisa que eu ainda não sei bem se acredito ou não. Seja como for, estou grata pelo que se passou este ano. Estou grata pela coragem que tive para tomar certas decisões; por ter sido paciente e por ter dado tempo a mim própria, em vez de ter feito escolhas precipitadas; pela força e motivação que fui capaz de reunir, de modo a voltar a investir em mim mesma; pela vontade de mudar. Estou grata porque tudo isto está a fazer com que me redescubra e está a tornar-me numa pessoa que acredito ser melhor. Ao contrário do que aconteceu nos últimos dois anos, vou entrar no novo ano com determinação, com foco, com planos e objectivos para cumprir, com uma centelha de esperança de que tudo irá correr bem e irá mudar para melhor.

Por isso, venha ele. Um ano muito feliz para vocês ❤

28/12/18

Confiança

No meu último dia de trabalho, um colega disse-me algo como Um dia a tua vida vai ser exactamente como queres. Eu já estava com as emoções à flor da pele nesse dia; tanto estava triste como apática, mas estava, também, nervosa e aterrorizada, a questionar pela milésima vez aquela decisão tão importante. E tudo isto se manifestava mais com o avançar dos minutos e com a aproximação da minha hora de saída, que seria a saída definitiva. Não sei se foi devido a tudo isto, se foi devido àquilo que esse meu colega me disse, se foi por ter sido dito por aquele colega em específico – que eu, em tempos, considerara um amigo – ou se foi por tudo isto ao mesmo tempo, mas a verdade é que, mal eu ouvi aquelas palavras, as lágrimas vieram-me aos olhos. Porque também me comecei a perguntar como é que a vida poderia ser como eu queria, quando nem eu própria sabia como eu queria que ela fosse.

Posso nunca ter sabido o que queria, mas posso dizer que sempre soube o que não queria. E acho que isto foi meio caminho andado para tudo o que se passou e para tudo o que acabei por decidir durante os últimos meses.

Quando deixei aquele ambiente tóxico para trás, parece que tudo se começou a querer compor, embora muito devagarinho. Não foi – nem eu esperava que assim fosse – de um dia para o outro. Levei um dia de cada vez, tentando, a cada dia, dar mais um passinho, por mais pequenino que fosse, na direcção da vida como eu queria que ela fosse. Passinhos na descoberta de mim mesma, na aceitação da pessoa que sou, na conquista da esperança e do positivismo. Passinhos que dava por mim mesma ou acompanhada por quem eu quis que me ajudasse e estivesse ao meu e do meu lado. Investi em mim própria e fi-lo com calma e tentando, ao máximo e com uma grande dificuldade, é certo, ignorar a pressão que parecia abater-se sobre mim, de vez em quando. Porque eu sabia que não seria fácil e que as coisas não se resolveriam de um dia para o outro.

Todo este processo fez com que eu ganhasse uma maior certeza em relação às coisas que não queria para a vida, como se estas se tivessem tornado cada vez mais vincadas, como Nãos bem firmes. E, por conseguinte, fez com que pensasse melhor no que queria para mim. Tornou-me focada e motivada e fez-me definir objectivos e adquirir uma pequena dose de esperança e de confiança. Tanto que, se tudo correr bem, irei sair da minha zona de conforto durante o novo ano que se avizinha.

Aprendi duas grandes coisas com tudo isto.

A primeira: as pessoas conseguem ser malvadas. Mesmo que não o façam de propósito e mesmo que nem saibam que o estão a ser. Malvadas porque lançam os seus bitaites, porque dão as suas sugestões, porque não compreendem ou porque pura e simplesmente não suportam ver-me como estou. A verdade é que me sinto mais tranquila e motivada e fiz mais e investi mais e estimulei muito mais o meu cérebro nestes poucos meses do que em todo o ano de 2017 e na primeira metade de 2018. A verdade é que todos os bitaites e sugestões parecem abalar a minha recente confiança e motivação que eu demorei tanto tempo e me esforcei tanto a construir – e que permanecem em constante construção. A verdade é que queria que todas essas opiniões malvadas – que as pessoas dão sem a intenção de serem malvadas, é certo – me passassem ao lado e não me afectassem minimamente. Preferia que me perguntassem se estou bem e se me sinto bem, em vez de perguntarem se já arranjei trabalho e outras coisas que tais. Mas tudo bem. Até porque tenho alguns objectivos em mente. E, se houve outra coisa que aprendi, foi que as pessoas não precisam de compreender. Esforcei-me por explicar os meus motivos e para fazê-las compreender o que me ia na mente e na alma, mas percebi que não valia a pena. Acho que importa, somente, que eu esteja ciente das coisas e de bem com a minha consciência. O que os outros possam pensar é irrelevante. Especialmente quando sei que tenho pessoas do meu lado.

O que me leva à segunda coisa que aprendi: que nós somos, de facto, capazes de tudo. Podemos não nos aperceber disso, principalmente se estivermos sozinhos. Mas, ao contrário das pessoas malvadas, existem aquelas que nos fazem ver estas coisas. Que fazem com que acreditemos em nós, que nos tranquilizam, que nos apoiam. Que percebem que foi necessário abandonar um ambiente tóxico para começar a reencontrar-me. Pessoas assim, quer eu conheça e fale com elas pessoalmente, quer eu não conheça e apenas leia os seus pensamentos e ideais em livros ou em publicações em blogs ou no Instagram, ajudam-me, todos os dias e sem elas sequer imaginarem, a construir esta motivação, esta esperança e confiança que eu há muito desejava para mim. Um pedacinho de cada vez. E isto, por seu turno, faz-me crer que, realmente, somos capazes de fazer tudo aquilo a que nos propusermos. Tudo para estarmos cada vez mais próximos da vida que queremos.

Tal como é dito vezes sem conta num livro de auto-ajuda que estou a ler agora – juro que não sei o que se anda a passar comigo para ler este tipo de livros; isto era impensável até há bem poucos meses, pois sempre detestei livros deste género –, a partir do momento em que passamos a tomar decisões por nós mesmos, a abandonar o que nos faz mal e a comprometermo-nos a aceitar quem somos e a gostar de quem somos, começamos a criar a nossa melhor versão. E sermos a nossa melhor versão faz-nos ser melhores, não só para nós próprios, mas também para os outros e para o mundo. Confesso que estou a gostar desta filosofia, mesmo que, se virmos bem, já faça parte do senso comum. O que muita gente, no entanto, não sabe e/ou não compreende – e, muitas vezes, nem sequer quer compreender – é que este caminho, para além de moroso, pode implicar uma rota inesperada ou fora do comum. Pode ser necessário dar um ou mais passos atrás, de forma a poder-se andar em frente. Mas, seja como for, acho que, no fim, irá sempre valer a pena.

