28/12/19

2019

A minha agenda de 2019 foi da Mr. Wonderful. Para além de ser a coisa mais gira e fofa de sempre, é mais do que uma simples agenda, no sentido em que contém alguns “exercícios” para se fazer a cada mês, para nos pôr a pensar um bocadinho. Coisas como uma lista de objectivos para cada mês, coisas que gostávamos de aprender, os livros que gostávamos de ler ou os filmes que queremos ver, enfim. Algo que eu nunca tinha feito, nem numa agenda, nem noutro lado qualquer – nem sequer pensava nisso. E eu, apesar de ter deixado as listas de alguns meses em branco, gostava de pensar no assunto e de ter a agenda bem preenchida, especialmente porque me dava uma sensação de propósito para cada novo mês.

Dezembro é o mês da reflexão e da retrospectiva. Por isso, é claro que o exercício para este mês é recordar o que de melhor aconteceu em cada mês do ano. E eu, por mais que tivesse pensado, só consegui escrever uma coisa nos primeiros três meses. Em Janeiro, o concerto do Steven Wilson. Em Fevereiro, o facto de ter conhecido o R.. E, em Março, o ter começado a namorar com ele. É óbvio que, nos meses seguintes, não faltaram bons momentos entre nós, e é totalmente óbvio que o R. foi o melhor do meu ano. Mas, tirando ele e esses bons momentos, não encontrei nada de grande impacto e tão positivo, feliz e gratificante que me tivesse acontecido nos restantes meses.

É que, em Abril, comecei numa formação que durou até Junho. Depois, trabalhei durante todo o Verão e até final de Outubro. Em Novembro não se passou nada de tão relevante, e agora, em Dezembro, cá estamos.

Bem que podia ter escrito na agenda, nessa questão do melhor que aconteceu em cada mês, o facto de ter arranjado trabalho e tal. No entanto, para além de ter sido apenas um trabalho temporário, não foi do meu total agrado, como já falei por aqui.

E, nestas poucas frases, acabei de resumir todo o meu ano de 2019. O ano em que eu esperava encontrar um trabalho que não fosse temporário e do qual gostasse e em que achava que ia começar o meu negócio próprio; um ano de estabilidade, portanto. Porém, pelo contrário, foi um ano em que saí da zona de conforto. Começou quando me decidi a encontrar-me com o R. para conhecê-lo pessoalmente, e depois continuou quando me decidi a ir trabalhar numa área totalmente diferente. Com o R., correu tudo maravilhosamente; já com o trabalho, não deu certo. No entanto, não deixou de ser uma experiência. E experiências assim fazem-nos repensar nas coisas e vê-las de outra forma.

Apesar de, aparentemente, ter acontecido tão pouco durante este ano, sinto que não sou a mesma pessoa que era no final do ano passado. Tal como falei na última publicação, estou com uma postura diferente em relação ao Natal, mas também em relação àquilo que quero para mim. Sentia-me tão perdida antes, sem saber para onde me virar, especialmente na altura em que abandonei o meu trabalho. Ter uma infinidade de possibilidades e de escolhas e não saber que direcção tomar foi algo que me sufocou e angustiou de uma forma que mal consigo descrever. Agora, vejo-me com ideias mais fixas, e algumas dessas possibilidades que existem deixaram de ser hipóteses para mim, porque eu simplesmente não as desejo. Este mês, lutei – e continuo a lutar até ao final do ano – contra a ansiedade, o stress e a negatividade, que tanto me atormentam a cabeça por estar novamente desempregada, com a arma da consciência tranquila por esta ser uma altura em que ninguém se importa com contratações, a não ser para algum reforço – ou seja, novamente, trabalhos temporários. E lutei e continuo a lutar contra eles para que me deixem apreciar e viver o momento, pois não posso fazer nada por agora para resolver esse problema. Tal como o R. me disse, há que deixar isto e todas as outras coisas más neste ano que está perto do fim, entrando no novo ano como que limpa e livre destas coisas negativas.

Assim, tento terminar o ano com tranquilidade e com a esperança e a fé em como tudo vai ficar bem. E que, apesar de não ter sido aquele ano em que tudo iria dar certo e em que todos os planos se iriam realizar e etc., o próximo ano será melhor. Mesmo que, agora que se está entre o Natal e a passagem de ano – uma altura que é como que um limbo – sinta a negatividade à espreita e a apoderar-se de mim de vez em quando. E mesmo que esteja a ver-me exactamente na mesma situação em que estava no ano passado por esta altura. Talvez haja alguma lição a tirar disto, mas ainda não descobri ao certo qual é. Só sei que tenho que acreditar em como as coisas vão melhorar e correr bem, por muito difícil que isto seja para uma pessimista como eu. Acreditar que, se o meu timing para as coisas darem certo e para ter a vida estável e resolvida ainda não chegou, então chegará.

E, apesar das coisas que correram menos bem e que não deram certo, há que me focar numa coisa. Na melhor coisa que me aconteceu este ano. Posso não ter descoberto o que fazer da minha vida, nem ter encontrado o emprego de sonho, nem ter feito uma viagem incrível, nem ter começado a ponderar mudar-me para um apartamento só meu. Mas este ano encontrei o amor. E este é o melhor presente de todos.

16/12/19

Este ano vou falar do Natal


Ainda me lembro daquilo que escrevi no ano passado por esta altura. As razões para não falar do Natal. Lembro-me de como preferia que o Natal não existisse mais. De como estava totalmente indiferente a esta época. De como o meu espírito natalício estava abaixo de zero.

É verdade que os meus Natais continuam a ser mais tristes do que eram antes. A casa começa a ficar cada vez mais vazia. Os meus avós já cá não estão. Alguns tios e primos começam a ir passar a véspera de Natal com outros familiares que se encontram mais sós. Consequentemente, nós aqui também vamos ficando mais sós. São menos presenças à mesa, menos gargalhadas, menos presentes para trocar. Este ano não será diferente, e receio que os próximos continuarão a ser assim, ou que tenderão a piorar neste aspecto. Isto continua a deixar-me triste. Já não são os Natais que eu antes conhecia, e certamente que já não existe a mesma magia. Para além disto, é também o consumismo excessivo que me entristece. Bem como o consumismo por “obrigação”. Isto parece que se nota quando as pessoas oferecem presentes sem se terem preocupado ou perdido tempo com a sua escolha, como se pegassem na primeira coisa que encontrassem só para “despachar serviço”.

Em relação ao Natal, estas são coisas que não posso mudar e que tenho simplesmente que aceitar. Bem sei que os meus Natais nunca mais serão os mesmos, mas, este ano, decidi que me recuso a detestar esta época e a passá-la de forma indiferente e apática por causa disso. Este ano, quis ser receptiva ao espírito natalício e à magia do Natal; quis que, aos pouquinhos e de ano para ano, estes me invadissem de novo e me deixassem adorar esta altura do ano, tal como dantes.

Assim, este ano, tratei cedo dos presentes e fi-lo de bom grado. Comecei a montar a árvore de Natal por minha iniciativa, ainda em Novembro. Fui à baixa da minha cidade ver a iluminação e as decorações. Ando a ouvir músicas de Natal quando estou sozinha em casa a fazer qualquer coisa, e acendo as luzes da árvore ao serão, enquanto estou no sofá com a manta, no computador ou a ler.

