Estou de
quarentena há uma semana e dois dias, e, até agora, tudo tem estado bem. Estou
bem de saúde e estou bem a nível psicológico – o facto de estar em isolamento e
entre quatro paredes ainda não me pôs doida. Nos primeiros dias, o tempo esteve
bom, e isso soube bem. O sol parece conferir algum ânimo e alguma esperança.
Parece tornar os dias mais fáceis e suportáveis. Até porque pude desfrutar de
algum ar fresco na varanda. Passei estes dias, sobretudo, a ler lá fora, a
usufruir do sol. Até almocei lá fora, dado o tempo ter estado tão convidativo.
Evitei passar os dias de pijamas e vesti roupas frescas, até porque o sol e o
calor pediam-no. Também já desenhei um pouco nestes dias, fiz algum exercício,
fui ao supermercado uma vez porque assim teve que ser e fiz algumas limpezas
aqui em casa. Durante este período, quero poder desenhar muito mais, até porque
estou cheia de ideias; quero poder escrever em força, tanto aqui no blog como
nas minhas histórias; quero tirar o pó à minha PS4 e jogar alguns dos jogos que
estão em stand-by há demasiado tempo;
quero pintar os móveis do meu quarto e decidir o que fazer em relação ao meu
quarto para torná-lo mais confortável e agradável para mim.
Portanto,
está tudo bem. Não encaro este período como um isolamento forçado, como clausura
ou como castigo, nem o vivo com frustração. Para mim, não é algo tão anormal,
pois já estou tão habituada a estar em casa. Sempre gostei de estar em casa,
uma vez que era o único lugar onde podia fazer todas as minhas actividades
favoritas – onde podia jogar videojogos, onde podia escrever, desenhar, ler em
silêncio, ouvir as músicas de que gostava. Para além disso, estou desempregada,
pelo que estar em casa tem sido, infelizmente, habitual.
Mas, como é
óbvio, existem grandes diferenças. A primeira é o facto de não poder sair, a
não ser devido a extrema necessidade. Não poder estar com o meu namorado – de
quem estou a morrer de saudades –, não poder ir tomar um café, não poder ir
passear, enfim. A segunda…é que esta é das poucas vezes em que estou em casa e
estou de consciência tranquila.
Há uns dias,
antes de toda esta crise ter começado, estive para escrever sobre isto aqui no
blog. Sobre o facto de ter demasiado tempo livre e de como isto estava a pôr-me
doida. Eu estava – e ainda estou, como disse – sem trabalho, mas decidida a
começar o meu próprio negócio. E isto estava, de certa forma, a pressionar-me.
Estava a passar todas as manhãs a ler qualquer coisa, e todos os dias parecia
encontrar algo de novo para ler, para reler ou para estudar, de forma a estar o
mais preparada possível na altura em que começasse a trabalhar. Estava nesta
pressão estúpida e irreal para que tudo estivesse perfeito na altura de
começar, quando, na verdade, é com a prática que as coisas se aprendem e seria
com a prática que eu perceberia o que teria que ler e estudar, para além de
que, se cometesse asneiras ou se errasse, aprenderia com isso, de modo a fazer
melhor das próximas vezes. Para além disso, eu estava, por um lado, ansiosa que
as coisas mudassem, ansiosa por começar a trabalhar não só para voltar a ganhar
algum dinheiro, mas também para me manter ocupada e para aproveitar melhor o
tempo livre que viesse a ter. No entanto, por outro lado, eu estava com medo.
Estava aterrorizada por começar, por começar mal, por falhar, por fazer
asneiras logo no início, por não saber tudo o que supostamente teria que saber.
Todo o tempo livre que tinha e toda a pressão estúpida que sentia faziam com
que a minha cabeça fosse buscar todos os pensamentos negativos e mais alguns.
Que tudo ia correr mal, que eu não era boa o suficiente, que estava a
desperdiçar o meu tempo estando em casa, a ler coisas. Estava, até, a sentir-me
culpada e inútil por estar em casa. Mesmo que já tivesse as coisas mais ou
menos orientadas na minha cabeça; mesmo já tendo decidido que iria começar e quando iria começar.