12/12/18

Coisas que mudaram em mim #4


Comecei a gostar de me ver com óculos

Eu e óculos sempre tivemos uma relação complicada. Eu detestava-os por motivos óbvios: sentia-me feia e era alvo de troça. E eles, aparentemente, detestavam-me a mim, pois sempre foi – e ainda continua a ser – raro encontrar algum modelo que me assente e me favoreça minimamente – é a desvantagem de ter um rosto pequenino: a grande maioria dos modelos de óculos parece que me ocupa praticamente a cara toda.

Comecei a usar óculos quando tinha sete anos. Nessa altura, usar óculos não era assim tão comum entre as crianças, para além de que não existiam os modelos giros e modernos de hoje. Daí o facto de ser alvo de troça, e daí a razão de me sentir feia, uma vez que sempre me senti melhor sem eles. Até hoje, apenas gostei verdadeiramente de um dos meus óculos, que foram os que usei ao longo do secundário. Depois disso, partiram-se total e misteriosamente – mas as lentes mantiveram-se intactas; ainda hoje me pergunto como raio isso aconteceu –, e, como consequência, tive que arranjar outros como que “à pressão”, pois precisava de uns com a máxima urgência. Resultado: tive que me sujeitar aos poucos modelos que me apresentaram e tive que escolher à pressa. Quis que fossem o mais parecidos possível aos que se tinham partido, e assim foi. Mas, apesar de mais ou menos parecidos, não eram tão giros. No entanto, lá tive que me sujeitar.

Foi nesse ano que ganhei coragem e meti na cabeça que queria experimentar lentes de contacto. Apesar de ainda não estar cem por cento segura assim que entrei no consultório para a consulta de rotina, estava mesmo determinada a experimentar, pois, geralmente, quando meto uma coisa na cabeça, vou até ao fim.

Quis mudar para lentes de contacto por uma questão de auto-estima, e a verdade é que resultou e que elas fizeram milagres à minha baixa auto-confiança em relação à minha imagem, que tinha sido tão denegrida e posta para baixo ao longo dos anos, pelos estúpidos dos miúdos que resolviam troçar e dizer mal de mais uma “caixa d'óculos”. A adaptação não foi difícil, senti-me muito melhor comigo mesma e até fiquei toda contente por, finalmente, poder começar a usar óculos de sol.

É claro que quem usa lentes de contacto tem que usar óculos de qualquer maneira, e eu só os usava em casa ou quando tinha que ir a algum lado e não ia demorar nada – e, nesse caso, só desejava não me cruzar com algum conhecido. Continuava a não gostar deles; ainda para mais, depois começaram a surgir os óculos de massa, que eram bem mais giros e modernos e davam um ar mais jovem à pessoa, como se, de repente, usar óculos passasse a ser “fixe”. E os meus, em contrapartida, ainda eram “antiguinhos”.

No final do ano passado, a minha graduação aumentou, quando eu julgava estar estabilizada. Decepção, portanto. Mas, uma vez que necessitaria de lentes novas, resolvi aproveitar para adquirir também umas armações novas, de preferência umas giras de massa. Foi outra coisa que meti na cabeça: comprar uns óculos dos quais gostasse mesmo, para que não tivesse problema nenhum em usá-los fora de casa, quando não me apetecesse usar lentes, quando não me fosse demorar ou por outro motivo qualquer.

E, bem, se meti na cabeça, não desisti até conseguir. Surgiram alguns atritos: a maioria dos modelos era grande demais para o meu rosto; as minhas lentes eram muito fortes e grossas e, mesmo com a espessura mais reduzida, não poderiam ser encaixadas em qualquer modelo; depois era o factor preço, enfim. Mas lá consegui. E finalmente tenho uns óculos dos quais gosto realmente e com os quais, pela primeira vez na vida, não me sinto feia, a ponto de usá-los fora de casa sem qualquer problema – embora, claro, continue a preferir as lentes.

Noto, agora, que os óculos de massa parecem estar a desaparecer e que estão a ser substituídos novamente pelos modelos mais finos a que gosto de chamar de “antiguinhos”, nos quais os meus anteriores – todos eles – se incluem. Estou agora, portanto, fora de moda – outra vez – em questão de óculos, mas, honestamente, não me importo nada. Finalmente encontrei uns óculos que me assentam minimamente bem, com que me sinto bem e de que gosto, e não troco as minhas armações de massa por nenhuma outra.

08/12/18

Coisas boas do mês - Novembro de 2018

Via We Heart It.

Novembro passou demasiado rápido...ou será que foi só de mim?

06/12/18

Por que não falo do Natal


Não falo sobre o Natal porque não estou entusiasmada com isso.

E podia terminar esta publicação já aqui, mas não gosto de ficar com coisas por dizer, com receio de vir a ser mal interpretada ou incompreendida. É verdade que a última coisa que quero é voltar a tornar um blog meu num cantinho triste e deprimente, mas, às vezes, não dá para deixar de escrever sobre coisas menos felizes (prometo que não será sempre assim).

As coisas estão diferentes. Demasiado diferentes, na verdade, e tudo parece ter mudado para pior.

Eu adorava o Natal. Especialmente porque estava longe. Quando era Natal, era altura de regressar a casa. Costumava ficar tão contente quando via os primeiros anúncios de Natal na televisão e quando surgiam as primeiras luzes natalícias nas ruas. Era sinal de que estava quase a regressar, e fazer a mala para a viagem trazia-me uma felicidade indescritível. Era tão bom regressar a casa, à família, às pessoas de quem mais gostava, ao calor e ao conforto – e às comidas mais deliciosas. Era a altura de matar as saudades que me apertavam o coração desde o final do Verão.

No entanto, o Natal parece ter perdido o seu encanto por, simplesmente, já não existir este acto de regressar. Não apenas por isso, mas também por membros cruciais da minha família já não estarem presentes. Devido a estes dois motivos, o Natal passou a ser apenas mais uma data para mim. É como se já não me trouxesse calor e conforto, nem paz, nem grande entusiasmo.