Porque esta é uma época tão bonita, que eu sempre adorei e que quero voltar a adorar. Durante uns anos, remeteu-me para a família e para o calor, o aconchego e o conforto do lar, pois significava regressar a casa. Agora, embora isto já não se verifique e a casa e a mesa estejam cada vez mais vazias, é engraçado que começa a voltar a remeter-me para o mesmo. E a outras coisas mais. Amor, sonhos, felicidade, paz. Convívios e risadas à volta de uma mesa. É a época das luzinhas e das decorações mais bonitas e amorosas, onde tudo ganha um ar fofinho e reconfortante. Sabe-me a bombons, a licores, ao nosso bolo típico de melaço e fruta cristalizada. Cheira a lareira acesa, a chocolate quente, a velas aromáticas. Remete para pijamas quentinhos e meias de lã, a mantas grossas e a filmes no sofá. A cachecóis e sobretudos, a um frio gélido e cortante lá fora, mas a um calor e conforto cá dentro, de casa e nos corações.

Tudo isto sabe-me melhor do que um montinho de presentes. Até porque, por falar nisso, não tenho propriamente uma wishlist natalícia. Há sempre pequenas coisas que gostava de ter, mas são coisas que vou adquirindo ao longo do ano, quando posso e sem haver um motivo especial. Não espero pelo Natal para ter tudo o que andei a mendigar durante o ano inteiro. Isso nem faz sentido para mim.

Este ano, para além desta minha nova postura em relação ao Natal, também começo a sonhar com Natais futuros, especialmente quando ouço músicas natalícias numa versão mais acústica, calma e bonita, que combina na perfeição com o ambiente reconfortante em redor. Imagino-me a mim e ao R. a decorar o nosso futuro apartamento com os elementos mais amorosos ao som dessas mesmas músicas, a tirarmos aquelas fotografias parvas em que aparecem as luzes da árvore de Natal e os nossos pés dentro das meias de lã, a passarmos serões e as tardes de domingo no sofá enrolados nas mantas a ver filmes de Natal, a prepararmos chocolate quente. E sonho, também, com a possibilidade de fazer uma viagem por esta altura do ano, em especial a alguma cidade europeia com os típicos mercadinhos de Natal, embrulhada em roupa mas com o coração quentinho. Já agora, também gostaria de poder ver alguma neve, fosse nessa cidade, fosse num alojamento acolhedor e confortável no meio do nada, rodeado de branco.

Quero ser daquelas pessoas que, mesmo em adultas, continuam a vibrar com esta época. E que esta altura do ano seja novamente sinónimo de paz e felicidade e um incentivo à realização de sonhos, não apenas neste ano, mas em todos os que estão por vir. Que volte a ser a época mais maravilhosa do ano para mim. Sei que assim será. Já está a ser tão boa neste ano.

13/12/19

Sei que estamos em 2019 e que é Natal, mas tenho que falar sobre HIMYM

Esta publicação contém spoilers.

How I Met Your Mother foi a série que escolhi para (me) acompanhar estes últimos meses. Confesso que não estou nada por dentro das séries que passam actualmente e que sou um bocado old school neste aspecto, para além de muito selectiva. Já não sou muito de séries – porque há muitas mais coisas com que ocupar o meu tempo, algumas das quais bem mais interessantes do que olhar para um ecrã durante horas a fio –, mas, enquanto trabalhei este Verão, senti que precisava de uma. Para aqueles dias sem planos em que só queria atirar-me para o sofá, ou para aqueles bocadinhos entre o jantar e a hora de dormir. Vi Friends em 2017 devido a esta mesma necessidade e decidi que queria uma série desse género, leve, divertida, sem grandes dramas e seriedade, um escape à vida real. E assim lembrei-me de HIMYM, que nunca tinha acompanhado do início ao fim.

Terminei esta série há uns dias, mas ainda não sei bem como lidar com a forma como terminou. Já tinha ouvido dizer, na altura em que acabou, que o final tinha sido uma desilusão, uma “traição” para com os fãs, e que poucas tinham sido as pessoas que dele gostaram. Isto, por acaso, foi um factor que me levou a querer ver a série, pois aguçou a minha curiosidade. Mas a verdade é que nada poderia ter-me preparado para um final assim. Foi totalmente inesperado, e como que um murro no estômago.

09/12/19

Sinto-me eu mesma...


Com o cabelo avermelhado. A desenhar. Quando passo um serão em casa, aconchegada numa manta e nos pijamas e com uma grande caneca de um chá relaxante. Quando estou arranjada e gosto de me ver ao espelho com a roupa que escolhi. A cantar no carro enquanto conduzo. A ler, aconchegada e em absoluto silêncio, alheia à realidade. Num café acolhedor, ou num qualquer ambiente hygge, calmo, acolhedor, confortável. Com as minhas pessoas preferidas. Quando ouço música com os auriculares e aprecio-a verdadeiramente, tanto em termos de melodia como de letra, acabando por ficar toda arrepiada. Quando mergulho no mar. Quando me perco numa livraria ou quando vou a uma biblioteca. Quando tomo o meu café depois do almoço, em sossego e sem pensar em preocupações. Com o meu namorado, seja a passear, seja entre quatro paredes. Quando vou a um concerto de uma banda ou artista que estimo muito. A nadar. A sonhar acordada e a magicar novas ideias. Quando escrevo, seja para mim mesma, seja para as redes sociais, sejam as minhas histórias, os meus posts ou as minhas reflexões, seja no computador ou num dos meus cadernos. Com as minhas botas militares ou com as botas pelo joelho. Aconchegada em casa num dia de chuva. Quando viajo e conheço e descubro novos lugares. Quando sou completamente sincera.
Inspirado no texto do blog Bobby Pins.

19/11/19

Intenções

Os últimos dias - pelo menos alguns deles - não têm sido propriamente bons. Estar novamente desempregada e no mesmo exacto ponto em que estava no ano passado, precisamente nesta altura do ano, começou a pôr-me para baixo. Andei desanimada e triste – ainda ando, num dia ou noutro. Até senti necessidade de pegar num caderno e escrever aquilo que sentia e em que estava a pensar. É verdade que não gostei muito de trabalhar onde trabalhei agora estes últimos meses e que também não gostei muito do trabalho em si, mas estar sem fazer nada faz-me sentir impotente. Pior do que não fazer nada, é não ter um plano. Ou não ter motivação para pôr mãos à obra e traçar um plano. Tudo isto torna-se frustrante. E mais frustrante é pensar que, se devemos acreditar que tudo está a acontecer como é suposto e que tudo acontece por um motivo, então por que motivo está o universo a pôr-me na mesma situação que há um ano atrás e qual foi o motivo de me ter feito passar por uma experiência que pouco me trouxe de positivo?

Tentar procurar uma resposta para esta pergunta, não saber para onde me virar nem conseguir decidir o que fazer a seguir e ter esta sensação de não contribuir para nada, de me sentir inútil e impotente – tudo isto me desanima e põe para baixo e deixa a minha mente num turbilhão, como se nela estivesse um furacão e várias ideias e coisas negativas a colidir violentamente umas contra as outras. Mas, tal como depois dos furacões e das tempestades vem a bonança, também na minha mente surgem momentos de calma e de clareza. Por vezes, com uma minúscula centelha de esperança a brilhar bem ao longe. Isto tudo quando eu própria me permito acalmar-me.

Continua a ser verdade que não tenho um plano traçado, e que nem estes breves momentos de calma vêm com um plano que mudará a minha vida ou com um sonho fantástico à espera de ser realizado. Mas tenho intenções, e talvez este seja um primeiro passo para não perder a esperança.

07/11/19

Experiências

Via We Heart It

Acredito que tudo aquilo que vivemos, em especial as coisas e as fases menos boas, constituem experiências. Formas de a vida nos mostrar que não devemos cometer aquele mesmo erro ou tomar aquela mesma decisão. Cada experiência vem com uma aprendizagem, uma lição. Cada experiência faz-nos crescer. Acrescenta-nos sempre algo, desenvolve-nos enquanto pessoas. Por vezes, molda-nos e transforma-nos, muda-nos.

