Sei que já não venho aqui há tanto tempo, e, na verdade, por vezes até me questiono se manter este cantinho na internet continuará a fazer sentido. Já nem se coloca o facto de os blogs estarem a morrer – se é que já não morreram – e de sentir que escrevo para o vazio, tal é a falta de feedback. A verdade é que o tempo não estica, tive que redefinir prioridades e nem tenho tido grande paciência de cá vir. Até já deixei de parte as publicações que fazia no início de todos os meses, acerca das coisas boas de cada um, porque o facto de ser como uma “obrigação” – por ser algo recorrente – retirou-me a vontade de escrever sobre isso. No entanto, estas coisas estão registadas na minha espécie de Gratitude Journal, onde celebro cada pequena vitória e cada pedacinho de alegria de todos os dias.
E a verdade é que o mês passado foi ocupado. Pela primeira vez, recebi diversas encomendas dos meus trabalhos personalizados – canecas, para ser mais precisa. Por isso, ao longo de algumas semanas, trabalhei nelas depois da minha rotina matinal, e cheguei a fazê-lo durante o dia todo, enquanto tinha luz natural.
E, bem, como adorei estes dias. Apesar do nervoso miudinho para fazer algo do inteiro agrado das pessoas e apesar das dores de cabeça que todas as canecas me deram – umas mais do que outras –, trabalhar nelas foi tão divertido e gratificante. E senti-me feliz. Feliz por saber, ao acordar, que iria sentar-me na secretária a desenhar. Não para mim, mas para pessoas reais, clientes reais. E que iria ganhar algo com isso, não apenas monetariamente falando. Como se fosse um trabalho. Sempre fui feliz a desenhar, mas, neste caso, era a felicidade redobrada por estar a fazer algo para alguém; por saber que aplicaria a minha arte num objecto que iria para a casa de alguém; por saber que várias pessoas mo haviam pedido; por saber que essas pessoas gostam daquilo que faço e reconhecem o valor do meu trabalho. Acordar, ir desenhar e vir a ganhar algo com isso foi como viver um sonho. Profissionalmente, sempre quis fazer algo relacionado com o ramo artístico, mas nunca soube exactamente o que poderia vir a fazer e foram várias as pessoas que me desencorajaram nesse sentido – porque, na opinião delas, eu não iria ter emprego, nem dinheiro. E ter feito estes trabalhos nestes poucos dias só me fez perceber o quanto gostava de o fazer mais vezes. Acredito que isto tenha sido sol de pouca dura, ainda para mais estando em época de Natal; acredito, assim, que este tipo de produtos terá os seus picos de procura e as suas alturas do ano em que a coisa andará mais estagnada, mas, honestamente, está tudo bem. Não posso obrigar ninguém a comprar, nem posso exigir à minha criatividade que me faça ganhar rios de dinheiro – tal como refere Elizabeth Gilbert n’A Grande Magia –, e uma coisa eu posso fazer nesses períodos em que pouco ou nada acontece: investir noutros produtos e noutras aprendizagens e continuar a trabalhar para melhorar e evoluir.
Acho que, no que se refere ao meu projecto, esta foi uma das minhas grandes falhas, e algo que correu menos bem durante este ano. Penso que poderia ter aproveitado melhor o tempo, investindo em novas aprendizagens. Poderia ter começado a investir no digital ou ter feito um curso online que já está pendente há imenso tempo, por exemplo. Poderia, assim, já estar a começar a ter novos produtos e serviços. Poderia ter começado a pensar mais “à frente”, naquilo que eu gostaria e poderia vir a oferecer, em vez de me ter focado tanto no momento presente, desenhando aquilo que me apetecia ou fazendo coisas de que gosto.
Por outro lado, algo que correu bastante bem durante este ano foi ter-me dedicado mais ao meu projecto, no sentido de publicar mais no Instagram (incluindo nos stories, algo que costumava negligenciar um bocado) e de ter testado a aplicação do lettering em caixas de madeira, em canecas e em bolas de Natal. A minha página continua a crescer, embora devagarinho, registando um crescimento bastante superior, comparativamente ao ano passado; as canecas revelaram-se um sucesso e uma primeira experiência da qual faço um balanço bastante positivo; e a minha primeira encomenda, de sempre, foi uma caixinha, um produto que eu acho que poderá vir a vingar no futuro, caso eu invista mais nisso – convenhamos, uma caixa dá sempre jeito. Para além disso, aprendi imenso ao longo deste ano com tutoriais e com vídeos em que artistas davam feedback de algumas artes. Aprendi a dar mais valor aos rascunhos e a dedicar-lhes mais tempo, a fazê-los com calma e sem aquela pressa estúpida de querer ver a arte final pronta. Aprendi a planeá-los ao pormenor, a estudar o layout e os tipos de letra a aplicar, a pensar nas cores a usar e na sua importância no que diz respeito à ideia e ao sentimento a transmitir. Graças a isso, agora perco horas em torno de um rascunho, para deixá-lo precisamente como idealizo, e apenas minutos na arte final.
Às vezes, quando penso neste balanço, sinto que foi pouco e que podia ter feito mais. Sinto que, se estas aprendizagens e se as minhas ideias actuais tivessem surgido mais cedo, no início ou mesmo a meados do período de confinamento, estaria, neste momento, muito mais evoluída e, quem sabe, com outros produtos para oferecer e com mais pedidos. Durante esse período, contudo, e tal como referi acima, estava mais preocupada em manter-me sã no meio do caos e da tristeza em que o mundo havia mergulhado; em aproveitar o momento presente com coisas que queria e gostava de fazer; em encontrar pedacinhos de alegria e de felicidade todos os dias, no meio do negrume que tudo se tornou; em levar um dia de cada vez, sem pressas; em estar, apenas. Esse foi um período em que também olhei para dentro, em que pensei e em que tomei decisões, e isto fez-me crescer e mudar. Apesar do meu amor pelo desenho e pela arte, a minha vida e os meus dias não podem resumir-se apenas a isso, muito menos o meu crescimento e evolução. Por isso, embora ache que poderia ter feito mais e que poderia ter organizado (ainda) melhor o meu tempo, continuo a fazer um balanço bastante positivo dos últimos meses. Posso dizer que fiz muito “trabalho interno”, muito trabalho que não se vê, e isso, apesar da opinião alheia negativa que pode advir (Não te vi a fazer nada, e outras coisas que tais), foi extremamente importante – e será mais aprofundado numa publicação futura.
Artisticamente falando, não olho para os últimos meses com arrependimento do que poderia ter feito e não fiz, mas sim como um período de evolução, embora um pouco morosa, de aprendizagens, de melhorias, de experiências satisfatórias que renderam bons frutos. Mais do que isso, olho para os últimos meses com a consciência do que correu menos bem e de que posso melhorar o que correu menos bem. E isto, de forma a dar azo a novos projectos e a colocar novas ideias cá para fora, é um dos meus grandes objectivos para o novo ano que se avizinha – que isto agora é Dezembro, e em Dezembro, para além de ser um período de reflexão e de retrospectiva, o mundo pára (como se já não tivesse estado parado o suficiente durante este ano).
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