Chega a dar-me uma certa tristeza, na verdade. Por tudo ser tão diferente agora. Os convívios em família parecem quase forçados, como se houvesse a obrigação de estarmos juntos apenas por ser Natal, quando, na verdade, nem tínhamos grande vontade de nos ver. Parece que existe aquela necessidade de se pintar o quadro da família feliz nesta época. Todo o consumismo acaba por me deixar triste também, como se fosse necessário dar um grande número de presentes para se demonstrar o quanto se gosta de uma pessoa. Aliás, parece que oferecer presentes é quase como uma obrigação também. E, por vezes, parece até que existe uma competição entre pessoas, para ver quem recebeu mais e quem teve os presentes mais caros.

Eu gostava de receber coisas que não bens materiais. Gostava que o Natal não fosse uma época quase de obrigações – obrigação de comprar presentes, obrigação de ver familiares que não vejo durante o resto do ano, obrigação de estar nos convívios de família com a máscara do está tudo bem e estou contente por estar aqui. Gostava de voltar a sentir paz e tranquilidade, conforto e aquele calorzinho tão bom no coração. Gostava de enfeitar a casa alegremente, em vez de ver o acto de enfeitar como mais uma obrigação, pois a minha vontade não é a de celebrar o que quer que seja. Gostava de estar feliz e tranquila no meu sofá e manta com as luzes da árvore a brilhar junto a mim enquanto tomava um chocolate quente e lia um bom livro, via um filme fofinho ou ficava a jogar na PlayStation durante todo o santo dia, com pausas ao longo do dia para comer coisas boas, como o nosso bolo de Natal (não, não é bolo-rei, é só o melhor bolo à face da Terra). Gostava de estar com as pessoas por gosto, e de ter um grande e genuíno sorriso na cara nessas ocasiões. Caraças, só gostava de me sentir feliz. Que o Natal me fizesse feliz novamente.

Eu só desejo que, um dia, as coisas voltem a ser diferentes, e que, desta vez, a mudança seja para melhor. Entristece-me ver e viver esta época desta forma. Desejo voltar a estar bem e tranquila comigo mesma, para que o espírito natalício volte a inundar-me o coração e para que eu consiga ver felicidade e conforto nesta época que costumava ser tão bonita para mim e que eu costumava adorar. E, com isto, dou por encerradas as minhas publicações sobre o Natal - deste ano, pelo menos.

29/11/18

Coisas que mudaram em mim #3


O Verão passou a ser a estação de que menos gosto

Havia dois motivos para o Verão ser a minha estação do ano preferida. Um: era época de férias – daquelas férias mesmo grandes. Dois: era época de ir imensas vezes à praia, e eu costumava adorar praia.

Creio que foi na minha viagem a Amesterdão, que já tem uns anitos, que comecei a gostar mais das estações frias. Estive lá num mês de Setembro. Ora, ainda é Verão em Setembro, suposta e oficialmente. No entanto, em Amesterdão, parecia que o Inverno já se tinha instalado. Não sei se isto por lá é normal nessa altura do ano ou se foi uma excepção e eu tive azar no que toca ao estado do tempo, mas estava mesmo imenso frio para meados de Setembro.

Não me queixei do frio nem do mau tempo, e apenas lamentei o facto de não ter levado roupa mais quente. Este imprevisto não fez com que não aproveitasse ou não gostasse da viagem, muito pelo contrário. Aliás, foi precisamente nestes dias que notei um certo encanto no facto de estar frio.

As pessoas não se importavam com o frio ou com a chuva. Andavam nas suas bicicletas como se nada fosse; como se o dia estivesse “normal”. E faziam-no com os seus longos sobretudos, com os seus cachecóis grossos e quentinhos, com os seus gorros. Achei tão elegante ver os locais assim, a andar de bicicleta com as suas roupas quentes de Inverno; foi como se, para mim, aquele tipo de roupa, que eu costumava não gostar por me deixar agoniada e por mal me conseguir mexer tais eram as camadas de tecido por cima de mim, se tornasse mais bonita. E elegante, e citadina, e quase como que “chique”.

Mas não foi apenas isso. O frio pedia espaços quentes, e cafés acolhedores, e bebidas quentes a aquecerem-nos as mãos. Já há muito tempo que sou apreciadora de chá e das mais variadas bebidas quentes com café, tanto que as prefiro – de longe – às bebidas frias, sejam elas típicas do Verão ou não. Soube-me tão bem ter um copo de cappuccino nas mãos enquanto esperava na fila para entrar no museu Van Gogh, ou tomar um chocolate quente assim que entrava no hostel, ou passar um tempinho entre visitas num café, abrigada da chuva e protegida contra o frio.

Os meus dois últimos Verões foram os piores que já tive. Acho que isso fez com que deixasse de gostar dessa estação. Cansei-me demasiado do calor, da claridade ofuscante e dos dias longos demais.

Considerando isto e os meus gostos pessoais, cheguei à conclusão de que as restantes estações do ano têm mais a ver comigo. No Verão, agrada-me não ter que pensar muito naquilo que vou vestir e que possa pôr apenas um vestidinho ou um macacão simples – felizmente não tenho complexos nenhuns no que toca ao corpo –, mas acho a roupa do tempo mais frio bem mais bonita e elegante, tanto que recentemente descobri a minha adoração pelos casacos de Inverno. O bom tempo e o calor sabem bem, e, com eles, um passeio pela natureza ou por algum lugar desconhecido ou uma tarde na esplanada, mas o calor em demasia é sufocante, e os próprios dias de sol radioso, quando muito frequentes e a seguir uns aos outros, acabam por me cansar. Nos dias mais frios, agradam-me os dias de chuva em que posso ficar em casa, pois a própria chuva convida-nos a ficar em casa. E, com isto, vêm as maratonas de episódios, as tardes ou os serões de filmes, a leitura compulsiva no sofá. Estas coisas não me sabem assim tão bem no Verão, porque o sol e o calor parecem “obrigar-me” a sair de casa para aproveitar o ar livre. Para além disso, quando os dias estão mais frios, tudo isto vem com o bónus delicioso de ser acompanhado por uma manta e uma grande caneca de chá bem quente. Como se estas coisas não bastassem, ainda existem os cafés acolhedores, tão aconchegantes e convidativos nesta altura do ano, nos quais sou capaz de perder horas, tanto acompanhada, quanto sozinha. Tomar uma bebida quente num espaço destes – preferencialmente com algo doce a acompanhar – aquece-me o coração, e não apenas por as bebidas serem deliciosas.

