Terminei
2018 e comecei 2019 a fazer uma das coisas que mais gosto: ler. Dito
assim, até parece que passei a meia-noite a ler, mas, para ser
realmente explícita, passei as tardes e finais de tarde de ambos os
dias – trinta e um de Dezembro e um de Janeiro – a ler o mesmo
livro.
Não
foi A Filha da Floresta que andei a ler nesses dois dias, livro que
se encontrou até há bem pouco tempo na minha mesa-de-cabeceira. A
verdade é que comecei a ler um outro livro ao mesmo tempo que lia
esse, coisa que pode ser completamente normal para algumas pessoas,
mas que eu nunca tinha feito. Sempre achei que ler dois ou mais
livros ao mesmo tempo acaba por levar a pessoa a perder-se e a
confundir as histórias. E apenas o fiz porque este segundo livro,
que estava a ler a par com A Filha da Floresta, não era um romance,
mas sim um livro de auto-ajuda.
Sempre
detestei livros de auto-ajuda. Nunca consegui ler um do início ao
fim, pois, a certa altura, aquilo começava a deprimir-me e a
fazer-me ver o quanto a minha vida era uma porcaria. Comigo,
portanto, os livros de auto-ajuda não exerciam o seu propósito: em
vez de me ajudarem, só “desajudavam”. E devo também salientar
que todos esses livros que eu tentei ler me foram oferecidos. Por
isso, é como se realmente nunca tivesse lido um livro deste género
por minha vontade.
No
ano passado, no meu aniversário, a minha irmã ofereceu-me o famoso
A Arte Subtil de Saber Dizer que se F*da – e parece que,
depois de o ter lido (sim, eu li-o do início ao fim!) começaram a
abundar fotografias do livro nas redes sociais, como se, de repente,
tivesse virado moda...enfim. E este foi o primeiro livro de
auto-ajuda – se é que lhe podemos chamar assim – que eu fui
capaz de ler. Capaz de ler sem me sentir mal, sem achar que a minha
vida era uma porcaria. Principalmente porque gostei das ideias do
autor e da forma como expôs as coisas. Olhando agora para trás, no
entanto, acho que eram ideais demasiado “radicais” e que nos eram
apresentados de forma algo radical também, como bofetadas. Mas
gostei bastante de o ler na altura. Pode não ter propriamente
ajudado e ter feito com que me sentisse melhor e mais alegre e
optimista, mas sem dúvida que não “desajudou” e que foi uma
leitura bastante agradável.
Mas
não foi este o livro de auto-ajuda que esteve comigo no final de
2018 e no início de 2019. Foi um outro, que eu resolvi adquirir, por
minha iniciativa – e aproveitando uma promoção da Wook, como é
óbvio. Não vou dizer o nome, até porque já acho demasiado
embaraçoso admitir que quis comprar e que li um livro de auto-ajuda,
quanto mais confessar qual deles li. Não me julguem.
Ter
encontrado este livro foi como ter desenterrado um tesouro. E o mais
engraçado foi que pareceu ter sido descoberto por mim precisamente
na altura certa. Se tivesse começado a lê-lo uns meses antes, teria
desistido logo nas primeiras páginas. Teria dito que tudo aquilo era
uma parvoíce, que a autora devia viver num mundo à parte e que
devia tê-lo escrito sob o efeito de alguma droga, porque ninguém
pensa ou pode pensar e viver daquela maneira. Até acho que, mesmo
agora depois de o ter lido, qualquer pessoa que eu conheço, sejam
elas amigas, familiares ou meros conhecidos, achariam que aquilo que
está no livro é uma estupidez pegada. Poderiam, até, me perguntar
como e por que razão li aquilo. A verdade é que nem eu sei. Só sei
que, no momento em que descobri o livro, soube que tinha que o ter.
É
o oposto d'A Arte Subtil (…). Por isso, nem sei como gostei
dele. Nem sei por que quis comprá-lo. Mas fi-lo, e li-o com carinho
e alegria. A cada virar de página, vinha um sorriso e uma centelha
de esperança em como tudo iria ficar bem. A grande maioria do que
ali estava escrito fez total sentido para mim, e faz-me acreditar
que, de facto, adoptar aqueles passos e aquela maneira de pensar e de
encarar a vida no nosso dia-a-dia levará a uma vida mais feliz. Foi,
sem dúvida, um livro de auto-ajuda que realmente ajudou. E acho que
isto aconteceu porque eu, desta vez e contrariamente a quando comecei
a ler outros livros de auto-ajuda, estava mesmo disposta a ser
“ajudada” e disposta a mudar e a melhorar.
