Depois
de ter dito na empresa que queria sair quando acabasse o meu
contrato, foi-me feita a proposta de continuar a realizar trabalhos
para lá que correspondessem à minha área de formação, quando tal
fosse necessário. Aceitei, não só para continuar a ganhar uns
trocos, mas também para me manter minimamente ocupada. Desde aí,
fui chamada algumas vezes para alguns trabalhos, e lá voltei à
empresa durante uns dias para realizá-los.
Pensei
que fosse sentir-me terrivelmente por ser obrigada a regressar a um
lugar infeliz que me trouxe imensas lágrimas e imenso stress, mas a
verdade é que me soube bem. Soube bem sentir-me ocupada, e tenho
plena noção de que não me senti mal nesses regressos porque fiz
única e exclusivamente o meu trabalho. Fi-lo calmamente, demorei as
horas que foram necessárias, ninguém me incomodou e eu própria não
tive que me levantar da secretária para fazer outras tarefas que não
me competiam. E tudo isso fez a diferença. Trabalhar desta maneira
não teve nada a ver com o que se passava anteriormente.
Isto
deixou-me com saudades de trabalhar. Fez-me bem não apenas o
trabalhar desta forma – que se revelou óptima –, mas também o
simples acto de acordar cedo, de me arranjar, de sair para trabalhar
e de chegar mais tarde a casa.
Estes
dias deixaram-me com saudades de estar ocupada. Deixaram-me com
saudades de estar contente por ser sexta-feira – se bem que, no
último ano, os meus “fins-de-semana” começavam somente à uma
da tarde dos sábados e as sextas-feiras eram dos piores dias, pelo
que não dava propriamente para ficar contente (na verdade, durante o
último ano eu nem dava conta de que era sexta-feira e do quanto esse
dia costumava ser tão bom). Deixaram-me com saudades de contar os
dias para as minhas férias e de poder dizer que estava de férias.
E, oh, como eu adorava as minhas férias; especialmente porque
costumavam ser em alturas em que quase ninguém estava de férias –
eram a minha oportunidade de meter inveja, eheh.
Ouvir
as pessoas a falar destas coisas – seja a falar sobre o seu
trabalho (mesmo que falem mal), seja a ficar contentes por ser
sexta-feira, seja a fazer qualquer referência a férias – também
me deixa com saudades, e é quase como se deixasse uma sensação de
vazio cá dentro. Eu costumava dizer que detestava rotinas e que cair
numa seria das piores coisas que me podia acontecer, mas a verdade é
que sinto falta de ter uma. Parece que, sem uma rotina, a vida fica
sem um certo rumo. Eu, pelo menos, pareço que fico algo
desorientada. É quase o mesmo que não ter um plano.
Por
isso, de há uns dias para cá, dei por mim a criar uma espécie de
rotina. Agora que ninguém daqui de casa está de férias, parece que
acabei por entrar na onda de também fazer alguma coisa, em vez de
vestir a pele de uma triste desempregada que só quer passar os dias
a ver ofertas de emprego e a enviar currículos e que desespera por
não encontrar nada ou por não ouvir resposta de ninguém.
Assim,
comecei a acordar cedo. Comecei a passar as manhãs na biblioteca da
universidade, a estudar as matérias da formação que ainda agora
iniciei. A biblioteca faz-me ficar mais concentrada naquilo que estou
a fazer do que se ficar em casa, para além de que me obriga a sair
de casa, e o ter que sair de casa obriga-me a arranjar-me e a tirar
os pijamas – e, para ser sincera, eu adoro bibliotecas, e
desconhecia completamente que a da universidade daqui da terra fosse
tão boa e tão acolhedora. Venho a casa almoçar, faço alguns
afazeres de fada-do-lar e tomo o meu café nas calmas. Depois, à
tarde, geralmente desenho. Escolho uma frase gira – tenho dezenas
delas anotadas – e faço o esboço de um quadro, e assim vou
praticando aquilo que aprendi no curso de lettering que fiz
este Verão.
Não
é uma rotina dita convencional, daquelas típicas rotinas de
trabalho, mas a verdade é que, para além da procura de trabalho não
estar a ser fácil, eu continuo algo perdida em termos profissionais
e ainda com demasiada falta de confiança em mim mesma para exercer
na minha área de formação. Assim, em vez de levar um dia de cada
vez sem um plano ou sem uma rotina, levo um dia de cada vez
mantendo-me ocupada, investindo em mim própria, estimulando-me.
Intercalo isto com fins-de-semana de formação na minha área e com
um ou outro dia de trabalho. É verdade que ainda não tenho um plano
definido em termos daquilo que quero fazer da vida. Mas esta coisa da
pseudo-rotina que acabei por criar é, para mim, totalmente diferente
de estar “às aranhas” ou de estar em casa a “coçar a micose”.
E isto chega a tranquilizar-me um pouco, nem que seja por breves
momentos.
Mudar por vezes faz-nos bem :)
ResponderEliminarLembro-me de ter estado desempregado e os almoços entre mim e o meu pai eram passados em silêncio depois de ele me perguntar:
ResponderEliminar" - Há novidades?"
Uma pessoa quer trabalhar mas não quer fazer algo que a deixe infeliz, tão pouco viver para esse mesmo trabalho. A procura revela-se tão má por vezes que uma pessoa chega a desejar nem sequer ter iniciado procura alguma :(
Mas é bom que tenhas conseguido ocupar o teu tempo com coisas que realmente te deixam feliz. Obviamente que é uma felicidade um tanto ou quanto agridoce visto o teu futuro incerto mas mesmo assim sempre é preferível do que estares em casa a romper pijamas e a sentir-te miserável.
Boa sorte :)
Percebo-te bem, quando estive em casa a acabar o mestrado e depois a procura de emprego a falta de rotina estava a dar cabo de mim. Sonos trocados, solidão e enxaquecas mensais. Era horrível por isso embora não seja a rotina que gostarias fazes bem em ter algo que te faça sair de casa e horários.
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