27/01/19

Luz


Terminei 2018 e comecei 2019 a fazer uma das coisas que mais gosto: ler. Dito assim, até parece que passei a meia-noite a ler, mas, para ser realmente explícita, passei as tardes e finais de tarde de ambos os dias – trinta e um de Dezembro e um de Janeiro – a ler o mesmo livro.

Não foi A Filha da Floresta que andei a ler nesses dois dias, livro que se encontrou até há bem pouco tempo na minha mesa-de-cabeceira. A verdade é que comecei a ler um outro livro ao mesmo tempo que lia esse, coisa que pode ser completamente normal para algumas pessoas, mas que eu nunca tinha feito. Sempre achei que ler dois ou mais livros ao mesmo tempo acaba por levar a pessoa a perder-se e a confundir as histórias. E apenas o fiz porque este segundo livro, que estava a ler a par com A Filha da Floresta, não era um romance, mas sim um livro de auto-ajuda.

Sempre detestei livros de auto-ajuda. Nunca consegui ler um do início ao fim, pois, a certa altura, aquilo começava a deprimir-me e a fazer-me ver o quanto a minha vida era uma porcaria. Comigo, portanto, os livros de auto-ajuda não exerciam o seu propósito: em vez de me ajudarem, só “desajudavam”. E devo também salientar que todos esses livros que eu tentei ler me foram oferecidos. Por isso, é como se realmente nunca tivesse lido um livro deste género por minha vontade.

No ano passado, no meu aniversário, a minha irmã ofereceu-me o famoso A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da – e parece que, depois de o ter lido (sim, eu li-o do início ao fim!) começaram a abundar fotografias do livro nas redes sociais, como se, de repente, tivesse virado moda...enfim. E este foi o primeiro livro de auto-ajuda – se é que lhe podemos chamar assim – que eu fui capaz de ler. Capaz de ler sem me sentir mal, sem achar que a minha vida era uma porcaria. Principalmente porque gostei das ideias do autor e da forma como expôs as coisas. Olhando agora para trás, no entanto, acho que eram ideais demasiado “radicais” e que nos eram apresentados de forma algo radical também, como bofetadas. Mas gostei bastante de o ler na altura. Pode não ter propriamente ajudado e ter feito com que me sentisse melhor e mais alegre e optimista, mas sem dúvida que não “desajudou” e que foi uma leitura bastante agradável.

Mas não foi este o livro de auto-ajuda que esteve comigo no final de 2018 e no início de 2019. Foi um outro, que eu resolvi adquirir, por minha iniciativa – e aproveitando uma promoção da Wook, como é óbvio. Não vou dizer o nome, até porque já acho demasiado embaraçoso admitir que quis comprar e que li um livro de auto-ajuda, quanto mais confessar qual deles li. Não me julguem.

Ter encontrado este livro foi como ter desenterrado um tesouro. E o mais engraçado foi que pareceu ter sido descoberto por mim precisamente na altura certa. Se tivesse começado a lê-lo uns meses antes, teria desistido logo nas primeiras páginas. Teria dito que tudo aquilo era uma parvoíce, que a autora devia viver num mundo à parte e que devia tê-lo escrito sob o efeito de alguma droga, porque ninguém pensa ou pode pensar e viver daquela maneira. Até acho que, mesmo agora depois de o ter lido, qualquer pessoa que eu conheço, sejam elas amigas, familiares ou meros conhecidos, achariam que aquilo que está no livro é uma estupidez pegada. Poderiam, até, me perguntar como e por que razão li aquilo. A verdade é que nem eu sei. Só sei que, no momento em que descobri o livro, soube que tinha que o ter.



É o oposto d'A Arte Subtil (…). Por isso, nem sei como gostei dele. Nem sei por que quis comprá-lo. Mas fi-lo, e li-o com carinho e alegria. A cada virar de página, vinha um sorriso e uma centelha de esperança em como tudo iria ficar bem. A grande maioria do que ali estava escrito fez total sentido para mim, e faz-me acreditar que, de facto, adoptar aqueles passos e aquela maneira de pensar e de encarar a vida no nosso dia-a-dia levará a uma vida mais feliz. Foi, sem dúvida, um livro de auto-ajuda que realmente ajudou. E acho que isto aconteceu porque eu, desta vez e contrariamente a quando comecei a ler outros livros de auto-ajuda, estava mesmo disposta a ser “ajudada” e disposta a mudar e a melhorar.

