27/07/18

Culpada


Estou, de momento, a ler O Herói das Eras, o último livro da saga Mistborn – que é absolutamente fantástica e cuja review, já estou a ver, vou adorar escrever. Ainda esta semana, deparei-me com uma passagem linda a propósito do que escrevi na última publicação. Linda porque achei incrível esbarrar-me com uma passagem de um livro que parece descrever a minha vida neste ponto.

- Na verdade, Lorde Brisa – disse Sazed – eu sinto-me algo culpado.
Brisa revirou os olhos.
- Sazed. Terá sempre que se sentir culpado com alguma coisa? (…) Não me quer dizer exactamente por que motivo se há-de sentir culpado por estudar, entre todas as coisas?
- Porque gosto.
- Isso é maravilhoso, meu caro – disse Brisa. – Porquê ficar envergonhado com esse gosto?
(…)
- Sinto-me feliz por poder simplesmente sentar-me a ler, sem ter de estar ao comando. É por isso que me sinto culpado. (…) Não seria isto que Tindwyl teria querido de mim.
(…)
- Seria isto o que ela quereria de si, Sazed? – disse Brisa. – Negar o que é? (…) Um homem é aquilo por que tem paixão. (…) Descobri que se abdicamos daquilo que mais queremos em prol do que julgamos que devíamos querer mais, acabamos infelizes.
- E se o que eu quero não for aquilo de que a sociedade necessita? – disse Sazed. – Por vezes temos simplesmente de fazer coisas de que não gostamos. Esse é um simples facto da vida, julgo eu.
Brisa encolheu os ombros.
- Eu não me preocupo com isso. Limito-me a fazer o que faço bem.

Assim que li isto, revi-me no Sazed. Sinto-me culpada. Não estou a fazer o que esperariam de mim. Concordo com o facto de termos que fazer coisas de que não gostamos.

Mas vamos por partes.

Aquilo que todos esperam de mim é que eu arranje um novo emprego. Eu sei que tenho que arranjar um novo emprego. Eu quero arranjar um novo emprego. No entanto, também quero tentar conhecer-me, perceber do que gosto e o que quero fazer. Não apenas em termos de trabalho, mas o que quero da vida em geral – já me disseram se, se tentar imaginar o que quero daqui a X anos, então saberei o que quero e o que posso fazer agora para lá chegar. Essas preocupações assombram-me todos os dias, e, todos os dias, é como se me sentisse algo “culpada” por não ter uma resposta e por não saber o que quero.

Num destes dias, sem nada para fazer, pus-me a ver um vídeo no Instagram. Acreditem quando vos digo que nunca vejo vídeos. Nem sei o que me deu para ver um vídeo, tão-pouco aquele vídeo específico, mas, ao vê-lo, houve um clique na minha cabeça. Houve um É isto. Vou fazer isto. Houve uma motivação – o que não deixa de ter graça, porque este era mesmo o tema do vídeo. E sim, sei que isto parece uma parvoíce.

Mas foi isto. Entusiasmei-me com algo. Pesquisei sobre esse algo e ganhei vontade de aprender sobre esse algo. Até o transformei num projecto na minha cabeça. Foi como aconteceu com o Sazed; ele estava a passar por uma depressão após a morte de alguém que lhe marcou muito, e, desde aí, perdeu o interesse e o entusiasmo pelas coisas que o apaixonaram outrora – semelhante ao que aconteceu comigo, na verdade. Mas, tal como o Sazed, também me sinto culpada por estar entusiasmada com algo e por querer começar algo novo, quando não é bem isto que esperam de mim e quando não é isto que eu, supostamente, devia estar a fazer. Porque eu devia estar a procurar emprego.

Ao mesmo tempo, no entanto...será assim tão errado adiar a procura de emprego para que invista em algo que me entusiasma? Para que invista em mim? Especialmente tendo em conta que a grande diferença entre eu estar ou não empregada prende-se com o simples facto de eu passar mais tempo em casa do que fora? É que, tirando isso, eu continuo a tratar das minhas despesas; a pagar a gasolina do meu carro, a pagar pelas minhas lentes de contacto, a pagar pelos seminários e pequenos cursos em que penso participar, a pagar por uma ou outra coisa que queira comprar para mim – mas, no que toca a este último ponto, vou começar a reduzir nos gastos supérfluos. É mau e estranho não ver dinheiro a cair na minha conta bancária por uns tempos, mas ainda me restam algumas poupanças. Por isso, mais uma vez, será isto assim tão errado? Será que temos que fazer tudo à pressa? Sair de um emprego e andar feita doida à procura de outro como se não houvesse amanhã? Sem parar um pouco para pensar? Será assim tão errado parar, desligar um pouco da “vida de adulto” e do “mundo real” e...pensar? Tentar conhecer-nos e saber os nossos sonhos e objectivos?

