13/05/20

Diários da quarentena #4 - Kit de sobrevivência

Ao longo deste período de isolamento, recorri a alguns truques que me permitiram enfrentá-lo de uma forma melhor, menos negativa e mais esperançosa. Apesar de muita gente já não estar em confinamento, estes truques ainda se aplicam a mim, e talvez poderão resultar ou ajudar alguém.


Tirar o pijama
Sou fã do pijama e não o tirava quando estava em casa. Adoptava o pensamento de Se não vou sair hoje, para quê vestir-me?, ou vestia-o logo após tomar banho, que fazia mal chegava a casa. No entanto, ao ficar sem trabalho, passar a maioria dos dias em casa de pijama chegava a fazer-me mal. Deitava-me muito abaixo e eu sentia-me como que doente e, até, inútil. Para que isto não acontecesse durante as semanas em que teria que ficar em casa devido à pandemia, comecei a substituí-lo por roupa. Não apenas “roupa de andar por casa”, mas mesmo por calças – desde que confortáveis; calças skinny são impensáveis para se estar em casa – e por uma camisola qualquer. Desde que me sentisse quentinha e confortável e que conseguisse mexer-me à vontade – claro que escolhia a roupa consoante as actividades que faria no dia. Confesso que o robe – que, sim, continuo a usar porque ainda sinto frio e a minha casa é igualmente fria – era um dos meus maiores entraves, porque me incomodava na maioria dos afazeres e fazia com que me sentisse pior, mais triste e com ar de “doente”. Sinto-me muito melhor desde que comecei a vestir-me para estar em casa, até porque me dá uma pequena sensação de normalidade.

Acordar cedo
Era uma rotina que implementava há uns tempos, mas, depois, a preguiça começou a falar mais alto e desleixei-me. No entanto, sempre me senti melhor quando acordava cedo, ou melhor, quando tinha um horário regular para acordar. Os dias ficavam maiores, rendiam mais e eu tinha mais energia. Como tal, foi um hábito que voltei a implementar neste período. Tal como o do pijama, é algo que confere alguma normalidade e que me faz sentir muito melhor. E quem diz horários regulares para acordar, diz também para dormir.

Planear o dia…
Como disse na primeira publicação desta série, deixei a minha agenda ao abandono por falta de planos e de compromissos, o que me deixou um pouco triste porque tinha tanto empenho nela e tanto carinho por ela, por ser enorme e ter imenso espaço para escrever. Assim sendo, voltei a pegar nela para começar a planear os meus dias, e agora fico satisfeita por vê-la novamente bastante preenchida. Vou anotando as tarefas que tenho para fazer, os progressos que vou fazendo em algo, defino os dias para as limpezas, para o pilates e para fazer comida, por exemplo, e anoto outras coisas, como, por exemplo, ideias para publicações e para desenhos ou uma lista de livros que quero ler. Sempre me dei bem com planeamentos e com anotações, e já muitos dizem que escrever os nossos objectivos, mesmo que sejam apenas tarefas a curto prazo, dá uma sensação de propósito e deixa a pessoa mais motivada. Comigo, de facto, é o que acontece. E, assim, mantenho-me muito entretida e ocupada, em vez de perder tempo nas redes sociais ou a pensar no que poderia fazer – e acabando por não fazer nada.

…e as refeições
É outra coisa que me tem ajudado muito – e acredito que à minha mãe também. Nunca tive o hábito de planear as refeições, excepto quando estava na universidade e tinha que repartir a comida que levava de casa e que não dava para muito. Mas adoptei-o agora, para que eu e a minha mãe não tivéssemos que ir ao supermercado muitas vezes. E para que, quando o fizéssemos, soubéssemos exactamente o que comprar. Definindo as refeições para vários dias, sabemos, de antemão, quais os ingredientes que precisamos ter em casa.
Enquanto nutricionista, já elaborei algumas ementas, pelo que juntei estes ossos do ofício para planear ementas cá para casa. O truque principal é ir alternando entre carne, peixe e refeições com leguminosas; por vezes, também fazemos uma refeição de ovos mexidos ou umas simples tostas porque assim apetece. E, assim, também não caímos naquele stress, que antes era habitual, de não saber o que fazer para o jantar.
Ao irmos menos frequentemente às compras e tendo em conta o espaço limitado do congelador, temos optado imenso por enlatados e por alternativas à carne, como a soja. E, graças a isso, estamos a reduzir bastante o nosso consumo de carne e a testar novas alternativas e novos pratos. Confesso que tudo isto – de planear e de experimentar novas receitas – está a dar-me um gozo enorme, e com certeza continuarei a implementar estes hábitos daqui para a frente.