Passei os últimos quatro meses a trabalhar numa companhia aérea, e praticamente dois meses antes disso a ter formação para tal. Ter estado do lado que não o do passageiro fez-me ter uma noção totalmente diferente do mundo da aviação. Fez-me ver que é mais duro, mais stressante, mais louco e mais desorganizado do que aquilo que parece. Que os atrasos dos voos não são culpa da companhia – por vezes podem ser culpa de uma única pessoa que resolve chegar atrasada à sala de embarque. Que as pessoas que viajam podem ser muito desagradáveis – entre outras coisas que prefiro não mencionar –, e por vezes sem motivo algum. Fez-me ficar com receio de planear alguma viagem, especialmente devido a atrasos relacionados com avarias nos aviões – que nunca sabemos quando poderão acontecer –, devido à possibilidade de perder um voo de ligação – que é o mais provável quando o primeiro voo sai bastante depois da hora estipulada – e devido à possibilidade de não receber a minha bagagem de porão no destino – que, sim, acontece mais frequentemente do que se pensa. Isto também me leva a querer levar exclusivamente uma mala de cabine nas próximas viagens, mesmo que não vá numa low-cost.

Quando penso, no entanto, em aspectos desta experiência que me acrescentaram algo e me fizeram crescer e evoluir enquanto pessoa, bem, não consigo encontrar nenhum. E isso é demasiado estranho. Sempre consegui encontrar algo de bom, alguma lição valiosa ou alguma aprendizagem para a vida em todas as experiências menos boas que tive até agora. Não encontrar nada quase faz parecer que a experiência não passou de uma perda de tempo. Apenas me vi a retroceder.

Parecia um déjà-vu. Parecia que estava novamente na universidade, numa turma pequenina onde não me conseguia integrar lá muito bem e onde não conseguia ter tanto à-vontade. Parecia que os colegas mais velhos eram os abutres trajados das praxes, de quem uma pessoa estava sempre com um certo receio e de quem se sabia que o mais certo era ouvir alguma boquinha. Parecíamos os caloirinhos ou os estagiários que fazem aquilo que mais ninguém quer fazer. Eu vi-me a ser novamente uma miúda tímida e pouco segura. Quando tudo o que queria era ter saído da minha zona de conforto, fazendo algo que nunca fiz e arriscando em algo novo. E estava tão entusiasmada em relação a isso, achando que, finalmente, estava no bom caminho e que as coisas iam começar a correr bem.

Mas parece que tudo o que aprendi com esta experiência, para além de todas aquelas tretas sem importância sobre aviação que disse acima, foi que, em primeiro lugar, não vale a pena forçar-me a trabalhar com pessoas e a gostar de pessoas, porque, quanto mais dias se passavam e quanto mais eu lidava com o público, mais me apercebia do quanto detesto pessoas. É tão mau dizer-se que não se gosta de pessoas; no fim de contas, somos todos pessoas, somos todos seres feitos para socializar e eu própria sou uma pessoa. Mas enfim.

E, em segundo lugar, que não existem empregos perfeitos, nem ambientes de trabalho perfeitos. Que existem sempre prós e contras em qualquer lugar. Que o dinheiro não é tudo. Ora o salário é bom, mas o trabalho não nos estimula nem nos satisfaz; ora o trabalho é desafiante ou faz-se bem, mas o salário não lhe faz jus. E que, em qualquer lado, existem falhas de comunicação. Que existem pessoas más, venenosas e desagradáveis, mas também pessoas boas, gentis e prestáveis.

Talvez, no fim de contas, o importante não seja o não estar parado, o estar a fazer alguma coisa. Talvez o importante não seja ganhar bem. O importante será sentirmo-nos bem. Estarmos bem. No máximo, sermos felizes.

Mas…como raio podemos saber o que nos fará sentir melhor e o que nos fará felizes? Se não passarmos pela experiência, como saberemos? E se a experiência nos desilude e não corresponde às expectativas? E se acaba por nos deixar infelizes? Pois…

A verdade é que, se não tivesse passado por esta experiência, nunca saberia se gostaria ou não. Continuaria a pensar no assunto. Mais vale passar pelas coisas do que nunca experimentar e ficar na incerteza, a pensar em todas as possibilidades. No entanto, com tudo isto, voltei à estaca zero. E não tenho dúvidas de que não me sinto preparada para mais uma temporada de incertezas. O que sei é que não consigo sentir-me bem, tranquila e em paz comigo mesma estando assim, na incerteza, sem um plano ou um rumo definido e que me motive. E encontrar uma motivação ou um simples plano sempre foi o meu grande problema.

24/10/19

Lar

Via Pinterest.

Quando conheci o R., foi como se já o conhecesse antes. Na verdade, até ao dia em que nos conhecemos, tínhamos andado a trocar mensagens durante os últimos três meses. Eram mensagens constantes, todos os dias durante aqueles três meses. Ele tornou-se numa companhia durante esse período, mas, mais do que isso, numa pessoa que se tornava a cada dia mais interessante e que me deixava com mais vontade de conhecer.

No nosso primeiro encontro, não tive essa sensação de achar que já o conhecia apenas devido à troca de mensagens, mas também por me sentir tão à vontade para um primeiro encontro. Talvez ele não achasse que eu estivesse assim tão à vontade, até porque, agora, as coisas são muito diferentes; sinto-me bem mais à vontade e sinto-me eu própria. Mas, naquele primeiro encontro, comparativamente àquilo que costumo ser quando estou com uma pessoa pela primeira vez ou com uma pessoa com quem não tenha grande confiança, sim, estive perfeitamente à vontade. Falei com ele naturalmente. Disse algumas piadinhas parvas. Ri-me e diverti-me. Senti-me à vontade ao ponto de lhe pedir que me tirasse fotografias, uma vez que estávamos num sítio bonito, com paisagens e vistas bonitas. E ainda ao ponto de lhe dar a mão sem hesitar porque eu estava com medo de escorregar e cair num troço do caminho que estava húmido e com lama. Ele contou-me uma história tão longa e eu lembro-me de olhar para ele enquanto falava e de pensar em como ele tinha umas pestanas tão compridas. Abraçou-me no início e no fim do encontro e eu achei-o algo desajeitado com abraços. Fui para casa satisfeita, com aquela boa sensação de ter tido um dia bem passado. E quis vê-lo mais vezes. Por muito que tenha querido aquele encontro, também me sentira receosa com o mesmo, com medo de me desapontar e de ele não ser como era nas mensagens. Mas não me desiludi. Ele era a mesma pessoa que era nas mensagens.

Lembro-me, depois disso, de como quis deitar a cabeça no seu ombro enquanto conversávamos numa tarde em cima do mar. De como pensei com ternura Ele está a fazer-me festinhas no cabelo quando ele estava a fazer precisamente isso, um pouco antes do nosso primeiro beijo. De como, um pouco depois do nosso primeiro beijo, houve um momento em que ele me olhou com tanto carinho que aquela fracção de segundo pareceu uma paragem no tempo, um instante suspenso. E de como, depois de eu me ir embora a seguir, passei a viagem de carro a sorrir. Lembro-me de momentos em que fomos só nós no meio da natureza, abraçados e em silêncio, só com o som dos pássaros à nossa volta.

Com o passar do tempo, quanto mais falávamos um com o outro e à medida que fomos saindo mais vezes juntos, apercebi-me do quanto queria mantê-lo na minha vida, do quanto era especial e importante para mim e do quanto gostava dele. Com o passar do tempo, percebi que, afinal, ele não era desajeitado com abraços; hoje, os seus abraços são o melhor e o mais confortável, quente e seguro lugar do mundo, onde eu gostava de ficar para sempre. Com o passar do tempo, dar-lhe a mão deixou de ser uma mera tentativa de me manter segura para não cair, mas antes uma segurança a um outro nível e um gesto natural que me aquece o coração. Com o passar do tempo, continuei a reparar no quanto as suas pestanas são compridas, especialmente quando olha para mim com uma ternura que me derrete completamente. Ou quando eu olho para ele e ele está desprevenido, e eu derreto-me completamente na mesma por ele ser tão incrível e a melhor pessoa que eu tenho na vida. Nada ocorreu abruptamente; foi mesmo como entrar numa casa e perceber, a cada pequeno passo, que aquela casa era especial. Perceber, com o passar do tempo, quanto mais tempo passava naquela casa e quanto mais descobria sobre ela, que encontrara um lar.

