26/12/20

Regresso a casa

Sim, 2020 foi um ano em que grande parte das pessoas regressou, literalmente, a casa. Ao espaço onde vivem. Atiradas para lá à força, impedidas de sair, obrigadas a lá permanecer o máximo de tempo possível. Fique em casa devia ser considerada a frase do ano. Para quem tinha a sua rotina de sair de casa para trabalhar e regressar ao final do dia, e mesmo para quem tinha que sair para cumprir outras rotinas e afazeres, ou para quem se viu forçado a trabalhar em casa sem saber para onde se virar ou como dar conta de tudo, acredito que tenha sido difícil.

No meu caso, no entanto, não houve um regresso literal a casa, porque, em casa, já eu estava. No espaço onde vivo, quero eu dizer. Houve, no entanto, um regresso à minha “casa espiritual”. Sinto que me reencontrei ao longo deste ano. 

Sei, também, que a grande maioria das pessoas considera que este foi um ano deitado ao lixo, em que nada aconteceu, em que não fizeram nada. Eu também tinha os meus planos. Gostava de ter feito pelo menos uma viagem. Gostava de ter iniciado o meu negócio próprio. Entre outras coisas que a pandemia não deixou fazer. E, por causa disso e por ter sido, tal como toda a gente, forçada a ficar em casa, em vez de deixar que a incerteza em relação ao futuro e que a ansiedade e o medo de não saber o que poderia vir a acontecer me sufocassem e me sugassem toda a sanidade, eu voltei a minha atenção para outros aspectos.

14/12/20

Tomar as minhas próprias decisões

Fora do campo artístico, neste ano atípico passei a maior parte do tempo em casa, continuei no meu regime de prestação de serviços – serviços esses que só surgem de vez em quando –, não encontrei um emprego a tempo inteiro nem um trabalho temporário, e não comecei o meu negócio próprio, que tinha planeado iniciar este ano. Quem vê de fora, especialmente quem mal me conhece ou que nem sabe do meu projecto artístico, dirá que não fiz nada durante um ano inteiro, que não contribuí para nada. No entanto, eu sei que fiz algo. Fiz muitas coisas, aliás. Mas quero falar sobre algo particularmente importante: o trabalho interior, o olhar para dentro e perceber, finalmente, o que realmente quero e o que faz sentido para mim e aquilo que não quero para a vida. O tomar as minhas próprias decisões, independentemente da opinião alheia. 

07/12/20

Um balanço, artisticamente falando

Sei que já não venho aqui há tanto tempo, e, na verdade, por vezes até me questiono se manter este cantinho na internet continuará a fazer sentido. Já nem se coloca o facto de os blogs estarem a morrer – se é que já não morreram – e de sentir que escrevo para o vazio, tal é a falta de feedback. A verdade é que o tempo não estica, tive que redefinir prioridades e nem tenho tido grande paciência de cá vir. Até já deixei de parte as publicações que fazia no início de todos os meses, acerca das coisas boas de cada um, porque o facto de ser como uma “obrigação” – por ser algo recorrente – retirou-me a vontade de escrever sobre isso. No entanto, estas coisas estão registadas na minha espécie de Gratitude Journal, onde celebro cada pequena vitória e cada pedacinho de alegria de todos os dias.

E a verdade é que o mês passado foi ocupado. Pela primeira vez, recebi diversas encomendas dos meus trabalhos personalizados – canecas, para ser mais precisa. Por isso, ao longo de algumas semanas, trabalhei nelas depois da minha rotina matinal, e cheguei a fazê-lo durante o dia todo, enquanto tinha luz natural. 

E, bem, como adorei estes dias. Apesar do nervoso miudinho para fazer algo do inteiro agrado das pessoas e apesar das dores de cabeça que todas as canecas me deram – umas mais do que outras –, trabalhar nelas foi tão divertido e gratificante. E senti-me feliz. Feliz por saber, ao acordar, que iria sentar-me na secretária a desenhar. Não para mim, mas para pessoas reais, clientes reais. E que iria ganhar algo com isso, não apenas monetariamente falando. Como se fosse um trabalho. Sempre fui feliz a desenhar, mas, neste caso, era a felicidade redobrada por estar a fazer algo para alguém; por saber que aplicaria a minha arte num objecto que iria para a casa de alguém; por saber que várias pessoas mo haviam pedido; por saber que essas pessoas gostam daquilo que faço e reconhecem o valor do meu trabalho. Acordar, ir desenhar e vir a ganhar algo com isso foi como viver um sonho. Profissionalmente, sempre quis fazer algo relacionado com o ramo artístico, mas nunca soube exactamente o que poderia vir a fazer e foram várias as pessoas que me desencorajaram nesse sentido – porque, na opinião delas, eu não iria ter emprego, nem dinheiro. E ter feito estes trabalhos nestes poucos dias só me fez perceber o quanto gostava de o fazer mais vezes. Acredito que isto tenha sido sol de pouca dura, ainda para mais estando em época de Natal; acredito, assim, que este tipo de produtos terá os seus picos de procura e as suas alturas do ano em que a coisa andará mais estagnada, mas, honestamente, está tudo bem. Não posso obrigar ninguém a comprar, nem posso exigir à minha criatividade que me faça ganhar rios de dinheiro – tal como refere Elizabeth Gilbert n’A Grande Magia –, e uma coisa eu posso fazer nesses períodos em que pouco ou nada acontece: investir noutros produtos e noutras aprendizagens e continuar a trabalhar para melhorar e evoluir. 

Acho que, no que se refere ao meu projecto, esta foi uma das minhas grandes falhas, e algo que correu menos bem durante este ano. Penso que poderia ter aproveitado melhor o tempo, investindo em novas aprendizagens. Poderia ter começado a investir no digital ou ter feito um curso online que já está pendente há imenso tempo, por exemplo. Poderia, assim, já estar a começar a ter novos produtos e serviços. Poderia ter começado a pensar mais “à frente”, naquilo que eu gostaria e poderia vir a oferecer, em vez de me ter focado tanto no momento presente, desenhando aquilo que me apetecia ou fazendo coisas de que gosto.