Pensei
muito antes de escrever isto. No início, tinha idealizado algo como
uma lista: uma lista de vantagens de se ser solteira, escrita de
forma crua e directa. Depois, pensei em como isso me deixaria,
possivelmente, mal vista: vista como fria e egoísta, como se a minha
relação não tivesse significado nada. Ainda assim, depois de ter
dado voltas a este tópico para criar um texto decente, continuo com
esse receio, bem como com o receio de ser mal-interpretada.
No
entanto, acho que estes são riscos que corro sempre, a cada frase
que escrevo. As pessoas gostam de julgar, de fazer juízos
pré-concebidos ou de criar logo uma imagem à mais simples
afirmação.
Por
exemplo, é comum achar-se que uma mulher jovem e solteira saia muito
para se divertir com as amigas e que também o faça com aquela
segunda intenção de vir a conhecer alguém, disponível como ela,
nem que seja apenas para passarem um bom bocado.
Eu
estou solteira há dois anos e qualquer coisa, e bem que podia usar o
meu tempo para esse tipo de programas. No entanto, continuo caseira como
sempre fui.
Não
vou dizer que, no início, não me apeteceu sair e conhecer pessoas
novas. Mas não o fiz. Em parte por cobardia, em parte por não ter
quem me acompanhasse. E, bem lá no fundo, por achar que não valia a
pena.
Achava
que o meu tempo de conhecer pessoas novas e de namorar já tinha
passado. Achava que isto era quase impossível de acontecer quase aos
vinte e cinco anos, especialmente tendo em conta que as pessoas dessa
idade e que eu conhecia já estavam em relações de alguns anos –
isto na altura em que costumava comparar-me imenso com os outros. E,
aliás, nem sequer estava a ver-me a atirar-me ou a fazer e a dar
conversa a qualquer um. Se sempre fui tão selectiva nas minhas
amizades, então também iria sê-lo quanto a possíveis candidatos.
Aliás, iria ser mais selectiva ainda. Certo? Para mim, tem lógica.
A
verdade é que me senti tão sozinha, triste e destroçada que podia
ter feito mesmo isto, sim. Procurar conforto no primeiro que me
aparecesse, no primeiro que metesse conversa. Pois...se eu não fosse
selectiva. Se não fosse exigente. Se não tivesse aquela espécie de
mecanismo de defesa que parece dizer-me quem vale a pena manter por
perto e quem é melhor começar a dispensar. Se não tivesse sempre
aquele pensamento constante de Quando for, tem que ser em grande e
tem que valer mesmo a pena.
Talvez,
no fundo, não estivesse realmente preparada para conhecer pessoas.
Eu
era infeliz. Sentia que já não me era dado o devido valor; sentia
um distanciamento da parte do outro, como se, entre nós, houvesse um
fosso. Sentia que já não nos ligavam os mesmos sentimentos de
outrora. O fosso parecia alargar-se mais a cada dia que passava. Por
outro lado, sentia-me sufocada. Isto pode soar contraditório, mas
era como se houvesse uma necessidade, uma obrigação, de nos
mantermos minimamente conectados.
Esqueçamos
o fosso. Imaginem duas pessoas de mão dada e uma fenda a começar a
abrir-se sob os seus pés, entre elas. A fenda vai ficando cada vez
mais larga com o passar dos dias, mas aquelas duas pessoas não
largam as mãos. No fim, apenas conseguem tocar-se com a pontinha dos
dedos.
Eu
sentia-me como se houvesse uma necessidade ou uma obrigação de
fazer sempre algo para que eu e essa pessoa continuássemos a
tocar-nos apenas com a pontinha dos dedos. Mesmo que tal fosse contra
minha vontade. Era uma necessidade e uma obrigação de estar, de
perguntar, de dizer o que estava a fazer ou a planear fazer. Estava a
segurar algo pela ponta dos dedos, com demasiado medo para largá-la,
e tal estava a consumir as minhas forças e, inclusive, a minha
felicidade.
Para
mim, um namoro não deve fazer ninguém infeliz, um compromisso não
deve ser visto como uma obrigação e uma relação não deve esgotar
as forças de uma pessoa.