Ainda me pergunto como foi que nos encontrámos e que aparecemos na vida um do outro. Nem ele sabe. Foi mesmo por mero acaso, algo para o qual não encontro explicação.

Com ele tenho o que nunca tive antes e sou o que nunca fui antes. Há mensagens de bom dia, de boa noite e mais não sei quantas pelo meio. Há trocas constantes de palavras carinhosas, de elogios fofinhos e sinceros. Há miminhos em forma de presentes sem haver um motivo especial. Sou uma pessoa tão lamechas – no bom sentido – e romântica, que nem me reconheço – mais uma vez, no bom sentido. Com ele posso brincar à vontade e falar sobre qualquer assunto. Ele diz que me ama sem rodeios e assim, do nada, diversas vezes num dia. Todas as vezes em que estou com ele, em que estou simplesmente a olhá-lo nos olhos ou a ouvi-lo falar, apaixono-me mais, apercebo-me da sorte que tenho em ter aquela pessoa tão incrível na minha vida e agradeço em silêncio por isso. Lembro-me dele quando vejo uma cena romântica num filme ou série e quando tocam músicas românticas na rádio – mesmo que sejam foleiras, as letras fazem sentido por causa dele. Com ele há tantos planos por concretizar e um anseio por uma vida lado a lado em que todos esses planos e desejos se concretizem, pois só assim, lado a lado, é que tudo faz sentido. Com ele sou feliz. Com ele, sinto-me em casa. É o meu lar.

16/10/19

Pressão


Acho que sempre fui muito dura comigo mesma, por influência do meu meio familiar e da sociedade em geral.

Existe aquele “curso natural das coisas”. O ir à escola, o terminar o décimo-segundo ano, o entrar na universidade, o arranjar emprego, o comprar casa. Como se fosse uma bússola para cada um, indicando o que fazer a seguir. E é como se este “curso natural das coisas” viesse com um temporizador associado. Como se houvesse um prazo para cada coisa. Do género: aos dezoito anos já tens que ter o décimo-segundo ano. Aos vinte e cinco já tens que ter um trabalho estável. E por aí fora.

Eu sempre cresci com esse “mapa da vida” presente na mente, mesmo que, por exemplo, nunca tenha tido interesse em ir para a universidade. Mas sabia que era isso que era o certo, o natural, e – e acho que este é o maior erro de todos – o que esperavam de mim. Mais dura fui eu comigo mesma durante esse período. Porque eu tinha que fazer o curso no número de anos que estavam estipulados. Fui eu própria quem pôs isto na minha cabeça, mas nem sei bem porquê. Não sei se foi, mais uma vez, por ser isto que esperavam de mim. Ou se foi por achar que era a minha obrigação. Ou porque não queria desapontar ninguém. Ou se foi por outro motivo estúpido qualquer. Mas, olhando para trás, vejo o quanto fui dura comigo mesma, e o quanto fui estúpida. Eu não me permitia descansar, parar um pouco, reflectir. Eu apenas dava no duro para ter tudo pronto, para despachar tudo o mais depressa possível. E, se me via num momento mais livre, mais descontraído, sem afazeres da faculdade e a fazer algo de que gostava ou que me apeteceu no momento, pensava em como algo estava errado. E sentia-me culpada. Culpada por parar, por relaxar. Por não estar a fazer o que esperavam de mim.

Olhando para trás, parece-me como que uma pressão estúpida para ser perfeita. Para ter a vidinha perfeita que a sociedade estipulou, que passa por seguir o “curso natural das coisas”.

E, bem, parece que o feitiço se virou contra o feiticeiro. Aos vinte e sete anos, era de se esperar que tivesse um emprego estável desde a minha saída da universidade e que já tivesse saído de casa da minha mãe. Talvez também já se esperasse que estivesse a viver com um companheiro. Mas aqui estou eu, com vinte e sete anos e sem um emprego estável, cheia de dúvidas em relação ao curso que tirei, ainda a viver com a minha mãe e a achar que a ideia de me mudar para um sítio meu ainda está num futuro distante.

A pressão não fez apenas com que fosse dura comigo mesma. Também fez com que tomasse más decisões. Pegando no exemplo da universidade, o facto de ter sido tão dura comigo mesma, raramente permitindo-me descansar com aquele objectivo estúpido de despachar o curso o mais depressa possível, fez com que tomasse a má decisão de não ter tirado o melhor proveito da minha experiência. Não só da experiência académica, mas também de toda a experiência de viver fora de casa, noutra cidade.

A pressão fez com que tomasse uma má decisão da qual me vou arrepender para sempre. Com toda aquela coisa de terminar o décimo-segundo ano e ir para a universidade, não pensei muito acerca do curso, nem quis tirar tempo para pensar. Foi-me sugerido parar por um ano para pensar e ponderar. E eu não o quis. Nem quis, sequer, pensar no assunto; ficou imediatamente fora de questão. Porque era um intervalo no “curso natural das coisas”; um ano sem fazer nada, um ano perdido, deitado fora. Porque eu queria “despachar tudo”. Mas, também aí, o feitiço virou-se: acabou, de facto, por ter sido um ano deitado fora, pois desisti do curso. Tudo por não ter pensado bem. Por não ter tirado tempo para pensar. Por não ter resolvido parar por um bocado e por ter escolhido viver na correria.

Isto fez com que, no ano passado, por esta altura, eu resolvesse não cometer o mesmo erro. Como tal, resolvi parar, pensar, ponderar opções. A pressão para me mexer, para seguir com a correria da vida e para fazer alguma coisa esteve sempre lá, continuou sempre à espreita. Mas eu, na maior parte dos dias, decidi ignorá-la.

Entretanto, um ano passou. E, apesar de várias coisas terem acontecido, vejo-me, agora, no mesmo exacto ponto em que estava há um ano atrás. Tudo porque tenho um contrato de trabalho a terminar em breve. Estou de férias neste momento, mas sinto-me como se já estivesse desempregada e já tivesse toda esta pressão de arranjar um novo emprego a cair sobre mim. Porque, há precisamente um ano atrás, era assim. Porque já consigo sentir a pressão. São os meus colegas a dizer que estão a procurar outra coisa. É a minha mãe a dar dicas quando o contrato ainda nem terminou – de que eu podia inscrever-me no centro de emprego ou mandar o currículo para determinado sítio.

É-me demasiado difícil viver com esta pressão a espreitar de todos os cantos, ainda para mais quando eu própria também detesto esta situação e sei que, detestando a situação, cedo facilmente à pressão e escolho um caminho porque é suposto e é o que esperam de mim. É verdade que todos temos o nosso timing, que cada um precisa do seu próprio tempo para crescer e evoluir, que este “curso natural das coisas” está ultrapassado e que já não existe essa ideia de que com a idade X temos a obrigação de estar em lugar Y. Tudo isto é refrescante, reconfortou-me durante o ano passado por esta mesma altura e esse período chegou a ser uma lufada de ar fresco.

Contudo, duvido que serei capaz de viver algo assim novamente. Acho que já tive tempo demais. Tive tempo, mas não tive respostas, nem decisões. Isto deixa-me frustrada. E assusta-me.

17/09/19

Expectativas


Tinha grandes expectativas para este verão.

Primeiro pensei que pudesse conciliar o meu trabalho em part-time com outro tipo de trabalho. Mas já antes do verão começar havia desistido da ideia, e ainda bem que o fiz, pois não o iria conseguir fazer.

