E agora a quarentena acabou e
esta será a última publicação desta série – e eu espero que nunca mais se venha
a falar em quarentena. E agora os Açores estão livres de Covid-19 e eu fico
mesmo contente por isso, mas cheia de medo de que abram os aeroportos e tudo
volte atrás. E agora estou farta que se falem em máscaras e em distanciamento social e em priorizar a economia e que tudo gire à volta do dinheiro.
E, entretanto, pedem-nos para
retomar a normalidade e regressar à normalidade. O problema é quem não tem uma “normalidade”
a que regressar. Quem já não tinha uma vida “normal” antes da pandemia.
Eu não tenho um emprego ao
qual regressar, e este seria o ano em que finalmente ganharia coragem para
arriscar e para começar algo. Como pessoa organizada
que sou, já tinha tudo minimamente planeado. Mas lá veio a pandemia estragar
tudo. E, agora que o pior passou e que está tudo mais ou menos tranquilo e
controlado para estes lados, não me parece ser o momento certo para resgatar
este meu plano, arriscar e pô-lo em prática.
Sim, dizem que o momento certo
não existe, que não se deve esperar tanto e que se deve começar e arriscar
antes de se estar preparado. Mas há que ser-se realista. Acho que, neste
momento, as pessoas têm mais com que se preocupar do que com os serviços que eu
teria a oferecer. E que um primeiro contacto entre duas pessoas que não se
conhecem em que apenas se vai ver metade da cara de cada uma – obrigada, Covid,
pelas máscaras – também não é agradável. Convenhamos: é muito esquisito. É horrível, pronto.
Para não falar da ameaça da segunda vaga que paira no ar. E que tudo pode
voltar para trás de um momento para o outro, ficando tudo fechado e em
isolamento novamente.
Parece que só dou desculpas no
que toca a este assunto. Mas a verdade é que acontece sempre qualquer coisa - até me leva a crer que é algo que não está destinado e que tudo o que acontece é um sinal para desistir e ver que estou no caminho errado. Talvez
isto da pandemia nem seja grande razão para adiar as coisas mais uma vez, mas
enfim. Não me parece ser o momento, e acho também que apressar as coisas só vai
dar mau resultado.
Há quem diga que 2020 é o ano
de nos reinventarmos, inclusive no que diz respeito ao trabalho e aos empregos,
mas uma pessoa não se pode reinventar quando nem sequer estava activa no
mercado. Por isso, para mim, 2020 está, em vez disso, a ser um ano deitado ao
lixo. Um ano desperdiçado. Tenho dias, ou breves momentos, em que me sinto
realmente como a boneca do meu desenho: com todos os meus planos e projectos
para este ano guardados numa caixa, à espera do momento certo para serem postos
cá fora. A ver os dias e o tempo a passar, sem saber até quando, e não saber o que fazer. Ainda para
mais, sempre fui uma pessoa organizada e que sempre planeou tudo com
antecedência. Viver assim, nesta incerteza tão grande, sem saber se as coisas
vão melhorar e normalizar cada vez mais daqui para a frente ou se vai tudo acabar
por voltar para trás…bem, isto dá cabo de mim.
Talvez, de facto, tudo tenha o
seu tempo certo e que, agora, não seja o tempo certo para investir nisto. E,
sendo assim, resta-me continuar a viver um dia de cada vez, deixar as coisas
fluir, viver no momento, e mais bla bla bla desse género. Não é que eu não
concorde com estas ideias e com estas mentalidades, muito pelo contrário. É que
eu já estou cansada de viver um dia de cada vez, de esperar, de deixar fluir, e
tudo o resto. Já o fiz no ano passado! Até já foram temas dos meus desenhos. É que
só de pensar que, no ano passado, fiz desenhos com frases do género Um dia de cada vez, Tudo a seu tempo, Vai ficar
tudo bem e outras que tais…bem, mal sabia eu para o que estaríamos
guardados.
Por isso, desde que o estado
de emergência terminou e desde que os estabelecimentos começaram a abrir e as
pessoas começaram a sair mais e etc., eu ando a perguntar-me E agora? O que é suposto fazer agora?. Bem,
a verdade é que continuo, de facto, a deixar as coisas fluir e a viver um dia
de cada vez, fazendo coisas de que gosto ou tarefas necessárias ou saindo um pouco,
já que não há muito mais que possa fazer, nem nada que possa fazer para mudar a
situação em que nos encontramos. E assim vou mantendo a minha sanidade, e
alguns trabalhos que me são pedidos, apesar de poucos, dão-me também uma certa
sensação de normalidade. Mas, mesmo assim, não consigo deixar de pensar em como
este está a ser um ano perdido. Só espero que seja mesmo só este ano. Só espero que tudo melhore.
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