17/09/19

Expectativas


Tinha grandes expectativas para este verão.

Primeiro pensei que pudesse conciliar o meu trabalho em part-time com outro tipo de trabalho. Mas já antes do verão começar havia desistido da ideia, e ainda bem que o fiz, pois não o iria conseguir fazer.

Desisti da ideia principalmente com o intuito de aproveitar melhor o verão. Esta era outra das minhas grandes expectativas. Como passaria o verão a trabalhar num part-time, achava que teria tempo livre de sobra para aproveitar. Imaginava-me a ir à praia depois do trabalho, ou a ir a algum sítio, ou a ir passear por aí. Mas, bem, sonhei demasiado alto. Mal aproveitei o verão. Isto também se deveu ao estado do tempo, que foi bastante atípico para esta altura do ano. E a outros factores que me foram alheios. No entanto, também tive a minha parte de culpa. Quando realmente tive tempo livre para aproveitar, estava exausta e esgotada do trabalho. A única coisa que me apeteceu foi ficar sozinha e em silêncio. Não sei bem porquê, mas perdi completamente a vontade de ir à praia e só pus os pés no mar uma vez no verão inteiro. Passeei pouco, e apenas o fiz nas minhas folgas, pois, ao contrário do que tinha pensado, fazê-lo a seguir ao trabalho tornou-se impossível – ora por causa do horário, que era incompatível com outros planos, ora por causa da minha falta de paciência e de todo o cansaço que se apoderava de mim e que se acumulava dia após dia. O verão passou e eu mal dei por ele.

A minha última grande expectativa era em relação ao trabalho. Acho que para lá fui com as expectativas demasiado altas, com uma ideia ilusória do trabalho que seria. Estava entusiasmada por voltar a trabalhar depois de meses parada, e também por se tratar de algo novo e diferente. Estava com aquela esperança de vir a adorar o trabalho e de ser uma boa profissional. Estava feliz por mim, porque tinha resolvido arriscar e sair da zona de conforto; achava que a oportunidade me faria crescer, mas que, mais do que isso, me deixasse realizada e satisfeita, com vontade de continuar. E estava contente porque este novo trabalho me dava uma “desculpa” para não procurar outra coisa e para não exercer na minha área de formação.

Acontece que, à medida que os dias vão passando, mais me convenço de que não é o tipo de trabalho que me imagino a fazer durante muito tempo. Não considero que tenha o perfil adequado, nem considero o trabalho como gratificante, nem sequer estimulante. É verdade que, comparativamente ao meu antigo trabalho, as condições são muito melhores e, apesar de ser em part-time, estou a ganhar mais. Mas depois pergunto-me se o dinheiro compensará tudo o resto, em especial as dores nos pés e todo o cansaço a nível físico.

De vez em quando, e sei que isto é estúpido e nem sei por que o faço, dou por mim a comparar este trabalho com o meu trabalho anterior. É verdade que ganhava mal e que as pessoas muitas vezes lixavam-se umas às outras e que eu via o meu trabalho desvalorizado. Detestava não poder andar arranjada, não poder usar a minha própria roupa e não ter dois dias completos de descanso. Mas eu sabia qual era o meu papel e o que tinha que fazer. Tinha confiança naquilo que fazia e no meu trabalho. E não era apenas “mais uma”. Era a única com determinadas funções, e isso dava-me uma boa sensação, no final de contas.

Este novo trabalho é tão diferente e estranho para mim. Não é só o facto de ser pouco estimulante e de não contribuir em nada para mudar a vida de alguém – eu até achava que podia lidar com isso, pois estava completamente cega pela ideia de trabalho é só trabalho, posso fazer qualquer coisa desde que me paguem no final do mês. É a questão de ser pouco organizado, coisa a que eu não estava habituada. É o facto de o estado do tempo ter influência nele, coisa que me irrita. É a questão de lidar com o público, coisa que eu achava que seria bom para mim e que me faria sair da zona de conforto, mas que só me relembra o quanto eu detesto pessoas e o quanto gosto de trabalhar sozinha num cantinho. E o facto de eu, lá, não ser “eu”. O “eu” que trabalha ali é o “eu” tímido, acanhado, retraído e inseguro, que está sempre ansioso pela hora de ir para casa e de não olhar mais para trás. Nada a ver com o “eu” confiante e brincalhão que se desenvolveu anteriormente. O “eu” que hoje ainda se manifesta junto das pessoas com quem tenho mais confiança e à-vontade. Com estes novos colegas de trabalho e neste novo ambiente, não me sinto da mesma forma que era antes.

Este contrato de trabalho foi de apenas poucos meses e está, agora, perto do fim. Honestamente, por um lado, fico contente que esteja a terminar, mas, por outro, não consigo evitar sentir toda aquela angústia de novo – a aflição de não ter para onde ir, de ficar desamparada. É por isso que, se surgir a oportunidade de renovação, não saberei o que responder. Não queria que isto fosse apenas um “emprego de verão”. Mas isto era porque estava com as expectativas demasiado altas, certa de que me iria dar bem, que iria gostar do trabalho, que iria querer ficar e que encontraria algo para muito tempo. Sinto-me mal se levar isto apenas assim, como um “emprego de verão”, uma experiência.  Porque, se assim for, pergunto-me para que serviu tudo isto. Porque parece que tenho a obrigação de levar isto para a frente, uma vez que já cheguei até aqui, que passei nos testes de selecção e consegui o trabalho. E também por não querer como que desiludir toda a gente de novo, por não conseguir aguentar-me num emprego por muito tempo, por nunca me sentir bem em lado nenhum. É estúpido, eu sei, mas são as parvoíces que a minha mente me faz crer.

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