Não sei, mas parece que isto não faz sentido para a sociedade em geral. A sociedade em geral gosta de ver pessoas a estudar e/ou a trabalhar. O meio-termo não existe. A sociedade não gosta de ver pessoas “paradas”, mas depois admira-se de ver pessoas infelizes, que parecem fazer tudo de forma mecânica e automática sem qualquer motivação e que têm que depender de drogas – sejam elas antidepressivos ou outra coisa qualquer – para conseguirem seguir em frente e aguentar mais um dia.

Para além de tudo isto, outro aspecto devido ao qual me revejo nesta personagem é que ela, o Sazed, precisou de um empurrão para voltar a entusiasmar-se com os estudos. Precisou de se ver forçado a estudar novamente, mas a estudar algo diferente daquilo a que estava habituado. Penso que também esta situação se pode aplicar a mim. Talvez eu também precise de um empurrão. Talvez precise de regressar a seminários e a pequenos cursos para me relembrar de como o mundo da nutrição – área em que me licenciei – pode ser bonito.

Porque, tal como eu disse, tenho que ser responsável por me ter licenciado e arcar com as consequências disto. Para ser sincera, é inevitável, quando vou aos sites de emprego, não procurar automaticamente por empregos na minha área. Em paralelo, existe o novo “algo” que me entusiasmou. Tanto pode como pode não resultar; só sei que, se não tentar, se não aprender e se não me dedicar, nunca saberei. Na verdade, sempre achei que podia ter um emprego na área em que me licenciei e, em paralelo, dedicar-me a um hobby. E, depois, se puder fazer desse hobby a minha vida profissional, ter-me-á saído a sorte grande e poderei, finalmente, dizer que faço aquilo de que gosto. E poderei ter mudado de vida.


PS: Quanto à questão de ser escritora, nem sei bem se ainda tenho esse sonho. Talvez também precise de um empurrão a esse nível. Mas não agora. Gostava muito de regressar aos meus projectos literários, mas sinto que este ainda não é o momento. Por enquanto, tenho outras ideias em mente – e, para ser honesta, outras prioridades.

21/07/18

Paixões



Quando publiquei esta fotografia no Instagram, a descrição que lhe atribuí foi Happy place. Uma mesa, uma boa caneca de chá, folhas em branco, lápis com fartura e música ambiente – esta é uma combinação que me faz sentir bem.

Sempre me disseram que, profissionalmente, eu devia fazer aquilo que gostava. Sempre gostei de desenhar; sempre conseguia arranjar um tempinho para o fazer, ainda que com pouca frequência, e sempre tentei melhorar, aperfeiçoar e superar-me a mim própria neste aspecto. Contudo, sempre tive, também, plena consciência de que fazer disto a minha vida profissional estava bem longe do meu alcance e que nunca daria certo, uma vez que eu, mais do que qualquer pessoa, sou ciente das minhas capacidades enquanto “artista”.

Para além do desenho, sempre gostei de escrever. Tal como no desenho, sempre tentei melhorar. E, ao contrário do desenho, a escrita esteve mais presente na minha vida, uma vez que era muito mais acessível: bastava ter o meu computador por perto. Dediquei-lhe muito mais tempo, escrevi contos e livros com todo o amor e dedicação, participei em concursos literários e, durante estes anos do meu “auge literário”, sonhava em ser escritora. De facto, se o dinheiro não existisse ou não importasse, eu teria, sim, sido escritora.

Mas não pude ser. É muito bonito dizer que devemos seguir os nossos sonhos e que devemos fazer o que gostamos, mas também precisamos de sobreviver. Precisamos de sustento. Claro que existem paixões que acabam por ter sucesso e dar sustento. Mas, infelizmente, isto não acontece com todos.

Ultimamente, e uma vez que me vejo forçada a procurar um novo emprego, tenho pensado mais neste assunto. Em investir em algo de que goste realmente. A investir em mim, ao invés de iniciar uma aventura no primeiro emprego que me aparecer – correndo o risco de acontecer o mesmo que aconteceu com este que acabei de deixar. Penso em como gostava de ser daquelas pessoas que mudam radicalmente de vida. Que tiram um curso, mas que acabam por seguir uma paixão e fazem dela a sua vida.

