07/02/19

Sobre ser solteira


Pensei muito antes de escrever isto. No início, tinha idealizado algo como uma lista: uma lista de vantagens de se ser solteira, escrita de forma crua e directa. Depois, pensei em como isso me deixaria, possivelmente, mal vista: vista como fria e egoísta, como se a minha relação não tivesse significado nada. Ainda assim, depois de ter dado voltas a este tópico para criar um texto decente, continuo com esse receio, bem como com o receio de ser mal-interpretada.

No entanto, acho que estes são riscos que corro sempre, a cada frase que escrevo. As pessoas gostam de julgar, de fazer juízos pré-concebidos ou de criar logo uma imagem à mais simples afirmação.

Por exemplo, é comum achar-se que uma mulher jovem e solteira saia muito para se divertir com as amigas e que também o faça com aquela segunda intenção de vir a conhecer alguém, disponível como ela, nem que seja apenas para passarem um bom bocado.

Eu estou solteira há dois anos e qualquer coisa, e bem que podia usar o meu tempo para esse tipo de programas. No entanto, continuo caseira como sempre fui.

Não vou dizer que, no início, não me apeteceu sair e conhecer pessoas novas. Mas não o fiz. Em parte por cobardia, em parte por não ter quem me acompanhasse. E, bem lá no fundo, por achar que não valia a pena.

Achava que o meu tempo de conhecer pessoas novas e de namorar já tinha passado. Achava que isto era quase impossível de acontecer quase aos vinte e cinco anos, especialmente tendo em conta que as pessoas dessa idade e que eu conhecia já estavam em relações de alguns anos – isto na altura em que costumava comparar-me imenso com os outros. E, aliás, nem sequer estava a ver-me a atirar-me ou a fazer e a dar conversa a qualquer um. Se sempre fui tão selectiva nas minhas amizades, então também iria sê-lo quanto a possíveis candidatos. Aliás, iria ser mais selectiva ainda. Certo? Para mim, tem lógica.

A verdade é que me senti tão sozinha, triste e destroçada que podia ter feito mesmo isto, sim. Procurar conforto no primeiro que me aparecesse, no primeiro que metesse conversa. Pois...se eu não fosse selectiva. Se não fosse exigente. Se não tivesse aquela espécie de mecanismo de defesa que parece dizer-me quem vale a pena manter por perto e quem é melhor começar a dispensar. Se não tivesse sempre aquele pensamento constante de Quando for, tem que ser em grande e tem que valer mesmo a pena.

Talvez, no fundo, não estivesse realmente preparada para conhecer pessoas.



Eu era infeliz. Sentia que já não me era dado o devido valor; sentia um distanciamento da parte do outro, como se, entre nós, houvesse um fosso. Sentia que já não nos ligavam os mesmos sentimentos de outrora. O fosso parecia alargar-se mais a cada dia que passava. Por outro lado, sentia-me sufocada. Isto pode soar contraditório, mas era como se houvesse uma necessidade, uma obrigação, de nos mantermos minimamente conectados.

Esqueçamos o fosso. Imaginem duas pessoas de mão dada e uma fenda a começar a abrir-se sob os seus pés, entre elas. A fenda vai ficando cada vez mais larga com o passar dos dias, mas aquelas duas pessoas não largam as mãos. No fim, apenas conseguem tocar-se com a pontinha dos dedos.

Eu sentia-me como se houvesse uma necessidade ou uma obrigação de fazer sempre algo para que eu e essa pessoa continuássemos a tocar-nos apenas com a pontinha dos dedos. Mesmo que tal fosse contra minha vontade. Era uma necessidade e uma obrigação de estar, de perguntar, de dizer o que estava a fazer ou a planear fazer. Estava a segurar algo pela ponta dos dedos, com demasiado medo para largá-la, e tal estava a consumir as minhas forças e, inclusive, a minha felicidade.

Para mim, um namoro não deve fazer ninguém infeliz, um compromisso não deve ser visto como uma obrigação e uma relação não deve esgotar as forças de uma pessoa.

