Já
faz algum tempo desde que terminei de ler A Filha da Floresta,
o primeiro volume da série Sevenwaters. E a razão de ainda
não ter vindo aqui falar sobre o livro ou escrever uma review
em condições foi o facto de ter ficado tão entusiasmada e
interessada pela série, o que fez com que, para além de me ter
deixado sem palavras e sem ideias para escrever uma opinião, me
atirasse logo ao segundo volume, O Filho das Sombras, que
estou a devorar bem mais rapidamente do que o primeiro.
Na
verdade, continuo sem grande inspiração para escrever uma review
sobre este livro. Prefiro, aliás, falar sobre o quanto gosto da
autora, Juliet Marillier.
Este
não foi o primeiro livro que li desta senhora. Já tinha lido uma
outra trilogia, Shadowfell, da qual gostei mesmo muito e sobre
a qual escrevi no meu antigo blog. Mas já nessa altura ouvia falar
de Sevenwaters – que é mais antiga do que a Shadowfell
–, e tudo o que lia sobre isso dava-me a entender que era uma série
bem melhor do que aquela que tinha acabado de ler.
O
facto de já ter lido esta outra trilogia da mesma autora fez com que
notasse alguns pontos comuns.
Juliet
Marillier é uma contadora de histórias encantadora. Para além da
forma como escreve e conta a história que estamos a ler, também é
capaz de inventar pequenas histórias dentro da história, histórias
de aventuras, de fantasia e romances de contos-de-fadas que se contam
ao redor de uma fogueira ou após um jantar. Tem uma imaginação tão
grande, e transmite as suas ideias de uma forma tão leve, clara e
cativante. Depois, há a forma como descreve a natureza, sejam
florestas ou campos, praias ou o vasto oceano. Descreve os lugares de
maneira a sentirmo-nos lá. Até os cheiros. O cheiro a papas de
aveia, o cheiro de infusões de ervas e tudo o mais parecem ser
transportados para a realidade, de tão bem descritos. Fala muito sobre árvores, ervas e
flores. Há magia nas suas histórias e criaturas de outro mundo, e
esses elementos são normais no mundo em que a história se passa. Em
termos de tempo, passam-se numa época antiga, que remete para o
medieval. Traz-nos personagens femininas fortes, corajosas, determinadas e
lutadoras, que normalmente são curandeiras. O ofício é relatado ao
pormenor, bem como os usos e propriedades de mais ervas e flores. Os
romances entre as personagens são descritos de uma forma tão subtil
e poética; não é necessário o uso de expressões directas para
percebermos que há algum sentimento entre personagens, pois isto é
simplesmente subentendido, como que lido nas entrelinhas. Até cenas
“picantes” são escritas de forma poética. Os livros são
escritos na primeira pessoa, mas a ligação que se estabelece com o leitor é tão forte e a linguagem é tudo menos infantil – e não é qualquer escritor que consegue essa proeza.
A
Filha da Floresta é baseada num conto dos irmãos Grimm, Os
Seis Cisnes. Apesar de não conhecer o conto na altura, tanto
isto como a sinopse na contra-capa do livro fizeram-me franzir um
pouco o nariz e hesitar em trazê-lo para casa. A verdade é que,
embora já tivesse ouvido falar tão bem da trilogia e de estar
ansiosa por lê-la, a sinopse reduziu as minhas expectativas. Isto
porque referia o cliché da madrasta má dos contos-de-fadas, que
lançava uma maldição sobre os irmãos da personagem principal, e
esta, depois disto, estava destinada a salvá-los. Pareceu-me tão
típico, um simples conto-de-fadas que não acrescentaria nada de
novo.
Mas
eu devia ter-me lembrado de que é de Juliet Marillier que estamos a
falar, e, ao ler as primeiras páginas e ao reconhecer tantos pontos
em comum com a minha adorada série Shadowfell, recordei o
quanto gostava desta autora e não foi preciso muito para me
embrenhar na história. Não é um conto-de-fadas, e não é típico
nem cliché. Há tanto que acontece, tanta coisa que muda o rumo da
história e que nos leva a perguntar o que se passará a seguir.
Fiquei
embrenhada na história logo no início, porque logo aí é-nos
apresentada a família de Sevenwaters, os sete filhos – seis
rapazes e uma rapariga – de um sétimo filho. São todos tão
diferentes, cada um com a sua particularidade, as suas
características, os seus gostos e as suas aptidões – que estão
tão bem definidos e que a autora faz sempre imensa questão de
realçar – e é notável o amor e a união que existem entre os
sete. Por acaso gostava que a questão da “madrasta má” e a sua
presença no seio da família tivessem sido mais desenvolvidas. A
partir de certo ponto, quando são dadas as condições para que os
irmãos da protagonista se libertem da maldição, achei que a
leitura fosse tornar-se aborrecida, mas não. O simples dia-a-dia da
personagem principal é bom e encantador de se ler, e a constante
mudança de ambiente e até a mudança das estações do ano foi algo
refrescante. Houve uma cena que me chocou um pouco, uma cena marcante
quase a meio do livro e que altera o rumo dos acontecimentos. Não
foi chocante propriamente pelo seu conteúdo, mas pela linguagem
utilizada – que foi muito bem empregue e a cena foi muito bem
descrita; talvez por isso se tenha tornado mais chocante ainda. E não
gostei do final, pois não estava à espera que acabasse daquela
maneira. Aliás, esperava que algumas das coisas acontecessem, mas
não outras. Portanto, não é um conto-de-fadas.
Mas
talvez seja devido a esse final que ficamos com a curiosidade aguçada
para o próximo volume da série. Foi o que me aconteceu. E até este
segundo livro, para além de um pouco diferente, está a ser ainda
mais interessante.
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