Mais tarde, contudo, estes pensamentos começam a cair por terra quando começo a cavar o assunto mais a fundo. Licenciei-me numa área que nada tem a ver com artes nem com escrita e que em pouco ou nada estimula a minha imaginação e criatividade. É algo de que me arrependo e que acho que não foi bem pensado e que acabou por não ser uma boa decisão, mas uma pessoa é demasiado nova e tola quando vai para a universidade e mal sabe o que anda a fazer e o que quer da vida – à excepção daqueles prodígios que já têm uma grande maturidade e uma determinação do caraças ainda antes de chegarem à universidade e que eu invejo de morte. No entanto, apesar de tudo isto, foi uma decisão minha – que contou com interferências externas, mas adiante –, e, por isso, tenho que ser responsável por ela e arcar com as consequências. Para além do mais, acabo por me lembrar do quanto investi nisto. Não em termos financeiros, sem querer descurar essa parte. Mas em termos de tempo, de paciência, de energia. Nos sacrifícios que tive que fazer. Talvez não seja algo a abandonar completamente. E talvez a questão de mudar de vida também não seja para todos.


Continua na próxima publicação.

14/07/18

Coisas que mudaram em mim #1



Passei a gostar de café.

Eu só gostava de tomar café se fosse com leite. Fosse café solúvel, galões, meias de leite; até um café expresso tinha que levar um pouco de leite para que conseguisse bebê-lo – coisa que, aqui nos Açores (ou em São Miguel, pelo menos) chamamos de “garoto”. Sem leite era “deslavado”, desenxabido e sem graça, para além de ser servido numa coisinha minúscula – qual era o gozo de se pagar por algo tão pequeno e que ia acabar em segundos?

A primeira vez que provei um expresso foi num restaurante de fast-food em que o café estava incluído no menu. Como era oferecido, pensei Por que não provar?. Mas não gostei, e passei anos sem lhe dar outra oportunidade.

Até ao dia em que estava de férias, sozinha, com um calor de matar em pleno Verão e tive uma vontade enorme de ir para uma esplanada e de ficar lá um pouco, à sombra. O problema das esplanadas era a obrigação de se consumir alguma coisa, e nunca havia nada que me apetecesse. Sou fã dos cafés nos dias mais frios, em que me delicio com uma bebida quente. Mas, no Verão, é mais complicado para mim. Sento-me a comer um gelado, mas nem sempre me apetece. Sumos é coisa que não bebo e que evito ao máximo, e cerveja é coisa que não gosto. Ir para uma esplanada beber água também me parecia estúpido. Sendo assim, o que pedir? Optei, então, por dar outra oportunidade ao bendito e popular café.

Soube-me melhor do que a primeira vez que experimentei. Na verdade, até me soube bem. E, a partir daí, passei a tomar mais vezes. Devagarinho; primeiro raramente, depois com mais frequência ao longo da semana.

Para mim, o café foi daquelas coisas que primeiro se estranha, mas que, depois, se entranha. Para quem não lhe achava a mínima piada e só o bebia se tivesse muito ou pouco leite à mistura, agora é ver-me a tomar um todos os dias – e a tomá-lo sempre cheio.

Vejo pessoas que bebem café por necessidade. Conheço quem fique com dores de cabeça devido à falta de um café, ao passo que há outras que o bebem para se sentirem acordadas. Eu, contudo, tomo-o simplesmente por gosto. Se não me apetecer tomar num determinado dia, não tomo, e não fico com dor de cabeça por causa disso. E, no que toca ao seu poder estimulante e de me manter desperta, não o noto. Até já me aconteceu começar a bocejar depois de tomar café, e já me perguntaram como foi que sobrevivi à faculdade sem o café como aliado.

Tomo apenas porque gosto, e acho óptimo que seja acessível em termos económicos e que seja tomado em qualquer altura do ano – mesmo num dia de Verão com um calor de matar – e a qualquer hora. Espero, um dia, vir a ser capaz de o tomar sem açúcar – ponho muito pouco, na verdade, por isso acho que ainda vou conseguir. Já não passo sem um, e sabe-me sempre bem depois do almoço ou nalgum convívio.