Desisti da ideia principalmente com o intuito de aproveitar melhor o verão. Esta era outra das minhas grandes expectativas. Como passaria o verão a trabalhar num part-time, achava que teria tempo livre de sobra para aproveitar. Imaginava-me a ir à praia depois do trabalho, ou a ir a algum sítio, ou a ir passear por aí. Mas, bem, sonhei demasiado alto. Mal aproveitei o verão. Isto também se deveu ao estado do tempo, que foi bastante atípico para esta altura do ano. E a outros factores que me foram alheios. No entanto, também tive a minha parte de culpa. Quando realmente tive tempo livre para aproveitar, estava exausta e esgotada do trabalho. A única coisa que me apeteceu foi ficar sozinha e em silêncio. Não sei bem porquê, mas perdi completamente a vontade de ir à praia e só pus os pés no mar uma vez no verão inteiro. Passeei pouco, e apenas o fiz nas minhas folgas, pois, ao contrário do que tinha pensado, fazê-lo a seguir ao trabalho tornou-se impossível – ora por causa do horário, que era incompatível com outros planos, ora por causa da minha falta de paciência e de todo o cansaço que se apoderava de mim e que se acumulava dia após dia. O verão passou e eu mal dei por ele.

A minha última grande expectativa era em relação ao trabalho. Acho que para lá fui com as expectativas demasiado altas, com uma ideia ilusória do trabalho que seria. Estava entusiasmada por voltar a trabalhar depois de meses parada, e também por se tratar de algo novo e diferente. Estava com aquela esperança de vir a adorar o trabalho e de ser uma boa profissional. Estava feliz por mim, porque tinha resolvido arriscar e sair da zona de conforto; achava que a oportunidade me faria crescer, mas que, mais do que isso, me deixasse realizada e satisfeita, com vontade de continuar. E estava contente porque este novo trabalho me dava uma “desculpa” para não procurar outra coisa e para não exercer na minha área de formação.

Acontece que, à medida que os dias vão passando, mais me convenço de que não é o tipo de trabalho que me imagino a fazer durante muito tempo. Não considero que tenha o perfil adequado, nem considero o trabalho como gratificante, nem sequer estimulante. É verdade que, comparativamente ao meu antigo trabalho, as condições são muito melhores e, apesar de ser em part-time, estou a ganhar mais. Mas depois pergunto-me se o dinheiro compensará tudo o resto, em especial as dores nos pés e todo o cansaço a nível físico.

De vez em quando, e sei que isto é estúpido e nem sei por que o faço, dou por mim a comparar este trabalho com o meu trabalho anterior. É verdade que ganhava mal e que as pessoas muitas vezes lixavam-se umas às outras e que eu via o meu trabalho desvalorizado. Detestava não poder andar arranjada, não poder usar a minha própria roupa e não ter dois dias completos de descanso. Mas eu sabia qual era o meu papel e o que tinha que fazer. Tinha confiança naquilo que fazia e no meu trabalho. E não era apenas “mais uma”. Era a única com determinadas funções, e isso dava-me uma boa sensação, no final de contas.

Este novo trabalho é tão diferente e estranho para mim. Não é só o facto de ser pouco estimulante e de não contribuir em nada para mudar a vida de alguém – eu até achava que podia lidar com isso, pois estava completamente cega pela ideia de trabalho é só trabalho, posso fazer qualquer coisa desde que me paguem no final do mês. É a questão de ser pouco organizado, coisa a que eu não estava habituada. É o facto de o estado do tempo ter influência nele, coisa que me irrita. É a questão de lidar com o público, coisa que eu achava que seria bom para mim e que me faria sair da zona de conforto, mas que só me relembra o quanto eu detesto pessoas e o quanto gosto de trabalhar sozinha num cantinho. E o facto de eu, lá, não ser “eu”. O “eu” que trabalha ali é o “eu” tímido, acanhado, retraído e inseguro, que está sempre ansioso pela hora de ir para casa e de não olhar mais para trás. Nada a ver com o “eu” confiante e brincalhão que se desenvolveu anteriormente. O “eu” que hoje ainda se manifesta junto das pessoas com quem tenho mais confiança e à-vontade. Com estes novos colegas de trabalho e neste novo ambiente, não me sinto da mesma forma que era antes.

Este contrato de trabalho foi de apenas poucos meses e está, agora, perto do fim. Honestamente, por um lado, fico contente que esteja a terminar, mas, por outro, não consigo evitar sentir toda aquela angústia de novo – a aflição de não ter para onde ir, de ficar desamparada. É por isso que, se surgir a oportunidade de renovação, não saberei o que responder. Não queria que isto fosse apenas um “emprego de verão”. Mas isto era porque estava com as expectativas demasiado altas, certa de que me iria dar bem, que iria gostar do trabalho, que iria querer ficar e que encontraria algo para muito tempo. Sinto-me mal se levar isto apenas assim, como um “emprego de verão”, uma experiência.  Porque, se assim for, pergunto-me para que serviu tudo isto. Porque parece que tenho a obrigação de levar isto para a frente, uma vez que já cheguei até aqui, que passei nos testes de selecção e consegui o trabalho. E também por não querer como que desiludir toda a gente de novo, por não conseguir aguentar-me num emprego por muito tempo, por nunca me sentir bem em lado nenhum. É estúpido, eu sei, mas são as parvoíces que a minha mente me faz crer.

27/08/19

Contigo

Contigo quero andar de mãos dadas e namorar em todo o lado. Contigo quero ver o nascer do sol pelo menos uma vez, e o pôr-do-sol incontáveis vezes. Contigo quero ir ao cinema e partilhar pipocas. Contigo quero fazer passeios pela ilha que nos ocupem o dia todo e descobrir novos sítios, mas também quero passar dias contigo no sofá, enrolados numa manta. Contigo quero ir tomar o pequeno-almoço fora. Contigo quero passar fins-de-semana românticos em hotéis. Quero dias preguiçosos na piscina no verão e banhos de espuma no inverno. Contigo quero ir a concertos e dar-te a mão e abraçar-te ao som de uma música romântica. Contigo quero planear viagens e correr o mundo. Contigo quero ficar deitada a olhar para as estrelas e a conversar pela noite fora. Contigo quero tirar fotografias românticas, mesmo em sítios clichés. Contigo até quero cozinhar, mas também quero jantares de pizza ou de qualquer outra coisa que mandemos vir para comermos em casa. Contigo quero continuar a passear no meio da natureza, contigo a segurar-me a mão constantemente por eu estar sempre com medo de cair. Contigo quero fazer piqueniques. Contigo quero ir acampar. Contigo quero ir ver as luzes de Natal e celebrar a entrada do novo ano. Contigo quero ir dar pequenos passeios à noite depois do jantar. Contigo quero passar dias inteiros, com planos para o tempo todo ou sem planos nenhuns, em que o plano é simplesmente estarmos juntos. Quero acordar contigo ao meu lado. Contigo quero andar por aí sem destino, parando nos lugares que vamos encontrando pelo caminho. Contigo quero partilhar uma casa e decorá-la ao nosso gosto. Contigo quero ter alguma tradição que inventemos, como fazer panquecas aos domingos ou fazer uma noite de filmes nalgum dia da semana. Contigo quero conversar durante horas e continuar a rir-me com as tuas brincadeiras e as tuas tolices. Contigo quero partilhar tudo. Contigo quero fazer estes planos e muitos outros. Contigo quero continuar a sentir-me a rapariga mais sortuda do mundo.
Contigo quero uma vida. Contigo quero continuar a ser feliz, ou a ser mais feliz ainda.
Tudo só faz sentido contigo.

