Estou,
de momento, a ler O Herói das Eras, o último livro da saga
Mistborn – que é absolutamente fantástica e cuja review,
já estou a ver, vou adorar escrever. Ainda esta semana,
deparei-me com uma passagem linda a propósito do que escrevi na
última publicação. Linda porque achei incrível esbarrar-me com
uma passagem de um livro que parece descrever a minha vida neste
ponto.
-
Na verdade, Lorde Brisa – disse Sazed – eu sinto-me algo culpado.
Brisa
revirou os olhos.
-
Sazed. Terá sempre
que se sentir culpado com alguma coisa? (…)
Não me quer dizer exactamente por que motivo se há-de sentir
culpado por estudar,
entre todas as coisas?
-
Porque gosto.
-
Isso é maravilhoso, meu caro – disse Brisa. – Porquê ficar
envergonhado com esse gosto?
(…)
-
Sinto-me feliz por poder simplesmente sentar-me a ler, sem ter de
estar ao comando. É por isso que me sinto culpado. (…)
Não seria isto que Tindwyl teria querido de mim.
(…)
-
Seria isto o que ela quereria de si, Sazed? – disse Brisa. –
Negar o que é? (…)
Um homem é
aquilo por que tem paixão. (…)
Descobri que se abdicamos daquilo que mais queremos em prol do que
julgamos que devíamos querer mais, acabamos infelizes.
-
E se o que eu quero não for aquilo de que a sociedade necessita? –
disse Sazed. – Por vezes temos simplesmente de fazer coisas de que
não gostamos. Esse é um simples facto da vida, julgo eu.
Brisa
encolheu os ombros.
-
Eu não me preocupo com isso. Limito-me a fazer o que faço bem.
Assim
que li isto, revi-me no Sazed. Sinto-me culpada. Não estou a fazer o
que esperariam de mim. Concordo com o facto de termos que fazer
coisas de que não gostamos.
Mas
vamos por partes.
Aquilo
que todos esperam de mim é que eu arranje um novo emprego. Eu sei
que tenho que arranjar um novo emprego. Eu quero arranjar um
novo emprego. No entanto, também quero tentar conhecer-me, perceber
do que gosto e o que quero fazer. Não apenas em termos de trabalho,
mas o que quero da vida em geral – já me disseram se, se tentar
imaginar o que quero daqui a X anos, então saberei o que quero e o
que posso fazer agora para lá chegar. Essas preocupações
assombram-me todos os dias, e, todos os dias, é como se me sentisse
algo “culpada” por não ter uma resposta e por não saber o que
quero.
Num
destes dias, sem nada para fazer, pus-me a ver um vídeo no
Instagram. Acreditem quando vos digo que nunca vejo vídeos.
Nem sei o que me deu para ver um vídeo, tão-pouco aquele vídeo
específico, mas, ao vê-lo, houve um clique na minha cabeça. Houve
um É isto. Vou fazer isto. Houve uma motivação – o que
não deixa de ter graça, porque este era mesmo o tema do vídeo. E
sim, sei que isto parece uma parvoíce.
Mas
foi isto. Entusiasmei-me com algo. Pesquisei sobre esse algo e ganhei
vontade de aprender sobre esse algo. Até o transformei num projecto
na minha cabeça. Foi como aconteceu com o Sazed; ele estava a passar
por uma depressão após a morte de alguém que lhe marcou muito, e,
desde aí, perdeu o interesse e o entusiasmo pelas coisas que o
apaixonaram outrora – semelhante ao que aconteceu comigo, na
verdade. Mas, tal como o Sazed, também me sinto culpada por estar
entusiasmada com algo e por querer começar algo novo, quando não é
bem isto que esperam de mim e quando não é isto que eu,
supostamente, devia estar a fazer. Porque eu devia estar a procurar
emprego.
Ao
mesmo tempo, no entanto...será assim tão errado adiar a procura de
emprego para que invista em algo que me entusiasma? Para que invista
em mim? Especialmente tendo em conta que a grande diferença entre eu
estar ou não empregada prende-se com o simples facto de eu passar
mais tempo em casa do que fora? É que, tirando isso, eu continuo a
tratar das minhas despesas; a pagar a gasolina do meu carro, a pagar
pelas minhas lentes de contacto, a pagar pelos seminários e
pequenos cursos em que penso participar, a pagar por uma ou outra
coisa que queira comprar para mim – mas, no que toca a este último
ponto, vou começar a reduzir nos gastos supérfluos. É mau e
estranho não ver dinheiro a cair na minha conta bancária por uns
tempos, mas ainda me restam algumas poupanças. Por isso, mais uma
vez, será isto assim tão errado? Será que temos que fazer tudo à
pressa? Sair de um emprego e andar feita doida à procura de outro
como se não houvesse amanhã? Sem parar um pouco para pensar? Será
assim tão errado parar, desligar um pouco da “vida de adulto” e
do “mundo real” e...pensar? Tentar conhecer-nos e saber os nossos
sonhos e objectivos?
Não
sei, mas parece que isto não faz sentido para a sociedade em geral.
A sociedade em geral gosta de ver pessoas a estudar e/ou a trabalhar.
O meio-termo não existe. A sociedade não gosta de ver pessoas
“paradas”, mas depois admira-se de ver pessoas infelizes, que
parecem fazer tudo de forma mecânica e automática sem qualquer
motivação e que têm que depender de drogas – sejam elas
antidepressivos ou outra coisa qualquer – para conseguirem seguir
em frente e aguentar mais um dia.
Para
além de tudo isto, outro aspecto devido ao qual me revejo nesta
personagem é que ela, o Sazed, precisou de um empurrão para voltar
a entusiasmar-se com os estudos. Precisou de se ver forçado a
estudar novamente, mas a estudar algo diferente daquilo a que estava
habituado. Penso que também esta situação se pode aplicar a mim.
Talvez eu também precise de um empurrão. Talvez precise de
regressar a seminários e a pequenos cursos para me relembrar de como
o mundo da nutrição – área em que me licenciei – pode ser
bonito.
Porque,
tal como eu disse, tenho que ser responsável por me ter licenciado e
arcar com as consequências disto. Para ser sincera, é inevitável,
quando vou aos sites de emprego, não procurar automaticamente por
empregos na minha área. Em paralelo, existe o novo “algo” que me
entusiasmou. Tanto pode como pode não resultar; só sei que, se não
tentar, se não aprender e se não me dedicar, nunca saberei. Na
verdade, sempre achei que podia ter um emprego na área em que me
licenciei e, em paralelo, dedicar-me a um hobby. E, depois, se
puder fazer desse hobby a minha vida profissional, ter-me-á
saído a sorte grande e poderei, finalmente, dizer que faço aquilo
de que gosto. E poderei ter mudado de vida.
PS:
Quanto à questão de ser escritora, nem sei bem se ainda tenho esse
sonho. Talvez também precise de um empurrão a esse nível. Mas não
agora. Gostava muito de regressar aos meus projectos literários, mas
sinto que este ainda não é o momento. Por enquanto, tenho outras
ideias em mente – e, para ser honesta, outras prioridades.