Acredito que tudo aquilo que
vivemos, em especial as coisas e as fases menos boas, constituem experiências.
Formas de a vida nos mostrar que não devemos cometer aquele mesmo erro ou tomar
aquela mesma decisão. Cada experiência vem com uma aprendizagem, uma lição.
Cada experiência faz-nos crescer. Acrescenta-nos sempre algo, desenvolve-nos
enquanto pessoas. Por vezes, molda-nos e transforma-nos, muda-nos.
Passei os últimos quatro meses
a trabalhar numa companhia aérea, e praticamente dois meses antes disso a ter
formação para tal. Ter estado do lado que não o do passageiro fez-me ter uma
noção totalmente diferente do mundo da aviação. Fez-me ver que é mais duro,
mais stressante, mais louco e mais desorganizado do que aquilo que parece. Que os atrasos
dos voos não são culpa da companhia – por vezes podem ser culpa de uma única
pessoa que resolve chegar atrasada à sala de embarque. Que as pessoas que
viajam podem ser muito desagradáveis – entre outras coisas que prefiro não
mencionar –, e por vezes sem motivo algum. Fez-me ficar com receio de planear
alguma viagem, especialmente devido a atrasos relacionados com avarias nos
aviões – que nunca sabemos quando poderão acontecer –, devido à possibilidade
de perder um voo de ligação – que é o mais provável quando o primeiro voo sai
bastante depois da hora estipulada – e devido à possibilidade de não receber a
minha bagagem de porão no destino – que, sim, acontece mais frequentemente do
que se pensa. Isto também me leva a querer levar exclusivamente uma mala de
cabine nas próximas viagens, mesmo que não vá numa low-cost.
Quando penso, no entanto, em aspectos
desta experiência que me acrescentaram algo e me fizeram crescer e evoluir
enquanto pessoa, bem, não consigo encontrar nenhum. E isso é demasiado
estranho. Sempre consegui encontrar algo de bom, alguma lição valiosa ou alguma
aprendizagem para a vida em todas as experiências menos boas que tive até
agora. Não encontrar nada quase faz parecer que a experiência não passou de uma
perda de tempo. Apenas me vi a retroceder.
Parecia um déjà-vu. Parecia que estava novamente na
universidade, numa turma pequenina onde não me conseguia integrar lá muito bem
e onde não conseguia ter tanto à-vontade. Parecia que os colegas mais velhos
eram os abutres trajados das praxes, de quem uma pessoa estava sempre com um
certo receio e de quem se sabia que o mais certo era ouvir alguma boquinha.
Parecíamos os caloirinhos ou os estagiários que fazem aquilo que mais ninguém
quer fazer. Eu vi-me a ser novamente uma miúda tímida e pouco segura. Quando
tudo o que queria era ter saído da minha zona de conforto, fazendo algo que
nunca fiz e arriscando em algo novo. E estava tão entusiasmada em relação a
isso, achando que, finalmente, estava no bom caminho e que as coisas iam
começar a correr bem.
Mas parece que tudo o que
aprendi com esta experiência, para além de todas aquelas tretas sem importância
sobre aviação que disse acima, foi que, em primeiro lugar, não vale a pena
forçar-me a trabalhar com pessoas e a gostar de pessoas, porque, quanto mais
dias se passavam e quanto mais eu lidava com o público, mais me apercebia do
quanto detesto pessoas. É tão mau dizer-se que não se gosta de pessoas; no fim
de contas, somos todos pessoas, somos todos seres feitos para socializar e eu
própria sou uma pessoa. Mas enfim.
E, em segundo lugar, que não
existem empregos perfeitos, nem ambientes de trabalho perfeitos. Que existem
sempre prós e contras em qualquer lugar. Que o dinheiro não é tudo. Ora o
salário é bom, mas o trabalho não nos estimula nem nos satisfaz; ora o trabalho
é desafiante ou faz-se bem, mas o salário não lhe faz jus. E que, em qualquer
lado, existem falhas de comunicação. Que existem pessoas más, venenosas e
desagradáveis, mas também pessoas boas, gentis e prestáveis.
Talvez, no fim de contas, o
importante não seja o não estar parado, o estar a fazer alguma coisa. Talvez o
importante não seja ganhar bem. O importante será sentirmo-nos bem. Estarmos
bem. No máximo, sermos felizes.
Mas…como raio podemos saber o
que nos fará sentir melhor e o que nos fará felizes? Se não passarmos pela
experiência, como saberemos? E se a experiência nos desilude e não corresponde
às expectativas? E se acaba por nos deixar infelizes? Pois…
A verdade é que, se não
tivesse passado por esta experiência, nunca saberia se gostaria ou não. Continuaria
a pensar no assunto. Mais vale passar pelas coisas do que nunca experimentar e
ficar na incerteza, a pensar em todas as possibilidades. No entanto, com tudo
isto, voltei à estaca zero. E não tenho dúvidas de que não me sinto preparada
para mais uma temporada de incertezas. O que sei é que não consigo sentir-me
bem, tranquila e em paz comigo mesma estando assim, na incerteza, sem um plano
ou um rumo definido e que me motive. E encontrar uma motivação ou um simples
plano sempre foi o meu grande problema.