Se eu achava que Fevereiro tinha sido estranho, então o que dizer de Março? Logo Março. O meu mês de aniversário e um mês em que tinha tanta coisa pensada. Estava mesmo a contar que fosse um mês interessante.
Começou de uma forma um bocado
triste e desanimadora, em parte devido ao facto de estar prestes a fazer anos. Na
manhã do meu aniversário, que foi nos inícios do mês, acordei triste, deixei-me
ficar na cama e só queria ficar sozinha, até porque não tinha nada planeado. Estava
triste porque mais um ano se tinha passado e tudo continuava mais ou menos na
mesma. Porque os anos parecem apenas passar por mim e eu só assisto.
Mas lá ganhei forças para me
levantar, para me vestir e para sair de casa, mesmo em baixo. Fui almoçar com o
meu pai a um dos meus restaurantes favoritos, à beira-mar, na esplanada. O dia
estava tão bonito, a comida deliciosa como sempre, aquela vista fantástica
sobre o mar, e eu comecei a animar-me. Recebi bons presentes. Depois, acabei
por ir jantar fora também, desta vez com a minha mãe. Uns tios meus também nos
acompanharam, sem eu ter estado à espera. Fomos a outro dos meus restaurantes
favoritos e foi bastante agradável. Não tive bolo de aniversário, porque eu
própria não o quis; aliás, não quis fazer a tradicional festa em casa com a
família, pois não estava mesmo com espírito e vontade para tal. Em vez de bolo,
comi um delicioso brownie com uma
bola de gelado de After Eight como
sobremesa, que me soube pela vida. No dia a seguir, jantei com o R., que me
preparou um jantar romântico à luz de velas – e aí acabei por ter bolo! Não estava
mesmo nada à espera – presumi que jantaríamos num restaurante – e soube tão
bem, achei um gesto tão querido e senti-me tão grata e feliz. Depois de tudo
isto, achei que tinha sido mesmo tola por ter acordado tão triste no meu dia de
anos.
No dia a seguir ao jantar
romântico, fui para Lisboa, onde passei uns dias com a minha irmã. Durante o
fim-de-semana, estive também com uma amiga dos tempos de escola, que costumo
reencontrar em situações assim, em viagens. Em Lisboa fui a um almoço de sushi
fantástico, a um belo buffet vegan e a um brunch maravilhoso. Foi a primeira vez que fui a um brunch – aqui onde vivo há pouquíssimos
estabelecimentos que o fazem – e será, sem dúvida, uma experiência a repetir. O
sítio, o Stanislav Café, era muito giro e fofinho e comi tudo a que tive
direito: ovos mexidos, ovos estrelados, tostas com salmão e abacate, panquecas,
enfim. E provei um chai latte, que é
algo mesmo maravilhoso – e fiquei a roer-me porque só pensava em como devia ter
pedido um para mim.
Fui às exposições do Harry Potter
e das marionetas do Tim Burton, ambas muito fofinhas e muito interessantes,
embora tivesse achado que as entradas deveriam ser mais limitadas – detesto ver
uma exposição à pressa e com imensa gente à minha volta, a falar muito (e alto,
por vezes), a querer tirar fotos a tudo. Os espaços eram pequenos, e o facto de
estarem sobrelotados e, por isso, barulhentos, fez com que não tivesse tirado o
melhor partido das experiências. Mas, multidões à parte, gostei bastante.
Ainda em Lisboa, fui ainda ao
concerto dos Anathema, sobre o qual falei na publicação anterior; revi mais
dois amigos dos tempos de escola e passámos um serão bem divertido; desfrutei
do sol e de jardins e de esplanadas – parecia que já era verão –; fui às
compras que nem uma maluca; fui buscar mais algum material de desenho. E soube-me
bem estar fora por um bocadinho, mudar de ares, fazer coisas diferentes. No dia
de regressar a casa, já as coisas estavam a começar a mudar aos poucos e um
maior alarmismo já se fazia sentir; já estava consciente de que, assim que
estivesse em casa, teria que me isolar. Especialmente tendo passado aqueles
últimos dias em lugares cheios de gente.
Regressei na noite de doze de
Março, pelo que me mantenho em casa desde aí. Penso que ter estado fora antes
disso fez com que entrasse nesta fase de isolamento como que renovada – como se
tivesse recebido um boost de energia –,
com boas recordações e grata. Grata por ter tido essa possibilidade e por ter
conseguido chegar a casa em segurança, por estar bem, por ter saúde, por ter
uma casa para onde voltar. Aliás, acho que nunca dei tanto valor a estas coisas
como neste mês que se passou.
Nos primeiros dias de
quarentena, o sol brilhou e o calor fez-se sentir, como se eu tivesse trazido o
clima de Lisboa comigo. Foi algo que também deu outro ânimo, outra motivação e
energia para enfrentar este período. Desfrutei do sol a ler na varanda e até
almocei lá fora nesses dias, o que soube tão bem.
Em casa, tenho desenhado
bastante; tenho já mais alguns rascunhos em que trabalhar e muitas outras
ideias em mente. Estou a regressar à escrita, escrevendo com mais frequência –
e isso deixa-me entusiasmada. Estou a ler Coração
Negro, que estava a ser um tormento no início e eu estava a arrastar-me
pelas páginas; mas depois, finalmente, começou a tornar-se muito interessante. Ando
a fazer mudanças e limpezas em casa, a pintar móveis e a mudar-me para outro
quarto; coisas que estão a ser bastante cansativas mas que, no final,
certamente valerão a pena. Vi, finalmente, o Frozen II, que adorei, achei tão fofinho e cheio de lições valiosas
e de palavras sábias; a própria história está tão bem conseguida, e,
visualmente, nem se fala! Tenho aproveitado para fazer novas experiências na
cozinha: já experimentei uma nova receita de panquecas, uns pãezinhos de leite
e umas bolachas de maçã e canela. Todas elas saíram muito bem. Também tentei
fazer um chai latte. Obviamente não
ficou como o que provei em Lisboa, mas ficou muito saboroso e reconfortante. Tenho
feito, também, alguns exercícios de pilates. Custa-me sempre começar, pois a
motivação para fazer exercício em casa, sozinha, é quase zero; mas, depois,
acabo por me sentir tão bem.
Este mês também celebrei um
ano de namoro com o R.. Apenas estive com ele uma vez no mês inteiro e ando
cheia de saudades dele, mas, de vez em quando, lá fazemos uma videochamada para
tornar as coisas menos difíceis; para, de certo modo, estarmos mais próximos. Eu
acho que, superando este período difícil, seremos, depois, capazes de superar
qualquer outra coisa. É nestas alturas que eu penso como foi bom esta crise ter
surgido agora, neste momento, em vez de há alguns anos, quando a tecnologia não
nos oferecia tais possibilidades de nos aproximarmos de quem nos é mais
importante, mesmo que estejamos fisicamente tão distantes.
Assim foi Março, com um
começo, meio e fim tão diferentes entre si. Terminei o mês de uma forma
estranhamente tranquila, como que me deixando levar por estes últimos acontecimentos
– o que há-de uma pessoa fazer nestas circunstâncias, para além de levar as
coisas com calma e ir vivendo um dia de cada vez? –, e assim entrei em Abril,
que nem parece um novo mês, mas antes como um prolongamento do mês anterior. Mas
estou bem, física e psicologicamente, e mantenho a esperança de que tudo isto
vai passar e que vamos todos ficar bem.
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