16/06/19

Desenhar o futuro

Via We Heart It.
Quero um pequeno apartamento. Um lugar bonito e bem decorado, mas quentinho, acolhedor e confortável, a que possa chamar casa. Com uma decoração simples e minimalista, com predomínio de brancos e com traços de tons pastel. Suculentas e velas perfumadas em diversos recantos e um ou outro quadro simples, que até pode ser feito por mim. Com um cantinho confortável que possa ser o meu cantinho de leitura. E, por falar nisso, com estantes onde possam estar todos os meus livros, intercalados com outros objectos decorativos. Um outro cantinho com uma mesa ou secretária suficientemente ampla e iluminada para que possa desenhar e escrever à vontade. Preferencialmente em frente a uma janela com uma vista agradável. Quero que tenha uma pequena varanda, com espaço suficiente para poder colocar uma mesa e cadeiras onde possa tomar o pequeno-almoço numa lenta manhã solarenga ou jantar nos longos finais de tarde do verão, admirando as mudanças de cor do céu e observando a chegada da noite. E quero que haja um quartinho onde possa ter toda a minha roupa e calçado organizados, como um closet. Haverá música a tocar pela casa a quase toda a hora. E, provavelmente, existirá um ou outro gato.

Quero um emprego simples e onde me sinta bem. Onde me dê bem e cujo ambiente me agrade. Que me permita ter o tempo livre que mereço, e não que me faça viver apenas para o trabalho. Estes são, para mim, aspectos mais importantes do que o dinheiro que dele poderá advir. Paralelamente, fazer alguns trabalhos de desenho para fora. Pequenos quadros, simples e amorosos, e coisas mais ambiciosas como cadernos e canecas personalizados e calendários com desenhos meus. Quero, ainda em paralelo, voltar a escrever e ver os meus eventuais livros publicados. Gostava que o desenho e a escrita fossem o suficiente para poder viver de forma estável, mas sei que isto já é sonhar demasiado alto. Ficarei contente se conseguir simplesmente manter estes dois hobbies durante a minha vida.

Quero dividir esse apartamento e iniciar uma vida a dois. Quero que, durante o tempo que passarmos juntos dentro das quatro paredes, existam apenas risos, sorrisos, conversas agradáveis e discussões saudáveis, felicidade e amor. Mais do que ter um lugar a que possa chamar casa, quero estar todos os dias com a pessoa que me faz, de facto, sentir em casa, e viver um amor digno de uma história.

Quero um grupinho de amigos, amigos verdadeiros e de confiança, companheiros de jantaradas, de brunches, de aventuras e de viagens.

Quero passar tardes acompanhada no sofá a planear viagens românticas ou em grupo. Quero viajar muito e com frequência, conhecer lugares que hoje me fascinam pela sua cultura, pelo modo de vida dos habitantes, pelas paisagens e pelas fotografias que vejo, e fazer pequenas escapadinhas na minha própria ilha de vez em quando. Aproveitar melhor o lugar onde vivo e adoptar novos hábitos. Tais como comprar produtos num mercado numa manhã, estar mais em contacto com a natureza ou sair de casa para ir apenas dar um passeio a pé numa praia.

Quero ser capaz de quebrar a rotina; ter tempo livre e não viver nem para o trabalho, nem em função da casa e dos afazeres domésticos. Quero que até os dias de trabalho sejam diferentes de vez em quando, com um jantar fora, uma ida ao cinema ou um simples passeio nocturno. Quero ter manhãs lentas em dias de folga, com pequenos-almoços diferentes do habitual ou ficar a ler pela manhã fora com uma grande caneca de chá. Quero estar em constante movimento e aprendizagem, fazendo cursos e formações e aprendendo mais dentro da minha área ou acerca de outras totalmente diferentes. Quero uma vida estável, confortável a nível financeiro e sem problemas no que toca à saúde. Quero aproveitar mais a vida. E ser feliz.

12/05/19

Desencanto


Sempre fui da opinião de que um curso superior não dita o futuro de ninguém. De que, lá por termos um “diploma”, não quer dizer que tenhamos um futuro garantido. Não é certo que tenhamos um emprego, de sonho ou não, naquela área em que nos formámos. Nem sequer é certo que tenhamos um emprego numa área semelhante ou que tenhamos um simples part-time. Claro que a grande maioria das pessoas que deseja tirar um determinado curso sonha em trabalhar na área em que se formou. Mas nada é garantido.

Eu não faço parte desta grande maioria por diversas razões. Nunca soube o que queria; não entrei no curso que tinha colocado como primeira opção; não desenvolvi aquele sentimento de amor ao curso; entre outros motivos. No entanto, o curso estava na minha vida e fazia parte da minha rotina e do meu dia-a-dia, e, tal como uma pessoa com quem somos obrigados a estar e a conviver todos os dias por alguma razão, criou-se uma espécie de relação de conformismo e um Vamos ver no que isto vai dar. Na verdade, houve alturas em que achei a área interessante. Mas também houve muitas alturas em que achei que talvez não fosse para mim. Seja como for, nunca houve aquele amor ao curso, ou à área. Amor é uma palavra muito forte. Houve uma simpatia, por assim dizer.

E, aliado ao pensamento de que um curso superior não ditaria o meu futuro, surgiu um outro: o de que não sou, nem devo sentir-me, obrigada a trabalhar na área em que me formei, apenas por ter um “diploma”. Portanto, o bendito diploma, aquela listagem infinita de cursos superiores e os maravilhosos títulos de licenciado, mestre e afins que ficam bem no currículo, não são garantia de uma boa vida e não nos forçam a trabalhar naquela área em específico. Devido a este pensamento, devido a nunca ter sabido o que queria da vida em termos profissionais e devido ao facto de não ter tirado o meu curso de sonho e de não me ter formado na área que mais me atrai, nunca pus de parte a hipótese de ter outro tipo de trabalho e de trabalhar numa área completamente diferente.

É verdade que, com o tempo, com a prática, com o meu próprio crescimento e com a aquisição de novos conhecimentos – e até com a aquisição do gosto em adquirir novos conhecimentos – a minha área de formação, a nutrição, interessou-me. Não deixava de ser apenas uma relação de simpatia, é certo, mas interessou-me. Continua, aliás, a interessar-me, pois, apesar de tudo, continua a fazer parte de mim. Aquilo que aprendi continua em mim; continuo a trazer os meus conhecimentos para a vida real e para o meu dia-a-dia, mesmo que o faça instintivamente e sem me aperceber; continua a ser como que um porto seguro, um plano de recurso que poderei sempre resgatar a qualquer momento. É algo que ninguém me tira. Mas desencantou-me.

30/04/19

Salto de fé

Via We Heart It.

No final do ano passado, propus-me a dar um salto de fé e a sair da minha zona de conforto. Disse a mim própria que teria que arriscar, que iria arriscar. Arriscar em algo que nunca teria feito antes e no qual nunca pensara enquanto um plano possível, ou mesmo um plano de recurso. Arriscar mesmo com medo, com medo de falhar e de que poderia dar errado. Arriscar, porque dar esse salto de fé poderia resultar num voo em direcção a um bom e grande futuro. E, quer desse certo, quer desse errado, sabia que, garantidamente, esse salto de fé me traria uma experiência, uma aprendizagem, um crescimento, tanto pessoal, como profissional.

As coisas, no entanto, nem sempre correm como planeamos. Por vezes, surgem reviravoltas tão inesperadas que alteram todo o rumo das coisas. Reviravoltas que me levam a perguntar se não serão obra do destino.

Comecei este mês de Abril com uma má notícia; depois, conformei-me e determinei-me a arriscar e a dar o tal salto de fé que há tanto tempo planeara; e, dias mais tarde, quando menos esperava, uma nova oportunidade surgiu. E decidi, sim, dar um salto de fé. Mas noutra direcção, abraçando esta oportunidade inesperada que apareceu de forma tão súbita.

