Na última publicação da série Diários da quarentena, em que falei
acerca de se agradecer, referi que uma das coisas pelas quais estou grata neste
período de isolamento é a tecnologia. No entanto, esta mesma tecnologia, que
adoramos por nos manter todos juntos mesmo que separados, consegue ser uma faca
de dois gumes, em particular no que diz respeito às redes sociais. Se, por um
lado, a partilha de conteúdo pode inspirar-me e motivar-me e fazer-me pensar
positivo, pode, por outro lado, deixar-me cheia de stress e de ansiedade. E
tudo isto devido à questão da produtividade.
Parece que muitas pessoas
estão a encarar este período como um tempo para serem mais produtivas do que
nunca. Claro que é bom que se mantenham ocupadas e entretidas em casa, que
descubram novas coisas que gostem de fazer ou que façam coisas que já não
faziam há muito tempo. Mas vê-las a fazer tanta coisa, como, por exemplo, a
fazer tanto exercício físico todos os dias, a cozinhar imensas coisas
diferentes ou a criar tanta coisa nova em tão pouco tempo – e a gabarem-se por
isso, ao que parece –, acaba por me deixar stressada e desnorteada. Eu
pergunto-me se essas pessoas não param, e até me pergunto se fazem o que fazem
por gosto e em prol do seu bem-estar ou se apenas para mostrar aos outros o
quão produtivas estão a ser nestes dias. Seja como for, às vezes isto só me
deixa stressada, em vez de me inspirar e motivar a ser produtiva – e, por isso,
sinto-me bem melhor quando me desligo durante horas das redes.
Até porque a questão é: não
temos que ser produtivos. Isto é uma pandemia, e não uma competição de
produtividade. Não é para ver quem faz mais coisas em menos tempo, ou quem cria
mais projectos ou conteúdo. Se antes de tudo isto já nos era dito que não
precisamos de ser produtivos o tempo todo e que também temos que descansar,
então não faz sentido que as coisas sejam diferentes agora.