19/11/19

Intenções

Os últimos dias - pelo menos alguns deles - não têm sido propriamente bons. Estar novamente desempregada e no mesmo exacto ponto em que estava no ano passado, precisamente nesta altura do ano, começou a pôr-me para baixo. Andei desanimada e triste – ainda ando, num dia ou noutro. Até senti necessidade de pegar num caderno e escrever aquilo que sentia e em que estava a pensar. É verdade que não gostei muito de trabalhar onde trabalhei agora estes últimos meses e que também não gostei muito do trabalho em si, mas estar sem fazer nada faz-me sentir impotente. Pior do que não fazer nada, é não ter um plano. Ou não ter motivação para pôr mãos à obra e traçar um plano. Tudo isto torna-se frustrante. E mais frustrante é pensar que, se devemos acreditar que tudo está a acontecer como é suposto e que tudo acontece por um motivo, então por que motivo está o universo a pôr-me na mesma situação que há um ano atrás e qual foi o motivo de me ter feito passar por uma experiência que pouco me trouxe de positivo?

Tentar procurar uma resposta para esta pergunta, não saber para onde me virar nem conseguir decidir o que fazer a seguir e ter esta sensação de não contribuir para nada, de me sentir inútil e impotente – tudo isto me desanima e põe para baixo e deixa a minha mente num turbilhão, como se nela estivesse um furacão e várias ideias e coisas negativas a colidir violentamente umas contra as outras. Mas, tal como depois dos furacões e das tempestades vem a bonança, também na minha mente surgem momentos de calma e de clareza. Por vezes, com uma minúscula centelha de esperança a brilhar bem ao longe. Isto tudo quando eu própria me permito acalmar-me.

Continua a ser verdade que não tenho um plano traçado, e que nem estes breves momentos de calma vêm com um plano que mudará a minha vida ou com um sonho fantástico à espera de ser realizado. Mas tenho intenções, e talvez este seja um primeiro passo para não perder a esperança.

07/11/19

Experiências

Via We Heart It

Acredito que tudo aquilo que vivemos, em especial as coisas e as fases menos boas, constituem experiências. Formas de a vida nos mostrar que não devemos cometer aquele mesmo erro ou tomar aquela mesma decisão. Cada experiência vem com uma aprendizagem, uma lição. Cada experiência faz-nos crescer. Acrescenta-nos sempre algo, desenvolve-nos enquanto pessoas. Por vezes, molda-nos e transforma-nos, muda-nos.

Passei os últimos quatro meses a trabalhar numa companhia aérea, e praticamente dois meses antes disso a ter formação para tal. Ter estado do lado que não o do passageiro fez-me ter uma noção totalmente diferente do mundo da aviação. Fez-me ver que é mais duro, mais stressante, mais louco e mais desorganizado do que aquilo que parece. Que os atrasos dos voos não são culpa da companhia – por vezes podem ser culpa de uma única pessoa que resolve chegar atrasada à sala de embarque. Que as pessoas que viajam podem ser muito desagradáveis – entre outras coisas que prefiro não mencionar –, e por vezes sem motivo algum. Fez-me ficar com receio de planear alguma viagem, especialmente devido a atrasos relacionados com avarias nos aviões – que nunca sabemos quando poderão acontecer –, devido à possibilidade de perder um voo de ligação – que é o mais provável quando o primeiro voo sai bastante depois da hora estipulada – e devido à possibilidade de não receber a minha bagagem de porão no destino – que, sim, acontece mais frequentemente do que se pensa. Isto também me leva a querer levar exclusivamente uma mala de cabine nas próximas viagens, mesmo que não vá numa low-cost.

Quando penso, no entanto, em aspectos desta experiência que me acrescentaram algo e me fizeram crescer e evoluir enquanto pessoa, bem, não consigo encontrar nenhum. E isso é demasiado estranho. Sempre consegui encontrar algo de bom, alguma lição valiosa ou alguma aprendizagem para a vida em todas as experiências menos boas que tive até agora. Não encontrar nada quase faz parecer que a experiência não passou de uma perda de tempo. Apenas me vi a retroceder.

Parecia um déjà-vu. Parecia que estava novamente na universidade, numa turma pequenina onde não me conseguia integrar lá muito bem e onde não conseguia ter tanto à-vontade. Parecia que os colegas mais velhos eram os abutres trajados das praxes, de quem uma pessoa estava sempre com um certo receio e de quem se sabia que o mais certo era ouvir alguma boquinha. Parecíamos os caloirinhos ou os estagiários que fazem aquilo que mais ninguém quer fazer. Eu vi-me a ser novamente uma miúda tímida e pouco segura. Quando tudo o que queria era ter saído da minha zona de conforto, fazendo algo que nunca fiz e arriscando em algo novo. E estava tão entusiasmada em relação a isso, achando que, finalmente, estava no bom caminho e que as coisas iam começar a correr bem.

Mas parece que tudo o que aprendi com esta experiência, para além de todas aquelas tretas sem importância sobre aviação que disse acima, foi que, em primeiro lugar, não vale a pena forçar-me a trabalhar com pessoas e a gostar de pessoas, porque, quanto mais dias se passavam e quanto mais eu lidava com o público, mais me apercebia do quanto detesto pessoas. É tão mau dizer-se que não se gosta de pessoas; no fim de contas, somos todos pessoas, somos todos seres feitos para socializar e eu própria sou uma pessoa. Mas enfim.

E, em segundo lugar, que não existem empregos perfeitos, nem ambientes de trabalho perfeitos. Que existem sempre prós e contras em qualquer lugar. Que o dinheiro não é tudo. Ora o salário é bom, mas o trabalho não nos estimula nem nos satisfaz; ora o trabalho é desafiante ou faz-se bem, mas o salário não lhe faz jus. E que, em qualquer lado, existem falhas de comunicação. Que existem pessoas más, venenosas e desagradáveis, mas também pessoas boas, gentis e prestáveis.

Talvez, no fim de contas, o importante não seja o não estar parado, o estar a fazer alguma coisa. Talvez o importante não seja ganhar bem. O importante será sentirmo-nos bem. Estarmos bem. No máximo, sermos felizes.

Mas…como raio podemos saber o que nos fará sentir melhor e o que nos fará felizes? Se não passarmos pela experiência, como saberemos? E se a experiência nos desilude e não corresponde às expectativas? E se acaba por nos deixar infelizes? Pois…

A verdade é que, se não tivesse passado por esta experiência, nunca saberia se gostaria ou não. Continuaria a pensar no assunto. Mais vale passar pelas coisas do que nunca experimentar e ficar na incerteza, a pensar em todas as possibilidades. No entanto, com tudo isto, voltei à estaca zero. E não tenho dúvidas de que não me sinto preparada para mais uma temporada de incertezas. O que sei é que não consigo sentir-me bem, tranquila e em paz comigo mesma estando assim, na incerteza, sem um plano ou um rumo definido e que me motive. E encontrar uma motivação ou um simples plano sempre foi o meu grande problema.