A coisa
melhorou quando, logo antes desta crise se ter instalado no país, passei uns
dias em Lisboa, algo que já andava a planear desde o final do ano passado.
Estive com pessoas que não via há muito tempo, arejei a cabeça, fiz coisas
diferentes. Depois, no dia de regresso, que foi precisamente o dia em que tudo
começou, aos poucos, a mudar, já estava conformada de que teria que ficar em
quarentena. Fiquei aliviada e grata por ter conseguido regressar a casa sem
qualquer percalço, e, mais do que isso, por ter uma casa para onde voltar e por
poder estar em casa, em segurança, durante esta crise, ao passo que muita gente
não está a ter essa possibilidade.
Comecei por
ver a minha vidinha novamente em stand-by.
Tal como tem acontecido ultimamente: sempre que estou decidida a levar o meu
próprio negócio avante, acontece qualquer coisa que mo impede. E isto já me
parece demasiada coincidência. Chego, até, a pensar que talvez não esteja
destinado. Ou que, afinal, eu tenho razão quanto ao facto de não estar
preparada para dar esse passo.
Seja como
for, e uma vez que, agora, não consigo definir uma data de início da minha actividade
profissional, uma vez que tudo depende de quando toda esta crise passará, já
não sinto toda aquela pressão sobre mim. E é por isso que tenho a consciência
tranquila; é por isso que tenho feito e tenho pensado em todas aquelas
actividades que referi. Como disse, não penso nisto como clausura. Para além de
achar que é algo necessário, uma questão de bom senso, de consciência e de
responsabilidade, prefiro ver isto pelo lado positivo, como a possibilidade de termos
tempo para e de darmos tempo a nós próprios.
Se existem
lições a tirar de tudo isto – e é claro que existem – é que, em primeiro lugar,
isto é karma. Estávamos a destruir o
planeta, e ele arranjou maneira de nos atirar a todos para dentro de casa para
lhe darmos descanso – embora eu ainda ache que este vírus não seja natural e
que tenha sido fabricado. Mas a verdade é que, com isto, os níveis de poluição
estão a diminuir, as pessoas estão a ser solidárias, tem havido uma onda de
união. As pessoas estão a perceber que têm que se unir e que não podem pensar
só em si próprias, e isto é bonito de se ver. A segunda lição é para aqueles
que vivem a correr, que não aproveitam o tempo para fazerem o que gostam, que
não apreciam verdadeiramente a sua casa e as suas pessoas, que tomavam tudo
como garantido. Estas pessoas, estando agora confinadas nas suas casas,
(re)aprenderão a dar valor a essas pequenas coisas, a reflectir, a olhar para
dentro delas, a fazer coisas que já não faziam há muito tempo – e isto até pode
ser o simples facto de passarem tempo em família. Talvez, quando tudo isto
passar, retomem as suas vidas enquanto pessoas diferentes, com novos olhares,
novas maneiras de estar e de pensar.
Foi-nos dado
tempo. No meu caso, em que, devido a uma situação anormal, já estava com
excesso de tempo livre e já estava com a vida em stand-by há algum tempo, não sei ao certo que lição posso tirar
daqui. Aproveitar melhor o tempo? Não levar tudo tão a sério? Apreciar mais ou
dar mais valor ao exterior? Não sei. O que sei é que, agora, cabe a cada um
fazer a sua parte e que devemos – aos que ficam em casa – tirar o melhor
partido desta fase (não vale a pena desesperar e trepar paredes quando há tanto
com que nos entretermos), mantermo-nos seguros, fortes e optimistas, termos
esperança, reconhecermos e agradecermos o trabalho de todos aqueles que não
podem parar. Esta é só uma fase difícil, que passará. Vamos todos ficar bem. Que
passe rápido para que possamos desfrutar novamente do exterior, de todos os
espaços, dos convívios, dos afectos. Sem medo. Só espero que, quando passar,
não volte tudo ao mesmo.
Não está fácil para ninguém. Entendo-te bem quando dizes que não te está a custar, eu gosto tanto de estar em casa a fazer as minhas coisas e passei tantos dias de férias fechada em casa que isto é quase o normal para mim.
ResponderEliminarQue esta pausa forçada nos obrigue a todos a ser melhores pessoas e decididos a conquistar o que desejamos!