Magoei.
Mas, tempos mais tarde, também fui magoada. Parece que o karma
não perdeu tempo comigo. Por isso, posso dizer que acabei por
conhecer os dois lados da moeda, e de uma forma demasiado rápida,
dolorosa e inesperada.
Daí
todos aqueles pensamentos. Daí que, sim, podia ter-me contentado com
qualquer um depois de tudo. Afinal de contas, se as coisas acabariam
mal de qualquer forma, o que interessava?
Mas
não. Selectiva, como sempre. E, claro, com demasiado medo de que as
coisas voltassem a correr mal.
Eventualmente,
acabei por deixar de pensar no assunto. Mesmo a sentir-me sozinha e
destroçada, acabei, com um enorme esforço, por deixar de pensar em
rapazes e em relações para passar a focar-me em mim mesma.
E
foi bom ter sido assim. E continua a ser bom. Porque, olhando para
trás, acho que nada teria corrido bem se tivesse acabado por forçar
as coisas – se tivesse tentado, a todo o custo, conhecer alguém
para preencher aquele vazio; se tivesse saído com o único intuito
de conhecer alguém; se tivesse, efectivamente, “andado à
procura”. Isto porque eu não estava bem. Não estava bem comigo
mesma e mal me preocupava comigo. Cheguei a detestar-me a mim
própria. E ouvia constantemente aqueles pensamentos clichés
de que, se não gostarmos de nós próprios, não podemos esperar que
outras pessoas o façam.
Acho,
por isso, que a maior vantagem de ser solteira foi esta questão do
tempo. Tempo para voltar a pensar em mim, investir em mim, cuidar de
mim, preocupar-me comigo. Tempo para pôr a cabeça no lugar, as
ideias em ordem e começar a pensar com clareza. Reflectir no que
correu mal e naquilo que realmente queria para uma relação. Tempo
para crescer e ser forte. Não teria conseguido nenhuma destas coisas
se tivesse saltado para uma relação mais ou menos séria assim que
me vi sozinha, triste e desamparada. No fim de contas, parece que,
realmente, algo me travou em relação àquela ideia maluca de querer
sair e conhecer pessoas. Parecia que algo me dizia que eu tinha que
ficar sozinha por uns tempos. Que eu tinha que aprender e a gostar de
estar sozinha, em primeiro lugar.
E
todo este é um processo contínuo. Agora, já me sinto em paz com
esta situação. Sinto que cresci e que tenho uma ideia clara daquilo
que procuro, e que, talvez, na altura não estivesse realmente
preparada para um compromisso. Já esqueci a questão da idade e das
comparações. Acho que tudo aconteceu por uma razão. Não tive o
que queria e as coisas não correram como eu desejava. Mas acho que
acabei por ter aquilo de que precisava.
E,
para além do tempo para mim própria e para o meu crescimento e
maturação, vejo mais vantagens em estar solteira, sim. Mas não
aquelas típicas e pré-concebidas que referi no início.
Apesar
de tudo, e mesmo que tenha pensado que não, continuo a ser uma
romântica. Como disse, estou tranquila e acho que toda esta dor foi
necessária ao meu crescimento e à minha transformação na pessoa
que hoje sou. Mas isso não quer dizer que queira ficar solteira e
sozinha para sempre. No fundo, ainda espero e sonho com algo melhor.
Estar solteira é, sem dúvida, uma boa desculpa para investirmos mais em nós e crescermos a nível pessoal. Mas acho que se sente sempre aquela vontade de encontrar alguém que nos faça feliz! Pelo menos, eu revejo-me muito nisso que escreveste!
ResponderEliminarSim, continuo a sentir essa vontade, acho que é quase inevitável :P Se calhar é por isso que algumas pessoas não conseguem estar solteiras, ou sê-lo por muito tempo, pois parece que estão sempre à procura de alguém para preencher o vazio deixado por outra. Mas, ao fazerem isso, não investem em si próprias...coisa que é fundamental e que pode ser mesmo necessária na altura. Porque, sim, é uma boa desculpa para sermos "egoístas", ahah :P
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