De repente, tudo aquilo que planeara durante tanto tempo, que atrasara e adiara algumas vezes devido a outros imprevistos e que tanto receio me dava por não saber se iria dar certo, tornou-se num plano de recurso. Tornou-se, apesar de tudo, em algo que continua na minha mente, num trunfo pronto a usar caso esta nova oportunidade de trabalho acabe por não resultar, ou não resultar tão bem.

Trabalhar por conta própria, apesar de arriscado, não deixava de ser aliciante. A ideia de ser a minha própria chefe era deliciosa. Pensava em como seria bom não ter que agradar, provar o meu valor e mostrar resultados a um superior, poder trabalhar à minha maneira, fazer o meu próprio horário, ter folgas e tirar férias quando bem entendesse. Porém, assustava-me a ideia de falhanço e de não ter algo fixo. Não ter um rendimento fixo. Não ter um horário fixo. Por muito que diga que a rotina se torna cansativa e que gosto de quebrá-la, a verdade é que não funciono sem uma. E não me sinto confortável se não tiver uma certa segurança. Começava a achar que, pelo menos em início de carreira, no começo deste voo após o salto de fé, precisaria de mais qualquer coisa que me desse essa segurança e essa rotina, de modo a sentir-me mais confortável.

Esta “qualquer coisa” veio rápida e inesperadamente, com tanta força que começou a ocupar grande parte dos meus dias e que empurrou o meu plano inicial para os bastidores, onde agora assenta como um plano de recurso, um trunfo, adormecido. Porque seria parvoíce da minha parte pô-lo de lado ou atirá-lo ao lixo, depois de tanto estudar, planear, reunir informações, investir. Por outro lado, também seria parvoíce da minha parte desperdiçar uma nova oportunidade, ainda que tão diferente.

Continua a ser um salto de fé. Continua a ser algo que me fará sair da minha zona de conforto. Continua a ser algo que nunca fiz e que nunca me imaginara vir a fazer. Continua, por isso, a ser uma oportunidade para crescer, para aprender, para evoluir.

Na verdade, sinto-me como se tivesse regressado à faculdade. Horário rigoroso, “aulas”, avaliações, o tirar notas, o andar de transportes públicos, o conviver com novos colegas. Mas, por mais estranho que seja, não deixa de ter o seu quê de engraçado. No fundo, acredito que valerá a pena. Nem que seja apenas pela experiência. É por isso e pelas lições que delas retiramos que acredito que tudo acaba por valer a pena e que nada é tempo desperdiçado.

02/04/19

Coisas boas do mês - Fevereiro e Março de 2019

Via We Heart It.

Bem sei que é tarde para vir falar de Fevereiro. Na verdade, nem sei bem o que se passou para não ter falado sobre esse mês e para mal ter vindo aqui durante o mês de Março. Até comecei a pensar em desistir deste tipo de publicações, mas têm estado várias coisas boas a acontecer, pelo que achei que não faria sentido deixar de as registar. E Fevereiro foi um bom mês; é por isso que vou juntá-lo ao mês que passou e criar esta “compilação” de coisas boas destes últimos dois meses. Vou tentar não ser tão desleixada durante o resto do ano.

Fevereiro deve ter sido o mês mais estranho desde que criei este blog. Isto porque passei-o a trabalhar, na íntegra. Foi um regresso a uma rotina e a uns dias activos e preenchidos, algo que já procurava há algum tempo e que me fez muito bem. O que também o tornou estranho foi o facto de ter feito coisas diferentes fora do trabalho, o que costumava ser raro e incomum para mim, mas que, tal como o facto de trabalhar, eu também procurava fazer. Foi, assim, um mês de trabalho e de passeios, com locais novos e pessoas novas à mistura.

E aqui juntarei os dois meses e falarei sobre os dois ao mesmo tempo. Aquilo que era apenas uma amizade virtual tornou-se em algo para além disso e tem-me surpreendido continuamente, dia após dia. Conheci vários lugares da ilha aos quais nunca tinha ido – o Pico do Ferro, a Lagoa do Congro e uma pequena cascata escondida algures –, bem como alguns miradouros mais secretos e menos acessíveis. Fui aos banhos termais. Almocei e jantei fora diversas vezes. Fui ao cinema. Fui conhecer uma casa de chá na minha cidade que é só das coisas mais fofinhas de sempre a nível de espaço e de decoração, para não falar na grande variedade de chás que oferece. Regressei às séries, embora não tenha começado a ver nenhuma nova. Terminei de ler O Filho das Sombras, que adorei. Ouvi o novo álbum dos Within Temptation várias vezes e vou continuar a ouvi-lo até enjoar. Fiz uma compra muito necessária e que me deixou muito satisfeita: um portátil. Bem como algumas outras comprinhas a nível de guarda-roupa: novos pares de sapatilhas e de calças mais por dentro da moda actual, para também variar um pouquinho na minha forma de vestir.

Em cima de tudo isto, ainda fiquei um aninho mais velha e tive um bom dia de aniversário. Se bem que havia mais pessoas com quem gostaria de ter partilhado o dia e ainda não foi desta que celebrei mais um ano de vida em viagem por outro país, algo que gostava de fazer.

Espero, em Abril, continuar a surpreender-me, e que este mês me traga as grandes viragens que eu tanto desejo.

20/03/19

Falsos felizes

O último álbum dos Paramore, After Laughter, lançado em 2017, foi, para mim, uma masterpiece em termos de letras e de mensagem que transmite. Para quem não conhece, todo o álbum e qualquer uma das músicas é um desabafo, uma expressão de sentimentos de quem se encontra num estado de depressão, ansiedade, exaustão em relação à vida e ao mundo, e tantas outras coisas semelhantes pelas quais cada um de nós, a certa altura, já passou. O interessante é que, apesar da tristeza das letras, que foram tão bem escritas e que expressam os sentimentos e a mensagem de uma forma tão verdadeira e tão adequada à nossa realidade, a maior parte das faixas vem até nós com uma sonoridade leve e um ritmo animado. É quase como um “disfarce”: uma música com uma aparência alegre e animada, capaz de nos pôr a mexer, mas com um “interior” – uma letra – tão triste.

Engraçado que uma das músicas chama-se Fake Happy e fala precisamente deste assunto, mas, como não podia deixar de ser, em relação às pessoas: o facto de se mostrarem felizes e de darem a entender que se estão a sair bem na vida, quando, na verdade, vivem tristes, vazias, revoltadas, desamparadas e tudo o mais que se possa imaginar. Mas não o demonstram, preferindo viver atrás de uma máscara de felicidade falsa. Acho engraçado porque a própria música é como uma Fake Happy Song. É uma das minhas favoritas do álbum, especialmente por causa da mensagem.

Aliás, o que mais me fez gostar deste álbum foi mesmo a mensagem e as letras, porque, no que toca à música em si, continuo a gostar mais dos antigos Paramore, como muitos outros fãs. No entanto, foi como se este álbum tivesse surgido numa altura de necessidade. Eu estava num período muito mau quando foi lançado e quando o ouvi pela primeira vez, pelo que a minha reacção às letras e a compreensão das mesmas foram imediatas. Creio, até, que se não tivesse estado assim, sentindo-me como no fundo do poço, completamente infeliz, perdida, desamparada e sem encontrar qualquer propósito na vida, nunca teria estimado este álbum desta maneira. Ter-me-ia passado despercebido e não teria gostado dele, por não ter compreendido as letras nem todos os sentimentos que transmitem.

