02/03/19

"A Filha da Floresta" ou O porquê de adorar Juliet Marillier


Já faz algum tempo desde que terminei de ler A Filha da Floresta, o primeiro volume da série Sevenwaters. E a razão de ainda não ter vindo aqui falar sobre o livro ou escrever uma review em condições foi o facto de ter ficado tão entusiasmada e interessada pela série, o que fez com que, para além de me ter deixado sem palavras e sem ideias para escrever uma opinião, me atirasse logo ao segundo volume, O Filho das Sombras, que estou a devorar bem mais rapidamente do que o primeiro.

Na verdade, continuo sem grande inspiração para escrever uma review sobre este livro. Prefiro, aliás, falar sobre o quanto gosto da autora, Juliet Marillier.

Este não foi o primeiro livro que li desta senhora. Já tinha lido uma outra trilogia, Shadowfell, da qual gostei mesmo muito e sobre a qual escrevi no meu antigo blog. Mas já nessa altura ouvia falar de Sevenwaters – que é mais antiga do que a Shadowfell –, e tudo o que lia sobre isso dava-me a entender que era uma série bem melhor do que aquela que tinha acabado de ler.

O facto de já ter lido esta outra trilogia da mesma autora fez com que notasse alguns pontos comuns.

Juliet Marillier é uma contadora de histórias encantadora. Para além da forma como escreve e conta a história que estamos a ler, também é capaz de inventar pequenas histórias dentro da história, histórias de aventuras, de fantasia e romances de contos-de-fadas que se contam ao redor de uma fogueira ou após um jantar. Tem uma imaginação tão grande, e transmite as suas ideias de uma forma tão leve, clara e cativante. Depois, há a forma como descreve a natureza, sejam florestas ou campos, praias ou o vasto oceano. Descreve os lugares de maneira a sentirmo-nos lá. Até os cheiros. O cheiro a papas de aveia, o cheiro de infusões de ervas e tudo o mais parecem ser transportados para a realidade, de tão bem descritos. Fala muito sobre árvores, ervas e flores. Há magia nas suas histórias e criaturas de outro mundo, e esses elementos são normais no mundo em que a história se passa. Em termos de tempo, passam-se numa época antiga, que remete para o medieval. Traz-nos personagens femininas fortes, corajosas, determinadas e lutadoras, que normalmente são curandeiras. O ofício é relatado ao pormenor, bem como os usos e propriedades de mais ervas e flores. Os romances entre as personagens são descritos de uma forma tão subtil e poética; não é necessário o uso de expressões directas para percebermos que há algum sentimento entre personagens, pois isto é simplesmente subentendido, como que lido nas entrelinhas. Até cenas “picantes” são escritas de forma poética. Os livros são escritos na primeira pessoa, mas a ligação que se estabelece com o leitor é tão forte e a linguagem é tudo menos infantil – e não é qualquer escritor que consegue essa proeza.

A Filha da Floresta é baseada num conto dos irmãos Grimm, Os Seis Cisnes. Apesar de não conhecer o conto na altura, tanto isto como a sinopse na contra-capa do livro fizeram-me franzir um pouco o nariz e hesitar em trazê-lo para casa. A verdade é que, embora já tivesse ouvido falar tão bem da trilogia e de estar ansiosa por lê-la, a sinopse reduziu as minhas expectativas. Isto porque referia o cliché da madrasta má dos contos-de-fadas, que lançava uma maldição sobre os irmãos da personagem principal, e esta, depois disto, estava destinada a salvá-los. Pareceu-me tão típico, um simples conto-de-fadas que não acrescentaria nada de novo.

Mas eu devia ter-me lembrado de que é de Juliet Marillier que estamos a falar, e, ao ler as primeiras páginas e ao reconhecer tantos pontos em comum com a minha adorada série Shadowfell, recordei o quanto gostava desta autora e não foi preciso muito para me embrenhar na história. Não é um conto-de-fadas, e não é típico nem cliché. Há tanto que acontece, tanta coisa que muda o rumo da história e que nos leva a perguntar o que se passará a seguir.

Fiquei embrenhada na história logo no início, porque logo aí é-nos apresentada a família de Sevenwaters, os sete filhos – seis rapazes e uma rapariga – de um sétimo filho. São todos tão diferentes, cada um com a sua particularidade, as suas características, os seus gostos e as suas aptidões – que estão tão bem definidos e que a autora faz sempre imensa questão de realçar – e é notável o amor e a união que existem entre os sete. Por acaso gostava que a questão da “madrasta má” e a sua presença no seio da família tivessem sido mais desenvolvidas. A partir de certo ponto, quando são dadas as condições para que os irmãos da protagonista se libertem da maldição, achei que a leitura fosse tornar-se aborrecida, mas não. O simples dia-a-dia da personagem principal é bom e encantador de se ler, e a constante mudança de ambiente e até a mudança das estações do ano foi algo refrescante. Houve uma cena que me chocou um pouco, uma cena marcante quase a meio do livro e que altera o rumo dos acontecimentos. Não foi chocante propriamente pelo seu conteúdo, mas pela linguagem utilizada – que foi muito bem empregue e a cena foi muito bem descrita; talvez por isso se tenha tornado mais chocante ainda. E não gostei do final, pois não estava à espera que acabasse daquela maneira. Aliás, esperava que algumas das coisas acontecessem, mas não outras. Portanto, não é um conto-de-fadas.

Mas talvez seja devido a esse final que ficamos com a curiosidade aguçada para o próximo volume da série. Foi o que me aconteceu. E até este segundo livro, para além de um pouco diferente, está a ser ainda mais interessante.

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