Não quer isto dizer que agora sou uma pessoa toda zen e feliz, com a vida com que sempre quis e que agora está tudo bem. Quer dizer que concordo com muitas das coisas que a autora expõe, e que, por isso, estou a tentar trazê-las para a minha vida. Entre muitas coisas, este livro fez-me ver que o medo, por mais “bicho-papão” que possa ser, pode ser visto como uma espécie de amigo, um sinal de que estamos a ir pelo caminho certo. Coisa que não podia ter vindo na melhor altura, pois, tal como disse numa outra publicação, este ano darei uma espécie de salto de fé e sairei da minha zona de conforto. E, aí, o medo espreita.

Como não podia deixar de ser, este livro também aborda questões de amor-próprio e incentiva ao pensamento positivo. Coisas às quais nunca prestei a devida atenção, por, lá está, achar serem parvoíces. O livro mudou a minha forma de pensar em relação a estes aspectos. E ensinou-me a confiar. Não em mim mesma – ainda há um longo caminho a percorrer nesse sentido –, mas no timing das coisas. Em como tudo acontecerá exactamente como é suposto. Em como o melhor virá, se eu me livrar daquilo que não me preenche ou não me faz feliz.

Podia escrever linhas inteiras sobre tudo o que a autora apresenta e com que eu concordo. Mas também A Arte Subtil (…) me fez ver coisas interessantes. Algo que ambos os livros têm em comum, apesar de serem o oposto um do outro, é concordarem com o facto de a dor fazer parte do nosso processo de crescimento e que esta nos dá lições valiosas. Já antes de ler os livros tinha-me deparado com diversas frases e textos neste sentido, na altura em que toda a dor se apoderou de mim e levou a melhor. Na verdade, se não tivessem sido aqueles acontecimentos e dias e semanas dolorosos, eu não seria a pessoa que sou hoje.

E houve outras coisas n'A Arte Subtil (…) com as quais concordei e de que me lembrarei sempre. Nem todos somos especiais e extraordinários, e não temos todos que o ser, embora pareça que a sociedade nos exija precisamente isso, que sejamos e tenhamos sempre mais e melhor, como se competíssemos uns com os outros. E a própria vida não tem que ser sempre uma série de grandes acontecimentos, daqueles dignos de publicações e de fotografias nas redes sociais. Lembro-me especialmente de, nesta parte do livro, o autor tomar a alimentação como exemplo. Escreveu algo como na vida não existirem apenas Big Macs e que não podemos comer só Big Macs, por muito que queiramos. Também temos que comer os legumes e aprender a gostar dos legumes. E os “legumes”, nesse caso, são as pequenas coisas, as coisas simples e aparentemente insignificantes e sem importância do nosso dia-a-dia, que, no fundo, são as coisas que mais preencherão a nossa vida. Para além de serem as mais importantes. Lembro-me que um dos exemplos que o autor deu dessas “coisas”, desses “legumes”, foi, precisamente, um bom livro.

Guardo, por isso, comigo, pensamentos, ideais e formas de encarar a vida apresentados por ambos os autores, apesar de tão diferentes um do outro. Coisas com as quais concordo e que tento, ao máximo, transpor para a vida real e para o meu dia-a-dia. Mesmo que seja difícil. Mesmo que mais ninguém concorde comigo. Desde que consiga estar bem e em paz. E feliz. Porque, afinal, vão por onde forem, é este o grande objectivo de todos nós. É isso que realmente importa. E nem me importo que, enquanto alguns o conseguem sozinhos, eu tenha necessitado e continue a necessitar de palavras de terceiros para tal. No fundo, torna-se bonito ajudarmo-nos e inspirarmo-nos uns aos outros.

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