Magoei. Mas, tempos mais tarde, também fui magoada. Parece que o karma não perdeu tempo comigo. Por isso, posso dizer que acabei por conhecer os dois lados da moeda, e de uma forma demasiado rápida, dolorosa e inesperada.

Daí todos aqueles pensamentos. Daí que, sim, podia ter-me contentado com qualquer um depois de tudo. Afinal de contas, se as coisas acabariam mal de qualquer forma, o que interessava?

Mas não. Selectiva, como sempre. E, claro, com demasiado medo de que as coisas voltassem a correr mal.

Eventualmente, acabei por deixar de pensar no assunto. Mesmo a sentir-me sozinha e destroçada, acabei, com um enorme esforço, por deixar de pensar em rapazes e em relações para passar a focar-me em mim mesma.

E foi bom ter sido assim. E continua a ser bom. Porque, olhando para trás, acho que nada teria corrido bem se tivesse acabado por forçar as coisas – se tivesse tentado, a todo o custo, conhecer alguém para preencher aquele vazio; se tivesse saído com o único intuito de conhecer alguém; se tivesse, efectivamente, “andado à procura”. Isto porque eu não estava bem. Não estava bem comigo mesma e mal me preocupava comigo. Cheguei a detestar-me a mim própria. E ouvia constantemente aqueles pensamentos clichés de que, se não gostarmos de nós próprios, não podemos esperar que outras pessoas o façam.

Acho, por isso, que a maior vantagem de ser solteira foi esta questão do tempo. Tempo para voltar a pensar em mim, investir em mim, cuidar de mim, preocupar-me comigo. Tempo para pôr a cabeça no lugar, as ideias em ordem e começar a pensar com clareza. Reflectir no que correu mal e naquilo que realmente queria para uma relação. Tempo para crescer e ser forte. Não teria conseguido nenhuma destas coisas se tivesse saltado para uma relação mais ou menos séria assim que me vi sozinha, triste e desamparada. No fim de contas, parece que, realmente, algo me travou em relação àquela ideia maluca de querer sair e conhecer pessoas. Parecia que algo me dizia que eu tinha que ficar sozinha por uns tempos. Que eu tinha que aprender e a gostar de estar sozinha, em primeiro lugar.

E todo este é um processo contínuo. Agora, já me sinto em paz com esta situação. Sinto que cresci e que tenho uma ideia clara daquilo que procuro, e que, talvez, na altura não estivesse realmente preparada para um compromisso. Já esqueci a questão da idade e das comparações. Acho que tudo aconteceu por uma razão. Não tive o que queria e as coisas não correram como eu desejava. Mas acho que acabei por ter aquilo de que precisava.

E, para além do tempo para mim própria e para o meu crescimento e maturação, vejo mais vantagens em estar solteira, sim. Mas não aquelas típicas e pré-concebidas que referi no início.

Apesar de tudo, e mesmo que tenha pensado que não, continuo a ser uma romântica. Como disse, estou tranquila e acho que toda esta dor foi necessária ao meu crescimento e à minha transformação na pessoa que hoje sou. Mas isso não quer dizer que queira ficar solteira e sozinha para sempre. No fundo, ainda espero e sonho com algo melhor.

2 comentários:

  1. Estar solteira é, sem dúvida, uma boa desculpa para investirmos mais em nós e crescermos a nível pessoal. Mas acho que se sente sempre aquela vontade de encontrar alguém que nos faça feliz! Pelo menos, eu revejo-me muito nisso que escreveste!

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    1. Sim, continuo a sentir essa vontade, acho que é quase inevitável :P Se calhar é por isso que algumas pessoas não conseguem estar solteiras, ou sê-lo por muito tempo, pois parece que estão sempre à procura de alguém para preencher o vazio deixado por outra. Mas, ao fazerem isso, não investem em si próprias...coisa que é fundamental e que pode ser mesmo necessária na altura. Porque, sim, é uma boa desculpa para sermos "egoístas", ahah :P

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