Para além de tudo isto, ainda há as mudanças na paisagem. Uma coisa que eu não noto, e que até me entristece, no lugar onde vivo, é precisamente isto, as alterações. Parece que tive que partir em viagens para notar, admirar e maravilhar-me com a mudança das estações na sua plenitude. Estive no Canadá numa Primavera e vi as árvores repletas de flores – as chamadas cherry blossoms. Estive, ainda há pouco tempo, por Lisboa e pelo Porto e foi raro não ver uma árvore que não tivesse folhas vermelhas, alaranjadas ou douradas, bem como não vê-las pelo chão. Já quando vivi no Porto não pude deixar de notar este tipo de mudanças; havia sempre árvores ao longo do caminho que fazia a pé, pelo que era impossível não reparar.

Mas é demasiado estranho eu viver numa terra repleta de árvores e não ser capaz de notar nada de diferente. Parece que se mantêm sempre verdes, como se o tempo não passasse por elas, não passasse por aqui. Eu apenas tinha consciência da mudança das estações e do próprio passar do tempo devido às mudanças na temperatura e ao número de horas de luz solar diárias. Agora que escrevo isto, para além de estar a sentir que isto é demasiado estranho e algo estúpido, pergunto-me se não terei andado a dormir durante estes anos todos, completamente fechada e alheia ao mundo em redor. Se assim foi, perdi demasiado. Mas acho que nunca é tarde para acordar.

Por isso, embora continue a gostar do sol e de algum calorzinho para poder aproveitar o ar livre, os longos passeios, a natureza, as esplanadas e as sombras das árvores, consigo admitir, finalmente, que as estações mais frias têm o seu encanto. Agora, só me falta ir à neve.

23/11/18

Trilogia Delirium, de Lauren Oliver

Se o amor fosse uma doença, aceitarias a cura?. Esta pergunta é o ponto de partida para esta trilogia, e foi a questão que me fez querer ler Delirium, o primeiro volume. Quando a vi, achei que era uma pergunta demasiado difícil de responder. Porque, quando se trata de doença, o que mais queremos é que desapareça, certo?

A história passa-se nos Estados Unidos, mas num mundo pós-apocalíptico, no século XXII. O amor é considerado uma doença. Tem um nome – amor deliria nervosa (adoro, por acaso) –, tem sintomas e tem um tratamento. Todos os cidadãos, ao completarem dezoito anos, são submetidos a este tratamento, um procedimento cirúrgico que os curará da doença do amor, tendo esta já se manifestado ou não. Tudo começou quando o amor começou a tomar conta das pessoas, levando-as como que a delirar, a cometer loucuras, e até mesmo a matar – a elas próprias ou a outros. Considerou-se que era a causa de todos os problemas da humanidade. Pelo que se começou a achar que, sem amor, as pessoas podiam viver de forma mais ordeira, estável e segura. Com isto, viria também o conforto e, em última instância, a felicidade.

Antes da cura, no entanto, os jovens têm ainda que passar por um outro processo, designado por avaliação, em que lhes são feitas perguntas e eles são avaliados consoante as suas respostas, obtendo uma determinada pontuação. Consoante as pontuações, cada dois jovens, um rapaz e uma rapariga, são “emparelhados”, ou seja, é criado um par. Estes dois jovens emparelhados, mesmo que não se conheçam, têm que, depois de curados do amor, se casar um com o outro, ter filhos e viver a dois. Têm apenas a opção de irem, ou não, para a universidade depois do procedimento cirúrgico; mas, depois de concluída esta etapa, são obrigados a casar.

Assim, depois de curados, os jovens deixam de sentir amor. No entanto, amor não é apenas aquele amor romântico entre homem e mulher, e a autora fez questão de deixar isto bem claro, o que me agradou. Implica, também, o amor entre amigos, entre familiares e, até, o amor pela própria vida, por tudo o que esta nos dá. As pessoas, após o tratamento, tornam-se autênticos zombies, apáticos e indiferentes, de olhares vazios e de movimentos mecanizados. Esquecem-se de tudo o que aconteceu antes da cura, como se os anos anteriores a ela tivessem sido uma vida passada, e é como se deixassem de sentir qualquer emoção. Deixam de as demonstrar, pelo menos. Quase que deixam de sorrir. Convivem com as pessoas - mesmo com os respectivos cônjuges - porque assim tem que ser, e não por gostarem delas, até porque deixa de existir o acto de gostar. Vivem focadas em ter filhos, na sua casa e no seu trabalho. Deixam de fazer coisas de que gostavam antes de serem curadas, até porque nem se lembram de alguma vez as terem feito. Portanto, deixam de sentir prazer e alegria em relação às coisas que antes lhes davam estas sensações. Até o simples acto de cantar ou de dançar se torna proibido neste mundo – e, caso aconteça, significa que a cirurgia não funcionou devidamente.

Mas o cenário não fica por aqui. Todas as cidades dos Estados Unidos são cercadas por muros ou por vedações, de modo que as pessoas desconhecem que existe um mundo para lá delas e nunca verão mais nada para além do sítio onde nasceram. Existe um recolher obrigatório e patrulhas nas ruas. A electricidade é quase um luxo, sendo o seu uso bastante ponderado e sendo esta usada só para o estritamente necessário. As pessoas, especialmente as não curadas, são constantemente observadas. Quem contrai a doença do amor ou quem é considerado um “simpatizante” para com o movimento de que se devia amar livremente ou que encobre as pessoas contagiadas pela doença vai preso ou é executado, e é visto com muitos maus olhos pela sociedade. Para além disso, só podem ler livros aprovados pelo governo e ouvir música igualmente aprovada. Muitos livros e muitas canções foram censuradas pelo governo, especialmente os que conhecemos nos dias de hoje, que falam sobre o amor. Temos como exemplo a All You Need Is Love, dos Beatles, que é referida no segundo volume da trilogia.

Um mundo de pesadelo, portanto. Mas os jovens crescem a ouvir histórias terríveis sobre o amor e acreditam piamente que, de facto, a cura poderá dar-lhes a segurança, a estabilidade, o conforto e a felicidade que tanto anseiam. Assim pensa Lena, a protagonista da história. Lena mal pode esperar pelo dia da sua cirurgia, principalmente porque se recusa a ter o mesmo destino que a mãe, que morreu vítima de amor deliria nervosa.

Mas tudo começa a mudar quando Lena conhece Alex.


