06/09/20

Um mês de recomeços

Perco a conta às pessoas que dizem que Setembro é um mês de recomeços e que gostam imenso deste mês precisamente por isso. Por um lado, acho bonito. Houve a pausa do verão para recarregar baterias, e agora é hora de recomeçar, regressar às rotinas, arregaçar as mangas. Por outro lado, chateia-me e deixa-me algo triste. 

Na verdade, eu nunca gostei de Setembro, precisamente por ser um mês de recomeços e de volta à rotina. Como se eu quisesse que as férias de verão durassem para sempre. Porque era das alturas do ano em que me sentia mais feliz: não sentia pressões, não tinha obrigações, passava mais tempo sozinha a fazer o que mais gostava, não tinha que agradar ninguém nem fingir o que quer que fosse, sentia-me confortável. Regressar à escola e, posteriormente, à universidade, causava-me sempre uma enorme ansiedade por diversos motivos. E, nos últimos anos, Setembro era apenas mais um mês de trabalho como outro qualquer. A questão dos recomeços e do regresso à rotina deixou de se aplicar. 


Este ano, de tão atípico que tem sido, continuou a não se aplicar. É por isso que, no fundo, me entristece um pouco: vejo a grande maioria das pessoas a voltar à sua rotina e ao seu trabalho depois de uma pausa merecida, ao passo que eu continuo nessa pausa sem sentido e que parece não ter fim. Não diria que sinto falta de um trabalho a tempo inteiro, mas sinto especialmente falta de me arranjar, de fazer algo, de ajudar e de contribuir com algo, de chegar a casa ao final de um dia depois de o sol se ter posto e descansar com aquela sensação boa e gratificante de mais um dia concluído e de dever cumprido. 

Isto e o facto de ver as pessoas, inclusive na minha casa, a retomar o trabalho e as rotinas, impele-me a fazer algo. E também o facto de algumas pessoas relembrarem que restam apenas quatro meses neste ano – como assim, como foi que isto passou tão rápido?! – e que estão dispostas a tirar o máximo partido deles, falando em rever os planos e os objectivos que tinham no início do ano e que não levaram avante por tudo ter mudado de forma tão drástica e as vidas de todos terem sido viradas do avesso. 

E isto inspira-me. Mas, mais do que isso, deixa-me ansiosa e como que pressionada. Acho que é tempo, não de recomeçar propriamente, mas sim de arregaçar as mangas e fazer algo, resgatar um dos grandes objectivos que tinha para este ano e que permaneceu em stand-by por tudo o que aconteceu entretanto. Pensar nisto, no entanto, para além da ansiedade e da pressão por ter tanto que preparar para que tal aconteça, deixa-me com um medo tal e com uma enorme falta de confiança, que já me paralisam desde há muito e que eu não sei como ultrapassar. E penso que, talvez, também tenha sido por isso que fui adiando a concretização deste objectivo. Por um lado, penso que vai correr tudo mal. A juntar a isso, está a abater-se um terrível desânimo sobre mim. 

Por outro lado, no entanto, imagino que as coisas correm bem. E no que acontece caso as coisas corram bem. As manhãs sem pressa e sem correria. Um trabalho calmo num ambiente calmo. As recompensas – a nível monetário e não só. O chegar a casa com a sensação de dever cumprido. O ter tempo livre para o que realmente importa. Porque, na verdade, acho que a vida é demasiado curta para que a maior parte dela seja passada a trabalhar. E para ser passada a trabalhar para os outros, e, por vezes, contra os nossos próprios valores. Acho que não há nada melhor do que sermos o nosso próprio chefe. 

Talvez o difícil seja mesmo começar, bem como o preparar tudo para poder começar. Porque o sair da zona de conforto já o fiz algumas vezes, embora tenha sido em circunstâncias diferentes e eu nunca tenha feito algo assim antes. Talvez, depois, tudo corra bem e eu me aperceba que todos estes receios não tiveram sentido. 

Vou, assim, fazer como estas pessoas inspiradoras e tirar partido destes últimos quatro meses do ano, parando com as desculpas, combatendo a procrastinação e eliminando distracções. 2020 ainda pode ser um ano em que faça algo. Pode não ser o ano em que concretize este objectivo em pleno. Mas pode ser o ano em que todo o trabalho nos bastidores fique pronto, para que 2021 comece em grande. Porque, na verdade, não estou numa corrida, este ano já foi atípico que chegasse e não está ninguém atrás de mim, ou a pressionar-me. Por isso, se conseguir começar algo novo ainda este ano, tudo bem. Se só conseguir no início do ano seguinte, tudo bem na mesma. O importante é manter-me focada e definir a direcção que pretendo seguir.

2 comentários:

  1. Confia. Em ti e no Universo. Segue em frente, sem medos.
    Um enorme beijinho e um abraço cheio de coragem para dar força para realizares o que mais queres. 😘🌟

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