30/10/18

Sem sonhos

Como é que as pessoas vivem sem sonhos?

Eu sei.

As pessoas sem sonhos, por não terem sonhos, vivem sem pensar a longo prazo. Sem pensar “para a frente”. Ou melhor, o único pensamento que têm “para a frente” tem a ver com a sua reforma. Pensam no quanto falta para a reforma. De resto, não pensam a longo prazo. Não pensam num amanhã, já que o amanhã será igual ao hoje. E isto porque não têm um objectivo a longo prazo, um sonho pelo qual lutar. Vivem um dia de cada vez, embaladas na sua rotina. Pensam no que têm que fazer a seguir – conduzir para o trabalho ou apanhar um transporte público, fazer as compras para a casa, fazer o jantar, fazer as tarefas domésticas; enfim, fazem aquilo que é preciso e que tem que ser feito. Eventualmente podem planear umas férias ou umas remodelações em casa, mas pouco mais. Não digo que vivam apáticas, mas sim que vivam sem pensar muito para além do que tem mesmo que ser feito para sobreviverem. É isso: vivem para sobreviver. Mas algumas dessas pessoas até são felizes assim. Talvez por a sua situação ser estável e confortável. Por acharem que é mais fácil viver assim do que com sonhos.

As pessoas sem sonhos podem não ter sido sempre assim desde o início. Podem ter nascido com sonhos, mas esses sonhos podem ter-se perdido ou morrido ou terem-lhes sido roubados ao longo do caminho. Devido às circunstâncias da vida, devido à rotina de sobrevivência que as embalou num abraço confortável, ou devido a pessoas que não as apoiaram na sua luta e lhes disseram que não seriam capazes.

Eu já tive sonhos. Lembro-me de tê-los tido.

Mas morreram.

Um deles talvez não tivesse sido realmente um sonho, pois desisti dele logo ao primeiro obstáculo e não quis continuar a lutar. Talvez não o tivesse querido mesmo. Um outro manteve-se durante mais tempo, até começar a desvanecer-se aos poucos devido à rotina de sobrevivência. Talvez não tenha morrido completamente e esteja apenas em estado de latência, à espera de um estímulo que o faça expressar-se de novo.

Seja como for, eu já os tive. Não sinto que tenha algum agora. Gostava de ter um. É possível isto, que nos forcemos a ter um sonho?

É que é tudo tão mais fácil quando se tem um sonho. Porque, ao tê-lo, sabemos o que queremos. Sabemos o que podemos e devemos fazer para o alcançar. Vivemos com esse objectivo, e com a esperança de que a vista seja linda quando chegarmos ao topo da montanha que nos propusemos subir. Porque, sim, também é tudo mais bonito quando se tem um sonho.

As pessoas sem sonhos ficam pelo chão, e algumas até nem se importam com isso, desde que (sobre)vivam felizes, estáveis e agradavelmente na sua pequena zona de conforto.

Mas há outras que se importam: aquelas para quem o chão não as faz felizes. Podem estar seguras, estáveis e confortáveis, a sobreviver sem grandes preocupações. Mas falta-lhes o mais importante. Falta-lhes sentirem-se felizes.

Acredito que um sonho as faria felizes. A mim, faria.

Porque um sonho daria sentido à vida, quando mais nada parece dar sentido. Um sonho daria algo pelo que lutar, quando não há mais nada digno de luta. Ir atrás de um sonho e concretizá-lo traria alegria, quando mais nada é capaz de a trazer.

E os dias não seriam apenas sobrevivência. Seriam o caminho para algo maior, melhor e feliz.

O sonho comanda a vida, não é assim?

1 comentário:

  1. Eu não me considero uma pessoa com sonhos. Há coisas que quero, o "básico", ter uma casa, viajar, uma família mas não vejo isto como sonhos mas como objetivos. Não sei porquê...
    Porque não aproveitas esta fase para tentares novamente atingires os teus sonhos se ainda forem algo que gostasses de ter/fazer?

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