05/11/18

Não sei quem és, mas espero por ti


Não me interessa qual será a cor dos teus olhos, mas espero que olhes para mim como não olhas para mais ninguém, como se eu fosse algo de incrível e de espantoso. Nem me interessa como será o teu cabelo, se serás apenas um pouquinho mais alto do que eu ou bastante mais alto. Porque, seja como for, acho que te vou achar tão giro e irresistível ao ponto de não conseguir tirar os olhos de ti.

Também não me vai interessar de onde vens, e com isto refiro-me não só ao local onde vives, como a todo o background que carregas contigo. Claro que vou querer saber tudo isso, mas essas coisas, sejam elas boas ou más, não vão fazer com que goste mais ou menos de ti. O mesmo se pode dizer em relação àquilo que fazes da vida e ao que fazem os teus pais. Assim como também não me vai interessar que curso, universitário ou não, acabaste por tirar, ou se chegaste a tirar algum. E também não me vai interessar o teu nome de família – especialmente porque eu manterei sempre o meu último nome, por mais que goste do teu (e por mais que eu goste de ti) –, mais propriamente se esse nome carrega alguma espécie de status.

Não, não me vai interessar nada disso. O que vai interessar é que me faças feliz. Que me faças sentir confortável, segura, bonita, leve e invencível quando estiver ao teu lado.

01/11/18

Coisas boas do mês - Outubro de 2018

Via We Heart It.

Outubro foi um mês algo estranho, talvez por ter sido um pouco diferente.

E digo diferente porque foi mais rotineiro. Por um lado, isto de ter sido rotineiro fez com que este mês fosse mais dentro da normalidade – se bem que a minha situação está um pouco longe de ser considerada “normal” –, e, por outro, fez com que não houvesse tantos momentos especiais e com que os dias fossem muito semelhantes.

30/10/18

Sem sonhos

Como é que as pessoas vivem sem sonhos?

Eu sei.

As pessoas sem sonhos, por não terem sonhos, vivem sem pensar a longo prazo. Sem pensar “para a frente”. Ou melhor, o único pensamento que têm “para a frente” tem a ver com a sua reforma. Pensam no quanto falta para a reforma. De resto, não pensam a longo prazo. Não pensam num amanhã, já que o amanhã será igual ao hoje. E isto porque não têm um objectivo a longo prazo, um sonho pelo qual lutar. Vivem um dia de cada vez, embaladas na sua rotina. Pensam no que têm que fazer a seguir – conduzir para o trabalho ou apanhar um transporte público, fazer as compras para a casa, fazer o jantar, fazer as tarefas domésticas; enfim, fazem aquilo que é preciso e que tem que ser feito. Eventualmente podem planear umas férias ou umas remodelações em casa, mas pouco mais. Não digo que vivam apáticas, mas sim que vivam sem pensar muito para além do que tem mesmo que ser feito para sobreviverem. É isso: vivem para sobreviver. Mas algumas dessas pessoas até são felizes assim. Talvez por a sua situação ser estável e confortável. Por acharem que é mais fácil viver assim do que com sonhos.

As pessoas sem sonhos podem não ter sido sempre assim desde o início. Podem ter nascido com sonhos, mas esses sonhos podem ter-se perdido ou morrido ou terem-lhes sido roubados ao longo do caminho. Devido às circunstâncias da vida, devido à rotina de sobrevivência que as embalou num abraço confortável, ou devido a pessoas que não as apoiaram na sua luta e lhes disseram que não seriam capazes.

Eu já tive sonhos. Lembro-me de tê-los tido.

Mas morreram.

Um deles talvez não tivesse sido realmente um sonho, pois desisti dele logo ao primeiro obstáculo e não quis continuar a lutar. Talvez não o tivesse querido mesmo. Um outro manteve-se durante mais tempo, até começar a desvanecer-se aos poucos devido à rotina de sobrevivência. Talvez não tenha morrido completamente e esteja apenas em estado de latência, à espera de um estímulo que o faça expressar-se de novo.

Seja como for, eu já os tive. Não sinto que tenha algum agora. Gostava de ter um. É possível isto, que nos forcemos a ter um sonho?

É que é tudo tão mais fácil quando se tem um sonho. Porque, ao tê-lo, sabemos o que queremos. Sabemos o que podemos e devemos fazer para o alcançar. Vivemos com esse objectivo, e com a esperança de que a vista seja linda quando chegarmos ao topo da montanha que nos propusemos subir. Porque, sim, também é tudo mais bonito quando se tem um sonho.

As pessoas sem sonhos ficam pelo chão, e algumas até nem se importam com isso, desde que (sobre)vivam felizes, estáveis e agradavelmente na sua pequena zona de conforto.

Mas há outras que se importam: aquelas para quem o chão não as faz felizes. Podem estar seguras, estáveis e confortáveis, a sobreviver sem grandes preocupações. Mas falta-lhes o mais importante. Falta-lhes sentirem-se felizes.

Acredito que um sonho as faria felizes. A mim, faria.

Porque um sonho daria sentido à vida, quando mais nada parece dar sentido. Um sonho daria algo pelo que lutar, quando não há mais nada digno de luta. Ir atrás de um sonho e concretizá-lo traria alegria, quando mais nada é capaz de a trazer.

E os dias não seriam apenas sobrevivência. Seriam o caminho para algo maior, melhor e feliz.

O sonho comanda a vida, não é assim?

29/10/18

Cabelo comprido é bom, mas curto é melhor

O antes (2017) e o agora.
Mantive o cabelo comprido durante anos, até ao dia em que me fartei.

Fartei-me de demorar tanto tempo a lavá-lo e a secá-lo e fartei-me que me incomodasse, de tal maneira que passei a apanhá-lo para tudo: primeiro, era só para lavar a cara e os dentes; depois, para estar ao computador a trabalhar; e, por fim, até para comer senti a necessidade de o apanhar. E, quando comecei a pensar no Verão e no calor, a ideia de cortar o cabelo tornou-se definitiva.

Confesso que, nos primeiros dias, detestei ver-me com o cabelo curto e arrependi-me de o ter cortado tanto. Mas, quando comecei a habituar-me, comecei a gostar. E, agora, adoro o meu cabelo curto. De tal maneira que só vejo vantagens nele.


23/10/18

Seguir o coração


Follow your heart é uma das minhas músicas favoritas dos Scorpions. Há uns dias atrás, andei com esta música em repeat, e, de todas as vezes que a ouvia, fazia-me pensar.