10/07/18

Razões



Havia cinco coisas das quais realmente gostava no meu trabalho:
  • a distância da minha casa até lá – bastava apanhar a via rápida e punha-me lá nuns cinco minutos, pelo que não precisava de acordar tão cedo;
  • a “hora do café” - ou seja, o lanche da manhã que era tipo “regra” da empresa e que eu achei uma óptima iniciativa logo no meu primeiro dia, não só porque nos era permitido fazer uma pausa e conviver um pouco, como também por razões óbvias: a fome aperta entre o pequeno-almoço e o almoço, pelo menos comigo;
  • o facto de não estar sempre sentada a uma secretária – o meu trabalho era tão vasto, que, para além de trabalho de secretária, também andava imenso de um lado para o outro (havendo, até, dias em que nem sequer conseguia sentar-me à secretária), e eu até gostava, pois acabo por ficar cansada e desconfortável quando passo muito tempo sentada;
  • os almoços oferecidos – uma vez que se tratava de uma empresa de restauração, eram os próprios funcionários que faziam o almoço para todos, todos os dias, pelo que não precisava de me preocupar em trazer uma marmita de casa com comida;
  • os meus colegas – apesar de haver dias em que não suportava o barulho e a aparente boa-disposição de toda a gente, fui super bem recebida desde o início e toda a gente foi bastante acessível e simpática comigo, tentaram integrar-me e ajudaram-me e colaboraram comigo quando precisei. Até fiz amigos.

No entanto, havia mais coisas más do que boas. De repente, deixei de ser estagiária e vi tudo a mudar abruptamente. De repente, começaram a empurrar, para mim, trabalho que ninguém queria e/ou tinha paciência para fazer. De repente, fiquei com o trabalho das duas estagiárias que se foram embora quase ao mesmo tempo. De repente, deixei de ter fins-de-semana para passar a ter apenas dia e meio de folga. De repente, já não tinha hora certa para sair do trabalho. De repente, senti-me sem amigos ali dentro. De repente, estava a receber uma miséria para uma licenciada que, para além dos trabalhos da treta que era obrigada a fazer, fazia trabalhos na sua área de formação.

E, de repente, comecei a questionar todo o meu percurso, a sentir-me rebaixada e desvalorizada, a irritar-me com tudo e com nada e a sentir-me extremamente infeliz, por estes motivos e por outros. O stress começou a levar a melhor. A desmotivação deu-lhe a mão. E, apesar disso, sentia que estava a viver para o trabalho. Isto porque o meu tempo livre diminuiu consideravelmente, tanto devido a horas extra, como devido à falta de dois dias de folga, e porque me preocupava demasiado e queria fazer tudo certinho. Todos os dias, tive que fazer um esforço gigantesco e colocar uma máscara espectacular para mostrar que estava tudo bem, tudo normal, tudo “na boa”. Contudo, e por um ou outro motivo – ou mesmo sem razão aparente, por vezes –, esse esforço caía por terra e essa máscara estilhaçava-se. Passei a sentir-me mal naquele lugar, tendo passado vários dias, seguidos ou não, calada, isolada, triste e cabisbaixa. Nunca quis falar com ninguém, por vergonha e por achar que ninguém, interno ou externo à empresa, me pudesse compreender ou ajudar.

Mas também não queria ficar sem fazer nada. Habituei-me a estar ocupada e a ganhar o meu dinheiro, e esses aspectos quase me fizeram mudar de ideias quando pensei em sair da empresa. No entanto, ao voltar a reflectir, cheguei à mesma conclusão, a principal razão que tinha feito com que decidisse sair: mais importante do que o dinheiro ou o facto de ter algo com que nos ocuparmos, é o nosso bem-estar. É a nossa saúde. Infelizmente, parece que ainda há muita gente que descura a saúde mental e que não vê as perturbações da nossa própria mente como verdadeiras doenças – verdadeiros venenos, na verdade.

As pessoas não compreenderão as razões que me fizeram sair, a menos que também já tenham passado por algo do género ou a menos que sejam pessoas que valorizem o bem-estar psicológico e dêem importância à questão de nos sentirmos bem no nosso local de trabalho. Nem eu espero que compreendam, embora tal seja um bocado frustrante. Frustrante no sentido de não me apoiarem e de eu própria não me conseguir explicar. Ao tentar explicar-me, parece que se tratavam de probleminhas sem importância. De fitas. De coisas a que eu acabaria por me habituar. De mudanças consideradas normais.