Fazer com que nenhum dia seja igual ao outro
Isto vem na sequência da dica do planeamento. A partir de meados de Março e durante todo o mês de Abril, tentei fazer com que os dias não fossem todos iguais (e agora, em Maio, continuo a fazê-lo). Para não cair não só na monotonia, mas também no desespero. Porque, muito honestamente, eu nunca iria aguentar passar vários dias seguidos no sofá a ver filmes ou séries. Se passo uma tarde, já me sinto inútil. O que iria pensar se passasse um ou mais dias inteiros? Da mesma maneira, também daria em doida se tudo o que fizesse para ocupar o tempo fossem actividades produtivas. Tal como também já falei anteriormente, é impossível ser-se produtivo o tempo todo.
Tento sempre conciliar e equilibrar as coisas. Por exemplo, num dia, juntar tarefas domésticas e uma actividade criativa. Noutro, pilates e actividades mais relaxantes para compensar o esforço, como ler ou ver um filme. Noutro, estudar ou aprender algo e caprichar na cozinha. Penso que é mais importante, equilibrado e motivante do que passar o dia inteiro à volta de uma tarefa ou actividade.

Fazer o que se gosta sem pensar na produtividade
Esta até pode ter sido – ou pode ainda estar a ser – uma altura para as pessoas descobrirem novos hobbies, aprenderem algo novo ou dedicarem-se a outras coisas, mas ninguém é obrigado a agir assim. Ninguém é obrigado a ser produtivo numa altura destas só porque está mais tempo em casa. É verdade que eu tenho desenhado muito e escrito muito, mas estas são coisas que sempre gostei de fazer. E, se agora tenho mais tempo e se o futuro é incerto, então por que não fazê-las? Estou a fazê-las porque gosto e faço-as por mim, não para ser produtiva ou mostrar aos outros que estou a ser produtiva. Até porque sempre as fiz toda a vida. O mais importante nesta altura é, a meu ver, fazer o que se gosta. Não só o tempo passa mais rápido, como não começamos a passar-nos nem a entrar em stress.

Afastar a negatividade
Não ver notícias o tempo todo para não desanimarmos e acumularmos mais stress – esta é uma das dicas mais batidas por aí, pelo que nem vale a pena aprofundá-la. E manter o pensamento de que isto não vai durar para sempre e que tudo é temporário. Acredito no quanto isso pode ser difícil – já passei muito tempo, há uns anos, completamente sem esperança e sem ver luzes ao fundo do túnel. Ajuda-me muito seguir pessoas inspiradoras e positivas que têm sempre uma mensagem optimista, mas realista ao mesmo tempo. Sim, dependendo do nosso estado de espírito e se estivermos num “dia não”, pode ser extremamente irritante ver pessoas optimistas com as suas mensagens de luz e de arco-íris. Mas acho fundamental tentar ver as coisas de outra forma, reflectir nessas mensagens, observar como nos sentimos, tentar alterar a nossa perspectiva. Ver toda esta situação sob um prisma de medo e negatividade só nos deixará mais para baixo. A mente treina-se, tal como tudo o resto. É um treino muito penoso, frustrante e demorado, mas que vale muito a pena.

2 comentários:

  1. Isto é o oposto do que tenho feito ahah. Pijama ou fato de treino têm sido a minha fatiota, por mais confortáveis que as minhas calças sejam eu chego a casa e dispo-me para estar confortável então não ia ser agora que ia andar vestida embora entenda bem porque muita gente o tem feito nesta altura. E os meus dias têm sido muito iguais, não tenho grandes hobbies e a preguiça que já era muita só aumentou nestes meses.
    Vou sofrer no regresso ao normal.

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    1. Eu também fazia logo isso mal chegava a casa, ia directa para o banho para vestir os meus pijamas ahaha xD Mas uma coisa é trocares para pijama/fato de treino depois de chegares a casa e de teres estado todo o dia com outra roupa...outra coisa é passares o dia inteiro, e vários dias seguidos, sempre de pijama ou fato de treino, e isso para mim não dá, começo a bater mal ahaha xD Também tenho dias de mais preguiça, faz parte xD Mas, quando são muitos, tenho que começar a combatê-la xD

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