A música diz-nos para abrandarmos e ouvirmos o nosso coração. Diz-nos que basta apenas um passo para começar uma nova viagem, uma nova vida, e que cabe só a nós dar esse passo decisivo. Diz-nos que nunca é demasiado tarde – para dar o passo, para mudar, para seguirmos o nosso coração. Diz-nos que, assim, seguindo o nosso coração, sentir-nos-emos livres e em casa, em paz. Diz-nos que o futuro é incerto e que, por isso, não existe um caminho certo. No fundo, é uma canção de esperança no futuro e para combater o medo do desconhecido. Pelo menos, é isto que ela me diz e é desta forma que eu a interpreto.

Ouvi-la faz-me pensar imenso nestas questões. Acaba, até, por me dar uma certa esperança. Isto porque concordo com todas estas mensagens que ela me transmite. De todas as vezes que a ouço, confesso, fico com vontade de largar tudo, de pôr para trás das costas tudo o que não me faz feliz, que não me completa e que não me faz sentir realizada, e de seguir o meu coração, para variar.

Digo para variar, porque não o segui nas alturas das grandes decisões, e acho que isso se reflecte na forma como me sinto hoje. Não o fiz por medo. Medo do desconhecido e medo por tudo acabar por dar errado. Mas, também, por medo de desiludir quem me é próximo, e medo por, no fim, se tudo desse errado, ter que admitir a essas pessoas que tinham razão. Em suma, tinha medo de cometer um erro. Mas acho que, no final de contas, acabei por errar na mesma. O medo de cometer um erro fez-me cometer um erro de qualquer das formas, se é que isto faz sentido.

Uma outra coisa que a canção me diz é que este é o momento para eu ser livre. E este singelo verso enquadra-se tão bem na minha situação actual, que me faz pensar ainda mais – e faz-me pensar no quanto estou a ser parva. Porque eu podia aproveitar a situação em que estou para dar o tal derradeiro passo e mudar por completo. Em vez disso, parece que continuo a bater no ceguinho. Honestamente, acho que, se não for agora, não sei quando será.

A questão é que, se toda a gente – ou a grande maioria das pessoas – escolhe aquilo que quer e que a fará feliz e luta para o conseguir, sem medo do desconhecido ou de um possível falhanço e demorando o tempo que for preciso, então por que não hei-de eu fazer o mesmo?

16/10/18

Coisas boas do mês - Setembro de 2018

Via We Heart It.
Não deixa de ser um bocado estranho ainda escrever sobre Setembro quando já vamos a meio de Outubro, eu sei. Tenho mesmo que tentar escrever estas retrospectivas mais cedo.

11/10/18

Rotina


Depois de ter dito na empresa que queria sair quando acabasse o meu contrato, foi-me feita a proposta de continuar a realizar trabalhos para lá que correspondessem à minha área de formação, quando tal fosse necessário. Aceitei, não só para continuar a ganhar uns trocos, mas também para me manter minimamente ocupada. Desde aí, fui chamada algumas vezes para alguns trabalhos, e lá voltei à empresa durante uns dias para realizá-los.

Pensei que fosse sentir-me terrivelmente por ser obrigada a regressar a um lugar infeliz que me trouxe imensas lágrimas e imenso stress, mas a verdade é que me soube bem. Soube bem sentir-me ocupada, e tenho plena noção de que não me senti mal nesses regressos porque fiz única e exclusivamente o meu trabalho. Fi-lo calmamente, demorei as horas que foram necessárias, ninguém me incomodou e eu própria não tive que me levantar da secretária para fazer outras tarefas que não me competiam. E tudo isso fez a diferença. Trabalhar desta maneira não teve nada a ver com o que se passava anteriormente.

Isto deixou-me com saudades de trabalhar. Fez-me bem não apenas o trabalhar desta forma – que se revelou óptima –, mas também o simples acto de acordar cedo, de me arranjar, de sair para trabalhar e de chegar mais tarde a casa.

Estes dias deixaram-me com saudades de estar ocupada. Deixaram-me com saudades de estar contente por ser sexta-feira – se bem que, no último ano, os meus “fins-de-semana” começavam somente à uma da tarde dos sábados e as sextas-feiras eram dos piores dias, pelo que não dava propriamente para ficar contente (na verdade, durante o último ano eu nem dava conta de que era sexta-feira e do quanto esse dia costumava ser tão bom). Deixaram-me com saudades de contar os dias para as minhas férias e de poder dizer que estava de férias. E, oh, como eu adorava as minhas férias; especialmente porque costumavam ser em alturas em que quase ninguém estava de férias – eram a minha oportunidade de meter inveja, eheh.

Ouvir as pessoas a falar destas coisas – seja a falar sobre o seu trabalho (mesmo que falem mal), seja a ficar contentes por ser sexta-feira, seja a fazer qualquer referência a férias – também me deixa com saudades, e é quase como se deixasse uma sensação de vazio cá dentro. Eu costumava dizer que detestava rotinas e que cair numa seria das piores coisas que me podia acontecer, mas a verdade é que sinto falta de ter uma. Parece que, sem uma rotina, a vida fica sem um certo rumo. Eu, pelo menos, pareço que fico algo desorientada. É quase o mesmo que não ter um plano.

Por isso, de há uns dias para cá, dei por mim a criar uma espécie de rotina. Agora que ninguém daqui de casa está de férias, parece que acabei por entrar na onda de também fazer alguma coisa, em vez de vestir a pele de uma triste desempregada que só quer passar os dias a ver ofertas de emprego e a enviar currículos e que desespera por não encontrar nada ou por não ouvir resposta de ninguém.

Assim, comecei a acordar cedo. Comecei a passar as manhãs na biblioteca da universidade, a estudar as matérias da formação que ainda agora iniciei. A biblioteca faz-me ficar mais concentrada naquilo que estou a fazer do que se ficar em casa, para além de que me obriga a sair de casa, e o ter que sair de casa obriga-me a arranjar-me e a tirar os pijamas – e, para ser sincera, eu adoro bibliotecas, e desconhecia completamente que a da universidade daqui da terra fosse tão boa e tão acolhedora. Venho a casa almoçar, faço alguns afazeres de fada-do-lar e tomo o meu café nas calmas. Depois, à tarde, geralmente desenho. Escolho uma frase gira – tenho dezenas delas anotadas – e faço o esboço de um quadro, e assim vou praticando aquilo que aprendi no curso de lettering que fiz este Verão.