Não
quer isto dizer que agora sou uma pessoa toda zen e feliz, com a vida
com que sempre quis e que agora está tudo bem. Quer dizer que
concordo com muitas das coisas que a autora expõe, e que, por isso,
estou a tentar trazê-las para a minha vida. Entre muitas coisas,
este livro fez-me ver que o medo, por mais “bicho-papão” que
possa ser, pode ser visto como uma espécie de amigo, um sinal de que
estamos a ir pelo caminho certo. Coisa que não podia ter vindo na
melhor altura, pois, tal como disse numa outra publicação, este ano
darei uma espécie de salto de fé e sairei da minha zona de
conforto. E, aí, o medo espreita.
Como
não podia deixar de ser, este livro também aborda questões de
amor-próprio e incentiva ao pensamento positivo. Coisas às quais
nunca prestei a devida atenção, por, lá está, achar serem
parvoíces. O livro mudou a minha forma de pensar em relação a
estes aspectos. E ensinou-me a confiar. Não em mim mesma – ainda
há um longo caminho a percorrer nesse sentido –, mas no timing
das coisas. Em como tudo acontecerá exactamente como é suposto. Em
como o melhor virá, se eu me livrar daquilo que não me preenche ou
não me faz feliz.
Podia
escrever linhas inteiras sobre tudo o que a autora apresenta e com
que eu concordo. Mas também A Arte Subtil (…) me fez ver
coisas interessantes. Algo que ambos os livros têm em comum, apesar
de serem o oposto um do outro, é concordarem com o facto de a dor
fazer parte do nosso processo de crescimento e que esta nos dá
lições valiosas. Já antes de ler os livros tinha-me deparado com
diversas frases e textos neste sentido, na altura em que toda a dor
se apoderou de mim e levou a melhor. Na verdade, se não tivessem
sido aqueles acontecimentos e dias e semanas dolorosos, eu não seria
a pessoa que sou hoje.
E
houve outras coisas n'A Arte Subtil (…) com as quais concordei e de que me lembrarei
sempre. Nem todos somos especiais e extraordinários, e não temos
todos que o ser, embora pareça que a sociedade nos exija
precisamente isso, que sejamos e tenhamos sempre mais e melhor, como
se competíssemos uns com os outros. E a própria vida não tem que
ser sempre uma série de grandes acontecimentos, daqueles dignos de
publicações e de fotografias nas redes sociais. Lembro-me
especialmente de, nesta parte do livro, o autor tomar a alimentação
como exemplo. Escreveu algo como na
vida não existirem apenas Big Macs
e que não podemos comer só Big Macs,
por muito que queiramos. Também temos que comer os legumes e
aprender a gostar dos legumes. E os “legumes”, nesse caso,
são as pequenas coisas, as coisas simples e aparentemente
insignificantes e sem importância do nosso dia-a-dia, que, no fundo,
são as coisas que mais preencherão a nossa vida. Para além de
serem as mais importantes. Lembro-me que um dos exemplos que o autor
deu dessas “coisas”, desses “legumes”, foi, precisamente, um
bom livro.
Guardo,
por isso, comigo, pensamentos, ideais e formas de encarar a vida
apresentados por ambos os autores, apesar de tão diferentes um do
outro. Coisas com as quais concordo e que tento, ao máximo, transpor
para a vida real e para o meu dia-a-dia. Mesmo que seja difícil.
Mesmo que mais ninguém concorde comigo. Desde que consiga estar bem
e em paz. E feliz. Porque, afinal, vão por onde forem, é este o
grande objectivo de todos nós. É isso que realmente importa. E nem me importo que, enquanto alguns
o conseguem sozinhos, eu tenha necessitado e continue a necessitar de
palavras de terceiros para tal. No fundo, torna-se bonito
ajudarmo-nos e inspirarmo-nos uns aos outros.
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