Tinha grandes
expectativas para este verão.
Primeiro
pensei que pudesse conciliar o meu trabalho em part-time com outro tipo de
trabalho. Mas já antes do verão começar havia desistido da ideia, e ainda bem
que o fiz, pois não o iria conseguir fazer.
Desisti da
ideia principalmente com o intuito de aproveitar melhor o verão. Esta era outra
das minhas grandes expectativas. Como passaria o verão a trabalhar num
part-time, achava que teria tempo livre de sobra para aproveitar. Imaginava-me
a ir à praia depois do trabalho, ou a ir a algum sítio, ou a ir passear por aí.
Mas, bem, sonhei demasiado alto. Mal aproveitei o verão. Isto também se deveu
ao estado do tempo, que foi bastante atípico para esta altura do ano. E a
outros factores que me foram alheios. No entanto, também tive a minha parte de
culpa. Quando realmente tive tempo livre para aproveitar, estava exausta e
esgotada do trabalho. A única coisa que me apeteceu foi ficar sozinha e em
silêncio. Não sei bem porquê, mas perdi completamente a vontade de ir à praia e
só pus os pés no mar uma vez no verão inteiro. Passeei pouco, e apenas o fiz
nas minhas folgas, pois, ao contrário do que tinha pensado, fazê-lo a seguir ao
trabalho tornou-se impossível – ora por causa do horário, que era incompatível
com outros planos, ora por causa da minha falta de paciência e de todo o
cansaço que se apoderava de mim e que se acumulava dia após dia. O verão passou
e eu mal dei por ele.
A minha
última grande expectativa era em relação ao trabalho. Acho que para lá fui com
as expectativas demasiado altas, com uma ideia ilusória do trabalho que seria.
Estava entusiasmada por voltar a trabalhar depois de meses parada, e também por
se tratar de algo novo e diferente. Estava com aquela esperança de vir a adorar
o trabalho e de ser uma boa profissional. Estava feliz por mim, porque tinha
resolvido arriscar e sair da zona de conforto; achava que a oportunidade me
faria crescer, mas que, mais do que isso, me deixasse realizada e satisfeita,
com vontade de continuar. E estava contente porque este novo trabalho me dava
uma “desculpa” para não procurar outra coisa e para não exercer na minha área
de formação.
Acontece que,
à medida que os dias vão passando, mais me convenço de que não é o tipo de
trabalho que me imagino a fazer durante muito tempo. Não considero que tenha o
perfil adequado, nem considero o trabalho como gratificante, nem sequer
estimulante. É verdade que, comparativamente ao meu antigo trabalho, as
condições são muito melhores e, apesar de ser em part-time, estou a ganhar
mais. Mas depois pergunto-me se o dinheiro compensará tudo o resto, em especial
as dores nos pés e todo o cansaço a nível físico.
De vez em
quando, e sei que isto é estúpido e nem sei por que o faço, dou por mim a
comparar este trabalho com o meu trabalho anterior. É verdade que ganhava mal e
que as pessoas muitas vezes lixavam-se umas às outras e que eu via o meu
trabalho desvalorizado. Detestava não poder andar arranjada, não poder usar a
minha própria roupa e não ter dois dias completos de descanso. Mas eu sabia
qual era o meu papel e o que tinha que fazer. Tinha confiança naquilo que fazia
e no meu trabalho. E não era apenas “mais uma”. Era a única com determinadas
funções, e isso dava-me uma boa sensação, no final de contas.
Este novo
trabalho é tão diferente e estranho para mim. Não é só o facto de ser pouco
estimulante e de não contribuir em nada para mudar a vida de alguém – eu até
achava que podia lidar com isso, pois estava completamente cega pela ideia de trabalho é só trabalho, posso fazer qualquer coisa desde que me paguem no
final do mês. É a questão de ser pouco organizado, coisa a que eu não estava
habituada. É o facto de o estado do tempo ter influência nele, coisa que me
irrita. É a questão de lidar com o público, coisa que eu achava que seria bom
para mim e que me faria sair da zona de conforto, mas que só me relembra o
quanto eu detesto pessoas e o quanto gosto de trabalhar sozinha num cantinho. E
o facto de eu, lá, não ser “eu”. O “eu” que trabalha ali é o “eu” tímido,
acanhado, retraído e inseguro, que está sempre ansioso pela hora de ir para
casa e de não olhar mais para trás. Nada a ver com o “eu” confiante e
brincalhão que se desenvolveu anteriormente. O “eu” que hoje ainda se manifesta
junto das pessoas com quem tenho mais confiança e à-vontade. Com estes novos
colegas de trabalho e neste novo ambiente, não me sinto da mesma forma que era
antes.
Este contrato
de trabalho foi de apenas poucos meses e está, agora, perto do fim.
Honestamente, por um lado, fico contente que esteja a terminar, mas, por outro,
não consigo evitar sentir toda aquela angústia de novo – a aflição de não ter
para onde ir, de ficar desamparada. É por isso que, se surgir a oportunidade de
renovação, não saberei o que responder. Não queria que isto fosse apenas um
“emprego de verão”. Mas isto era porque estava com as expectativas demasiado
altas, certa de que me iria dar bem, que iria gostar do trabalho, que iria
querer ficar e que encontraria algo para muito tempo. Sinto-me mal se levar
isto apenas assim, como um “emprego de verão”, uma experiência. Porque, se assim for, pergunto-me para que serviu tudo isto. Porque parece
que tenho a obrigação de levar isto para a frente, uma vez que já cheguei até
aqui, que passei nos testes de selecção e consegui o trabalho. E também por não
querer como que desiludir toda a gente de novo, por não conseguir aguentar-me
num emprego por muito tempo, por nunca me sentir bem em lado nenhum. É
estúpido, eu sei, mas são as parvoíces que a minha mente me faz crer.