Não é uma rotina dita convencional, daquelas típicas rotinas de trabalho, mas a verdade é que, para além da procura de trabalho não estar a ser fácil, eu continuo algo perdida em termos profissionais e ainda com demasiada falta de confiança em mim mesma para exercer na minha área de formação. Assim, em vez de levar um dia de cada vez sem um plano ou sem uma rotina, levo um dia de cada vez mantendo-me ocupada, investindo em mim própria, estimulando-me. Intercalo isto com fins-de-semana de formação na minha área e com um ou outro dia de trabalho. É verdade que ainda não tenho um plano definido em termos daquilo que quero fazer da vida. Mas esta coisa da pseudo-rotina que acabei por criar é, para mim, totalmente diferente de estar “às aranhas” ou de estar em casa a “coçar a micose”. E isto chega a tranquilizar-me um pouco, nem que seja por breves momentos.

07/10/18

A rapariga parva que não aprendeu a lição

Esta é a história de uma rapariga parva que não teve uma grande vida amorosa, que acha que vai ficar sozinha para sempre e que ainda não aprendeu a lição.

Quando conheceu o seu actual ex-namorado, a rapariga parva achou-o algo chato, no sentido em que ele raramente a deixava em paz – ora eram comentários no perfil do hi5 (que era o que se usava na altura), ora ele começava a falar com ela assim que ela entrava no Messenger (que também se usava para caraças na altura e que não tem nada a ver com o que usa agora no telemóvel). A rapariga parva não estava habituada a ser alvo de tanta atenção, especialmente por parte de rapazes. Um dia, no meio de um grupinho de amigas e de algumas conhecidas, deu por si a comentar que achava o rapaz chato. Ela achava-o graça e até gostava dele, no fundo, mas não o queria admitir. A rapariga parva também não gostava de falar destas coisas.

Aconteceu que, uns dias mais tarde, uma dessas conhecidas do tal grupinho foi dizer ao rapaz que a rapariga parva o achava chato. O rapaz partiu para outra de uma forma demasiado rápida e inesperada, e a rapariga parva ficou destroçada. Deu por si a sentir falta daquela atenção que ele lhe dava; por outras palavras, deu por si a sentir falta do rapaz a ser, como ela dizia, “chato”. Só nessa altura a rapariga parva se apercebeu do quanto gostava do rapaz, e detestou-se a si própria não apenas por não ter reparado nisso mais cedo, mas também por não ter tido a coragem de o admitir.

Ela tinha a sensação, no entanto, de que o rapaz não gostava assim tanto da nova rapariga, pois achava que ninguém partia para outra de uma forma assim tão rápida e apenas por se ter sentido algo “ofendido” por ter sido chamado de chato. Assim, a rapariga parva continuou a falar com o rapaz como se nada fosse, sempre com a esperança de que as coisas se resolvessem e que o rapaz acabasse por cair em si e se apercebesse de que tinha feito mal em começar a andar com outra de repente. Inclusive, a conversa do “chato” veio à baila, e a rapariga parva fez os possíveis por se explicar.

As coisas acabaram por correr bem para a rapariga parva, no final de contas. Acabaram por ficar juntos. Mas toda aquela chatice podia ter sido evitada se a rapariga parva tivesse sido capaz de identificar os seus sentimentos e de falar sobre eles.

Algum tempo depois de esse namoro ter terminado e depois de ela ter sido magoada demasiado profundamente por um segundo rapaz, a rapariga parva começou a perder a esperança nos rapazes e no amor em geral. Um dia, foi a um jantar de aniversário e conheceu um rapaz que lhe pareceu porreirinho e interessante. Ela, no entanto, não lhe deu grande conversa, por receio e devido a alguma timidez. A rapariga parva nunca foi boa com pessoas que acabava de conhecer.


06/10/18

Vazio


Costumo sentir sempre uma espécie de vazio durante um fim-de-semana prolongado. Três dias de descanso podem servir para tanto. Podem ser como umas mini férias, uma quebra na rotina fantástica.

Gostava de ter a possibilidade de fazer mesmo isto em fins-de-semana prolongados: quebrar a rotina. Fazer algo de diferente. Gostava de viajar para algum lugar que não conheço e passar os três dias longe de casa, a passear, a visitar e a explorar uma nova cidade. Ou, então, sair da minha cidade e ir para um lugar mais próximo, passar os três dias num hotel ou a fazer turismo rural, em modo de relaxamento total. Sim, era mesmo este o tipo de coisa que gostava de fazer num fim-de-semana prolongado. Sair de casa e fugir à rotina seria, na minha opinião, a melhor forma de os aproveitar. Com alguém especial. Nem que esse alguém fosse apenas uma amiga.

O que me deixa com esta sensação de vazio é precisamente o facto de ter tantos planos, mas ninguém com quem os possa concretizar.

Por isso, e uma vez que só me tenho a mim própria como companhia – algo a que estou cada vez mais habituada –, dou por mim a passar os fins-de-semana prolongados como se fossem dias normais. Servem-me de companhia os meus lápis de desenho, a minha PlayStation e os meus livros e episódios – e o meu gato, se bem que este não me faz grande companhia, já que prefere ficar no seu canto. E não consigo evitar pensar no quanto isto é um desperdício. Não consigo evitar ficar algo triste por perder fins-de-semana prolongados desta maneira.

Resta-me pensar que, por enquanto, a vida é assim, e acreditar que, um dia, vou poder passar um ou vários fins-de-semana prolongados da forma que me parece mais perfeita e proveitosa possível, da forma como gostava e como gosto de imaginar. Tenho que ter alguma coisa a que me agarrar, não é assim?

24/09/18

Mundo de escuridão

Lê-se Let me be the sun in your world of darkness. Acho que não ficou assim tão perceptível.

"Setembro Amarelo” é o nome de uma campanha brasileira de prevenção do suicídio. Comecei a ouvir falar disto no ano passado. Sigo algumas artistas plásticas brasileiras – especialmente de lettering – no Instagram, e é comum, nesta altura do ano, fazerem um ou outro trabalho relacionado com este tema. Devido a esta onda do “Setembro Amarelo”, de ver diversos trabalhos e publicações acerca de depressão e de prevenção do suicídio, também eu me senti inspirada a desenhar a frase que ilustra esta publicação e a escrever isto.

Costumo refugiar-me na música quando estou triste. Passei a fazê-lo nos meus piores dias. Não gosto de dizer que foi depressão – estupidamente ou não, não sinto que “tenha o direito” de lhe chamar assim –, uma vez que não cheguei ao ponto de tomar medicamentos e que não foi profunda ao ponto de não me conseguir levantar da cama – embora tenha tido dias de folga em que, sim, passei horas e horas deitada, sem conseguir fazer o que quer que fosse. Mas foi como se tivesse estado “no início de” ou lhe tivesse “passado à tangente”. Isto posso dizer com toda a certeza.