Mas não interessa explicar-me, e isso de nada serve, quando só eu sei o que se passava e só eu sabia como me sentia. De uma maneira muito resumida, resolvi apenas livrar-me do que me fazia mal. Mesmo que isso não faça sentido para a maioria.

Há aquelas frases feitas que dizem que devemos deixar para trás o que nos faz mal e que fazer isso é um acto de coragem. E há outras que dizem que fazer algo mesmo com medo também é um acto de coragem. Não sei se será de coragem ou de algo mais próximo à imprudência. Um risco demasiado elevado. Acho que não me faria nada bem se continuasse no mesmo lugar, a submeter-me constantemente à pressão, à mágoa, à dor e à tristeza e a afogar-me nas porcarias que a minha mente criava. Continuar seria perpetuar o meu mal-estar e a minha infelicidade, e, se o fizesse, podia ser que acabasse por me acostumar, a ponto de me conformar e de não procurar uma mudança. Mas, neste momento, sinto-me confusa, perdida e desamparada. A última coisa que sinto, de facto, é que fui corajosa.

06/07/18

Recomeçar



A falta de motivação, o cansaço, o desinteresse e a fase negra e de tristeza absoluta pela qual passei fizeram com que o meu antigo blog caísse no abandono. Passei a ir lá muito raramente, em momentos de coração apertadinho, apenas para despejar tudo o que estava a sentir. Já não esperava que alguém me lesse, tão-pouco que deixassem comentários; só queria desabafar, já que, offline, não tinha com quem o fazer. Ou talvez tivesse, mas nunca me senti à vontade para desabafar com ninguém – mesmo com pessoas próximas – e tive, até, vergonha dos meus próprios sentimentos e pensamentos.

Assim, quase de um momento para o outro, o meu blog passou de refúgio e de local de partilha a uma espécie de caixote do lixo, onde passei a deitar toda a porcaria que a minha mente me dizia e fazia pensar. É uma comparação tão feia, mas não deixa de ser adequada. Por isso, quando resolvi regressar ao mundo dos blogs, nem pensei duas vezes e optei por criar um novo. Ninguém quer regressar a um caixote do lixo; ninguém gosta de, aliás, passar por um caixote do lixo. O blog sofreu uma mudança tão drástica como resultado da minha própria mente e tornou-se num espaço negro, triste e depressivo que já não me fazia sentir em casa. Provavelmente, foi também esta alteração de conteúdo que afastou os meus seguidores. Para além disso, continha memórias agora agridoces. Uma solução podia ser apagar as publicações mais depressivas e as que despoletavam as recordações mais dolorosas. Mas até isso me pareceu...como que errado. Porque foram coisas que não deixaram de acontecer e pensamentos que não deixei de ter. E acho que, mesmo que tivessem sido eliminados, continuariam presentes. Como cicatrizes.

Acho, contudo, que recomeçar não significa necessariamente terminar algo e começar outro algo completamente novo. Por vezes, recomeçar pode ser fazer a mesma coisa, mas de uma forma diferente.

Este blog até é semelhante ao outro, na verdade, mas em termos visuais. Mantive o mesmo esquema e criei as mesmas páginas; apenas alterei as cores porque assim me apeteceu – embora a minha preferida seja o azul, ver azul sobre branco só me fez pensar nos CV's criados no Europass. A grande diferença que espero estabelecer entre este e o meu antigo blog, daí a questão de se fazer a mesma coisa, mas de outra maneira, será em termos de conteúdo: precisamente, não tornar este blog num caixote do lixo. Isto e não escrever de cabeça quente. É algo que prejudica, não só a nós, como aos outros – e eu, nos últimos tempos, experienciei bastante isto, e de formas nada agradáveis.

No entanto, para além de recomeçar enquanto blogger, estou, também, numa fase de recomeços a nível pessoal e profissional. É engraçado que, quando criei o My Life..., também estava prestes a recomeçar, a iniciar uma nova etapa. Agora, que comecei o Amongst Stars, estou a passar pelo mesmo.

Bem, é mais uma fase de tremenda confusão, dúvidas intermináveis e de uma incerteza sufocante, mas que, mais tarde ou mais cedo, culminará num recomeço – pelo menos, assim o espero. Passei metade deste ano no mesmo negrume com que terminei o ano anterior. Resta a outra metade. Existe a oportunidade de a tornar diferente. De recomeçar. Visto desta perspectiva, acho que tudo se torna ainda mais assustador.


