O
último álbum dos Paramore, After Laughter, lançado
em 2017, foi, para mim, uma masterpiece em termos de letras e
de mensagem que transmite. Para quem não conhece, todo o álbum e
qualquer uma das músicas é um desabafo, uma expressão de
sentimentos de quem se encontra num estado de depressão, ansiedade,
exaustão em relação à vida e ao mundo, e tantas outras coisas
semelhantes pelas quais cada um de nós, a certa altura, já passou.
O interessante é que, apesar da tristeza das letras, que foram tão
bem escritas e que expressam os sentimentos e a mensagem de uma forma
tão verdadeira e tão adequada à nossa realidade, a maior parte das
faixas vem até nós com uma sonoridade leve e um ritmo animado. É
quase como um “disfarce”: uma música com uma aparência alegre e
animada, capaz de nos pôr a mexer, mas com um “interior” – uma
letra – tão triste.
Engraçado
que uma das músicas chama-se Fake Happy e fala
precisamente deste assunto, mas, como não podia deixar de ser, em
relação às pessoas: o facto de se mostrarem felizes e de darem a
entender que se estão a sair bem na vida, quando, na verdade, vivem
tristes, vazias, revoltadas, desamparadas e tudo o mais que se possa
imaginar. Mas não o demonstram, preferindo viver atrás de uma
máscara de felicidade falsa. Acho engraçado porque a própria
música é como uma Fake Happy Song. É uma das
minhas favoritas do álbum, especialmente por causa da mensagem.
Aliás,
o que mais me fez gostar deste álbum foi mesmo a mensagem e as
letras, porque, no que toca à música em si, continuo a gostar mais
dos antigos Paramore, como muitos outros fãs. No entanto, foi como
se este álbum tivesse surgido numa altura de necessidade. Eu estava
num período muito mau quando foi lançado e quando o ouvi pela
primeira vez, pelo que a minha reacção às letras e a compreensão
das mesmas foram imediatas. Creio, até, que se não tivesse estado
assim, sentindo-me como no fundo do poço, completamente infeliz,
perdida, desamparada e sem encontrar qualquer propósito na vida,
nunca teria estimado este álbum desta maneira. Ter-me-ia passado
despercebido e não teria gostado dele, por não ter compreendido as
letras nem todos os sentimentos que transmitem.
Tal
como a música que falei acima nos diz, também eu já fui uma fake
happy, e penso que todos nós, a certo ponto, também já o
fomos. Existe, até, quem continue a sê-lo. É que era tão mais
fácil disfarçar e esconder o que se sentia e o que se passava cá
dentro; era tão mais fácil pôr uma máscara e fingir que estava
tudo bem. E era ainda mais fácil publicar fotografias aparentemente
felizes nas redes sociais. Só para que todos pensassem que estava
tudo bem, que eu também estava bem e feliz, tal como todos eles. No
entanto, há tanta coisa que uma fotografia não mostra. Há sempre
uma história por trás, e, por vezes, uma história tão diferente
da imagem que vemos. Podia estar a sorrir numa fotografia, mas estar
infeliz e sufocada por dentro. E ninguém o sabia. Como podiam saber?
E
pus de uma vez por todas na cabeça que, tal como as minhas
fotografias tinham a sua história e eram muito mais do que aquilo
que os outros viam, também as fotografias das outras pessoas o
deviam ser. Também teria que haver mais do que aquilo que mostravam,
pois parecia-me impossível estarem sempre felizes e terem uma vida
aparentemente perfeita e sem preocupações durante a maior parte do
tempo. É um conceito tão óbvio, mas custou-me tanto a entendê-lo.
Quando
comecei a ver as coisas com outros olhos e quando comecei a melhorar,
fui começando a deixar, aos poucos, esta questão de me comparar
constantemente com os outros e esta espécie de necessidade de dizer
e de mostrar que também estava tudo bem comigo. As redes sociais
conseguem ser completamente tóxicas neste sentido, mas, agora, já
nada disto me afecta. Porque, tal como aconteceu comigo, uma
fotografia pode ser muito mais do que aquilo que mostra. Ainda
existem muitos fake happy por aí. Mesmo que não o sejam, já
não invejo a sua felicidade. Pelo contrário, e isto até não deixa
de ser estranho para mim, até me sinto bem e leve com a felicidade
dos outros, especialmente das pessoas que conheço e/ou que admiro.
Ver pessoas felizes, genuinamente felizes e com vidas felizes,
faz-me, agora, pensar que um dia também chegarei lá.
Hoje,
sou mais uma genuína feliz do que uma falsa feliz.
Agora, nada do que eu publico nas redes sociais surge com o propósito
de disfarçar uma dor ou de esconder sofrimento. É tudo verdadeiro e
honesto, mas só até certo ponto.
É
que também existe a outra face da moeda: a parte do quanto é que
devemos mostrar. Eu acho um piadão a quem mostra tudo o que fez num
dia, a quem fotografa tudo e filma tudo só para toda a gente ver.
Não estou a ser irónica; acho mesmo piada. Especialmente quando se
tratam de viagens e é como se eu também estivesse ali ao lado. Não
vejo qual seja o propósito e não sei se se trata de exibicionismo,
mas também não me incomoda. Seja como for, é algo que não faço.
Pelo simples motivo de não ter a mínima pachorra para andar com o
telemóvel na mão e por preferir ver as coisas com os meus próprios
olhos, mesmo que mais ninguém as vá ver.
Assim,
ninguém sabe, por exemplo, quando e onde é que vou jantar fora.
Ninguém sabe dos passeios que faço aos fins-de-semana. Ninguém
sabe que roupa usei em determinado dia. Ninguém sabe se faço
compras. Ninguém sabe se também não faço exercício ou se também
não como comidas boas. Ninguém sabe, sequer, o que fiz este
fim-de-semana. Ninguém sabe se estou sozinha ou acompanhada. E nem
eu faço questão de que o saibam. São coisas que ficam apenas
comigo, e não partilhá-las nas redes sociais não significa que não
tenha uma vida mais ou menos boa nem mais ou menos interessante. É
melhor do que ser uma falsa feliz. Se porventura surge alguma
partilha, é genuína. E a (boa) história que existe por trás, bem,
essa só eu vou saber.