Como disse, refugiava-me na música. Fazia-me sentir melhor. Nos piores dias, gostava, principalmente, de ouvir Draconian, Estatic Fear, Trees Of Eternity – cujo álbum ouvi vezes e vezes sem conta – ou Amorphis. Apenas para ter aqueles ritmos sombrios e melancólicos a ressoarem-me nos ouvidos. Depois, a certa altura, voltei a ouvir Evanescence, que tinha sido, durante anos, a minha banda favorita. Hoje, após ter voltado a ouvi-los, volto a dizer que são a minha banda favorita. Isto porque, desta vez, ouvi-os mesmo. Pareciam descrever o meu estado no momento e pareciam dar voz aos meus pensamentos. Deram-me força e puxaram-me para cima, mesmo quando aquilo que diziam através da música me dava vontade de chorar, por se adequar tão bem àquilo que sentia.

A frase que desenhei é, de facto, de uma música deles, Give Unto Me. Depressiva como tudo e triste até mais não. É como se fosse dedicada a alguém a passar por uma escuridão, muito provavelmente bem mais profunda do que a minha. A Amy, a vocalista, diz na canção que quer curar e salvar essa pessoa e pede-lhe que lhe “dê” todos os seus problemas e tudo o que a preocupa e a assusta. Na verdade, alterei um pouco a frase para que pudesse desenhá-la, uma vez que a frase original é Let it be the sun, sendo que o it se refere ao verso anterior da canção. Eu substituí o it por me, de forma a que seja uma mensagem para alguém. Let me be the sun in your world of darkness. Acho que se adequa. Porque quem está perdido e desesperado numa escuridão só quer um sol que o ajude, que o guie. Que esteja lá. Alguém com quem contar.

Acho bonitos os relatos daqueles que lutaram contra uma depressão por terem tido o apoio de pessoas; por terem tido pessoas com quem contar. Não, desta vez não estou a ser irónica. Acho mesmo bonito. Acho bonito existirem sóis na vida das pessoas, especialmente na vida de pessoas que vivem na escuridão. E acho principalmente bonito porque tudo o que eu quis, nos meus dias mais sombrios, foi um sol. E não o tive.

15/09/18

Coisas que mudaram em mim #2



Perdi a paciência para “fazer praia”.

Não me interpretem mal; adoro o mar e acho que este sentimento nunca irá embora. Gosto de estar à beira-mar, seja num café ou num restaurante, seja simplesmente a andar a pé. Gosto de me sentar na areia e ficar a observá-lo, quase como que hipnotizada pelo vai e vem das ondas e pelo som da rebentação. Gosto do cheiro a maresia no ar. E, para mim, dar um mergulho no mar é uma das melhores sensações do mundo.

Uma coisa é ir à praia de vez em quando, ir de propósito para dar um mergulho ou dois, ficar lá uma hora ou duas, no máximo, e ir embora. Outra coisa é “fazer praia”; ou seja, é passar diversas horas na praia ou um dia inteiro, ou ir à praia durante dias seguidos.

Vivo numa ilha, e, como tal, tenho mar a toda a volta. Posso vê-lo todos os dias, se assim o quiser, bem como posso ir à praia todos os dias, se for essa a minha vontade. Durante anos, fez-me impressão aquelas pessoas que viviam a quilómetros de distância do mar, que passavam horas em viagem para chegarem à praia mais próxima e que só conseguiam ir à praia meia dúzia de vezes – ou menos – num Verão inteiro. Isto porque, para mim, o mar e a praia sempre foram coisas banais e sempre estiveram acessíveis e a poucos minutos de distância.

E, por isso, devido ao facto de ir à praia ser tão normal e tão fácil para mim, fazia-o praticamente todos os dias durante as férias de Verão, e adorava. Tal como adorava passar horas e dias inteiros na praia, a aproveitar o mar e o sol.

Nos últimos anos, porém, comecei a cansar-me disto. Por outro lado, agora prefiro ir à praia apenas quando sinto mesmo aquela vontade e aquela saudade de um bom mergulho no mar, de sentir aquela frescura da água e aquela sensação de liberdade e de leveza. E, mesmo assim, mesmo quando isso acontece, contento-me em ficar apenas uma ou duas horas na praia. Mais do que isso torna-se desgastante. Fico farta do calor e cansada de estar sentada ou deitada na toalha durante muito tempo. Para além de ficar farta do barulho que fazem as pessoas à minha volta.

Ir à praia de manhã é óptimo, pois está muito mais calma. Num dia nublado, também é bom, pois, para além de estar calma, está menos calor e consigo ficar na toalha a ler. Numa tarde de Inverno, apenas para passear à beira-mar, também me sabe bem. Ir no Verão quando a vontade aperta, somente para dar um bom mergulho e ir embora pouco tempo depois, é mesmo perfeito para mim. Porque passar um dia inteiro na praia ou ir à praia por vários dias seguidos revelou-se-me uma completa perda de tempo. Sinto que desperdiço horas de vida entre o mar e a toalha, e este sentimento ainda é maior e mais frustrante quando passo grande parte do tempo na toalha, quase a dormir, completamente cansada do sol e do calor e farta de ouvir vozes à minha volta – ainda há pessoas que não têm a noção de espaço pessoal, que não compreendem que há gente que gosta de ir à praia para relaxar e que não controlam o volume de voz. Pior ainda é quando não tenho nem um guarda-sol, nem um livro.

Portanto, sim, continuo a gostar de praia no Verão, mas moderadamente. Apenas quando quero mesmo lá ir.

12/09/18

Coisas boas do mês - Agosto de 2018


Via WeHeartIt

Agosto teve momentos maus. A perda da minha tia, lutas interiores, pensamentos negativos. Momentos que me deixaram em lágrimas e que pareceram durar imenso tempo. Tanto tempo, ao ponto de eu pensar que foram apenas esses maus momentos que caracterizaram este mês. Fiquei, por isso, com a sensação de este mês não me ter trazido nada de bom. Ainda bem que me obriguei a fazer este exercício mental – e ainda bem que, por vezes, tiro fotos aleatórias com o telemóvel, pois é muitas vezes, ao vê-las, que me recordo dos melhores dias.