Um dia estranho, o de ontem.
Na verdade, os dias têm sido estranhos desde o fim-de-semana, devido ao estado do tempo. O sol tem estado a brilhar durante o dia todo e o frio do inverno parece ter desaparecido. Os dias convidam a passeios ao ar livre ou a desfrutar da esplanada, pedem roupas mais frescas e quase me convenceram a vestir uma t-shirt ou a dar um mergulho no mar. É algo tão estranho e atípico, não apenas por ser Fevereiro, mas também porque, aqui onde vivo, vários dias de sol seguidos é uma raridade.
O sol e o céu azul conseguem alegrar-me de certa forma e convidam-me a ir para o exterior, para usufruir da luz do sol e do seu calorzinho reconfortante. É uma espécie de energia positiva e de renovação e de um presente após vários dias chuvosos, cinzentos ou sem graça; algo que parece alegrar a alma. Por muito que goste de chuva e de um céu escuro no inverno, especialmente quando não tenho planos e o meu único plano é ficar em casa, o sol parece despertar algo dentro de mim, como se eu tivesse, realmente, necessidade dele. Por isso, quando surgem dias como estes, sinto como que a “necessidade” de desfrutar deles. De apanhar algum ar fresco, nem que seja apenas na minha varanda, e aproveitar o próprio sol.
O dia de ontem foi particularmente estranho porque dei por mim a pensar no verão. Eu, que passei a encarar o calor como algo insuportável, que acabo por ficar irritada quando os dias seguidos de sol começam a ser em demasia, que deixei de considerar o verão como a minha estação do ano preferida – como já por aqui falei – …comecei a pensar no verão.
Estava ontem de manhã a desenhar em frente a uma janela de onde se via o céu azul e a ouvir o canto dos passarinhos, e era como se estes elementos estivessem presentes no meu próprio desenho. Desenhei uma rapariga de costas, a caminhar por um trilho na natureza em direcção às montanhas, de cabelo apanhado e de mochila às costas, vestida com uma t-shirt de modelo largo e umas calças de ganga ao estilo mom – uma combinação da qual eu própria fiquei fã. E era como se estivesse na sua pele, a caminhar na natureza sob o mesmo céu azul que eu via da janela e com o mesmo chilrear dos passarinhos que eu estava a ouvir no momento. De repente, pensei no verão, nos passeios pela natureza, nos céus azuis, nos dias mais compridos e mais quentes, na frescura das roupas, dos lençóis de cama, das sombras das árvores num dia de calor.
Mais tarde nesse dia, passei algumas horas a ler na varanda, e acabei por recordar o verão novamente, devido à sensação de ler no exterior, sem sentir frio, com o calorzinho do sol na pele.
Não sei se será do estado do tempo ou se vem de mim mesma, mas tenho andado inspirada, com ideias, cheia de vontade de criar, e, ao mesmo tempo, de aproveitar os dias e os momentos, em particular o ar livre. Fico com pena que, no meu caso, estas duas coisas sejam contraditórias, uma vez que eu preciso de estar em casa para dar largas ao meu lado criativo e não o consigo fazer num espaço exterior, devido a diversos factores. Em todo o caso, agora que penso nisso, acho que o verão foi sempre a época que mais me inspirou nesse sentido, em que a minha criatividade parecia estar ao rubro. Devo, então, “culpar” o sol. Ou a luz.
Mas também me pergunto se sentirei alguma saudade do verão, especialmente depois de ter começado a não gostar tanto dele, a vê-lo com outros olhos, a preferir um clima mais ameno e aconchegante. A verdade é que já há alguns anos que não aproveito o verão na sua plenitude. Por isso, sim, talvez sinta falta disso. Não dos dias passados a torrar na praia – credo, disso não tenho qualquer saudade –, mas de tudo o resto: passeios pedestres pela natureza, jantares à beira-mar, piqueniques, dias passados no campo ou a acampar, uma viagem, um mergulho no mar, um gelado num dia de calor, enfim. E a grande vontade de criar, aquela vaga de inspiração tão grande, que parece atingir-me como uma onda e que eu tenho mesmo necessidade de extravasar.
Claro que sinto saudades de aproveitar o verão da melhor forma, e é óbvio que gostaria de o fazer. Não vou fazer planos, porque rapidamente a vida troca-nos as voltas e nunca se consegue prever – eu, pelo menos, nunca consigo, tal é a instabilidade da minha vida neste momento – as circunstâncias ou os factores que nos impedem de viver determinada época da melhor forma. Mas sim, acredito que poderei fazê-lo. Se não for este ano, nalgum outro.
É verdade que este foi um texto também esquisito e sem interesse, mas quis partilhar esta nostalgia.
Espero que continues inspirada e aproveites para escreveres os teus livros ou continuares a fazer coisas muito giras no lettering (penso que seja assim que se chama ahah)
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