PS: Nem o próprio blog eliminei; aliás, até deixei, na minha página Library, os links para as opiniões de livros que li. Estas publicações, em especial, deram trabalho. E eu coloquei nelas bastante dedicação. É algo sobre o qual adoro falar, os livros. Trabalho deste género não é para ser deitado fora, na minha opinião.

01/07/18

Entre estrelas


Entrei no YouTube naquela noite com um único intuito: ouvir a nova música dos Halestorm. Entrar no YouTube, no entanto, faz com que a pessoa se distraia a passar os olhos pelos títulos dos vídeos sugeridos antes mesmo de se conseguir escrever o que quer que seja na barra de pesquisa – pelo menos é o que me acontece. E, naquela noite, em que apenas ia ouvir a nova música dos Halestorm para depois me abstrair da vida real com episódios de Modern Family, um dos vídeos que o YouTube me sugeria era um videoclip de Amorphis, lançado há três semanas. O Google já me tinha avisado que tinham lançado um novo álbum – se não fosse isso, aliás, eu nem sequer teria sabido. Mas ainda não o tinha ouvido, nem sequer uma única música.

E lá cliquei para ouvir a que o YouTube me sugeriu. Captou a minha atenção logo no início, e, com o avançar dos segundos, a música só melhorou. A harmonia das vozes em dueto, os instrumentais tão catchy e a própria melodia deixaram-me fascinada. Era linda. Era uma música brutal, fantástica, que me deu vontade de clicar no replay quando chegou ao fim, que me relembrou o meu amor por esta banda e por este tipo de música, que acendeu uma centelha minúscula e há muito tempo apagada dentro de mim, fazendo com que, por uns breves quatro minutos, voltasse a sentir-me eu, a rapariga que se sentia feliz quando descobria uma música espectacular e que gostava de a partilhar com toda a gente, mesmo que ninguém fosse gostar dela – ou que não compreendesse o motivo de tanto alarido à volta de uma música. Especialmente de uma música de metal. Então metal não é só berros e barulho? Sim, é. Claro.

Resumidamente, senti algo que, por vezes, ainda sinto quando encontro algo de bom e que me fascina de tão maravilhoso que é: senti a necessidade de o partilhar, ou melhor, de partilhar esse sentimento. Mas, aí, congelei. Partilhar onde? Com quem? No Facebook ainda se partilham músicas? É que começo a notar o Facebook a cair na decadência, ou então são só os meus "amigos" que partilham conteúdo decadente - isto é, que não interessa a ninguém. Acabei por partilhá-la lá de qualquer forma, mas foi aí que me lembrei do mundo dos blogs.

Este mundo costumava ser maravilhoso. Perdia horas nele, não apenas a escrever, mas também a ler. Lia e deixava comentários, e adorava quando me liam e deixavam também a sua marca no meu espaço. Eu podia ser eu própria aqui, podia escrever à vontade, falar sobre o que me apetecesse e ser completamente transparente no que respeita às minhas opiniões, aos meus gostos e a mim mesma, sem medos, sem vergonha – até porque sempre me expressei melhor através da escrita. Eu achava que era esquisita, invulgar e uma outsider. Mas vim a descobrir que não era tanto assim. Quer dizer, sim, ainda sou. Mas não estou sozinha em relação a certas coisas. E foi o mundo dos blogs que me fez ver isso.

Seja como for, a música de Amorphis que me deu como que um empurrão para regressar a este bonito mundo de partilha chama-se Amongst Stars. Daí o título deste pequeno porto de abrigo que acaba de nascer. Para que nunca me esqueça do que me motivou a regressar nem do que me relembrou quem eu costumava ser. Para que me recorde sempre do poder da música. E porque, convenhamos, é um nome bonito. É catchy.

Não sei se tudo isto na blogosfera continua como dantes. Não sei se está melhor ou pior, nem tão-pouco quem ainda continua por aqui. De qualquer forma, pode ser que alguém me conheça como a autora do meu antigo blog, My Life as an Unusual Girl. Bem que podia ter lá regressado, mas senti necessidade de um recomeço. Sejam, então, bem-vindos ao Amongst Stars. Espero voltar em força e ficar por aqui durante um período de tempo simpático.


PS: Acabei, realmente, por ouvir a nova música dos Halestorm nessa noite. Que também está espectacular. Ouvi esta e outras tantas, aliás. Quando o assunto é músicas novas, sou capaz de me perder pelo YouTube.