Tal como a música que falei acima nos diz, também eu já fui uma fake happy, e penso que todos nós, a certo ponto, também já o fomos. Existe, até, quem continue a sê-lo. É que era tão mais fácil disfarçar e esconder o que se sentia e o que se passava cá dentro; era tão mais fácil pôr uma máscara e fingir que estava tudo bem. E era ainda mais fácil publicar fotografias aparentemente felizes nas redes sociais. Só para que todos pensassem que estava tudo bem, que eu também estava bem e feliz, tal como todos eles. No entanto, há tanta coisa que uma fotografia não mostra. Há sempre uma história por trás, e, por vezes, uma história tão diferente da imagem que vemos. Podia estar a sorrir numa fotografia, mas estar infeliz e sufocada por dentro. E ninguém o sabia. Como podiam saber?

E pus de uma vez por todas na cabeça que, tal como as minhas fotografias tinham a sua história e eram muito mais do que aquilo que os outros viam, também as fotografias das outras pessoas o deviam ser. Também teria que haver mais do que aquilo que mostravam, pois parecia-me impossível estarem sempre felizes e terem uma vida aparentemente perfeita e sem preocupações durante a maior parte do tempo. É um conceito tão óbvio, mas custou-me tanto a entendê-lo.

Quando comecei a ver as coisas com outros olhos e quando comecei a melhorar, fui começando a deixar, aos poucos, esta questão de me comparar constantemente com os outros e esta espécie de necessidade de dizer e de mostrar que também estava tudo bem comigo. As redes sociais conseguem ser completamente tóxicas neste sentido, mas, agora, já nada disto me afecta. Porque, tal como aconteceu comigo, uma fotografia pode ser muito mais do que aquilo que mostra. Ainda existem muitos fake happy por aí. Mesmo que não o sejam, já não invejo a sua felicidade. Pelo contrário, e isto até não deixa de ser estranho para mim, até me sinto bem e leve com a felicidade dos outros, especialmente das pessoas que conheço e/ou que admiro. Ver pessoas felizes, genuinamente felizes e com vidas felizes, faz-me, agora, pensar que um dia também chegarei lá.

Hoje, sou mais uma genuína feliz do que uma falsa feliz. Agora, nada do que eu publico nas redes sociais surge com o propósito de disfarçar uma dor ou de esconder sofrimento. É tudo verdadeiro e honesto, mas só até certo ponto.

É que também existe a outra face da moeda: a parte do quanto é que devemos mostrar. Eu acho um piadão a quem mostra tudo o que fez num dia, a quem fotografa tudo e filma tudo só para toda a gente ver. Não estou a ser irónica; acho mesmo piada. Especialmente quando se tratam de viagens e é como se eu também estivesse ali ao lado. Não vejo qual seja o propósito e não sei se se trata de exibicionismo, mas também não me incomoda. Seja como for, é algo que não faço. Pelo simples motivo de não ter a mínima pachorra para andar com o telemóvel na mão e por preferir ver as coisas com os meus próprios olhos, mesmo que mais ninguém as vá ver.

Assim, ninguém sabe, por exemplo, quando e onde é que vou jantar fora. Ninguém sabe dos passeios que faço aos fins-de-semana. Ninguém sabe que roupa usei em determinado dia. Ninguém sabe se faço compras. Ninguém sabe se também não faço exercício ou se também não como comidas boas. Ninguém sabe, sequer, o que fiz este fim-de-semana. Ninguém sabe se estou sozinha ou acompanhada. E nem eu faço questão de que o saibam. São coisas que ficam apenas comigo, e não partilhá-las nas redes sociais não significa que não tenha uma vida mais ou menos boa nem mais ou menos interessante. É melhor do que ser uma falsa feliz. Se porventura surge alguma partilha, é genuína. E a (boa) história que existe por trás, bem, essa só eu vou saber.

02/03/19

"A Filha da Floresta" ou O porquê de adorar Juliet Marillier


Já faz algum tempo desde que terminei de ler A Filha da Floresta, o primeiro volume da série Sevenwaters. E a razão de ainda não ter vindo aqui falar sobre o livro ou escrever uma review em condições foi o facto de ter ficado tão entusiasmada e interessada pela série, o que fez com que, para além de me ter deixado sem palavras e sem ideias para escrever uma opinião, me atirasse logo ao segundo volume, O Filho das Sombras, que estou a devorar bem mais rapidamente do que o primeiro.

Na verdade, continuo sem grande inspiração para escrever uma review sobre este livro. Prefiro, aliás, falar sobre o quanto gosto da autora, Juliet Marillier.

Este não foi o primeiro livro que li desta senhora. Já tinha lido uma outra trilogia, Shadowfell, da qual gostei mesmo muito e sobre a qual escrevi no meu antigo blog. Mas já nessa altura ouvia falar de Sevenwaters – que é mais antiga do que a Shadowfell –, e tudo o que lia sobre isso dava-me a entender que era uma série bem melhor do que aquela que tinha acabado de ler.

O facto de já ter lido esta outra trilogia da mesma autora fez com que notasse alguns pontos comuns.

Juliet Marillier é uma contadora de histórias encantadora. Para além da forma como escreve e conta a história que estamos a ler, também é capaz de inventar pequenas histórias dentro da história, histórias de aventuras, de fantasia e romances de contos-de-fadas que se contam ao redor de uma fogueira ou após um jantar. Tem uma imaginação tão grande, e transmite as suas ideias de uma forma tão leve, clara e cativante. Depois, há a forma como descreve a natureza, sejam florestas ou campos, praias ou o vasto oceano. Descreve os lugares de maneira a sentirmo-nos lá. Até os cheiros. O cheiro a papas de aveia, o cheiro de infusões de ervas e tudo o mais parecem ser transportados para a realidade, de tão bem descritos. Fala muito sobre árvores, ervas e flores. Há magia nas suas histórias e criaturas de outro mundo, e esses elementos são normais no mundo em que a história se passa. Em termos de tempo, passam-se numa época antiga, que remete para o medieval. Traz-nos personagens femininas fortes, corajosas, determinadas e lutadoras, que normalmente são curandeiras. O ofício é relatado ao pormenor, bem como os usos e propriedades de mais ervas e flores. Os romances entre as personagens são descritos de uma forma tão subtil e poética; não é necessário o uso de expressões directas para percebermos que há algum sentimento entre personagens, pois isto é simplesmente subentendido, como que lido nas entrelinhas. Até cenas “picantes” são escritas de forma poética. Os livros são escritos na primeira pessoa, mas a ligação que se estabelece com o leitor é tão forte e a linguagem é tudo menos infantil – e não é qualquer escritor que consegue essa proeza.

A Filha da Floresta é baseada num conto dos irmãos Grimm, Os Seis Cisnes. Apesar de não conhecer o conto na altura, tanto isto como a sinopse na contra-capa do livro fizeram-me franzir um pouco o nariz e hesitar em trazê-lo para casa. A verdade é que, embora já tivesse ouvido falar tão bem da trilogia e de estar ansiosa por lê-la, a sinopse reduziu as minhas expectativas. Isto porque referia o cliché da madrasta má dos contos-de-fadas, que lançava uma maldição sobre os irmãos da personagem principal, e esta, depois disto, estava destinada a salvá-los. Pareceu-me tão típico, um simples conto-de-fadas que não acrescentaria nada de novo.

Mas eu devia ter-me lembrado de que é de Juliet Marillier que estamos a falar, e, ao ler as primeiras páginas e ao reconhecer tantos pontos em comum com a minha adorada série Shadowfell, recordei o quanto gostava desta autora e não foi preciso muito para me embrenhar na história. Não é um conto-de-fadas, e não é típico nem cliché. Há tanto que acontece, tanta coisa que muda o rumo da história e que nos leva a perguntar o que se passará a seguir.

Fiquei embrenhada na história logo no início, porque logo aí é-nos apresentada a família de Sevenwaters, os sete filhos – seis rapazes e uma rapariga – de um sétimo filho. São todos tão diferentes, cada um com a sua particularidade, as suas características, os seus gostos e as suas aptidões – que estão tão bem definidos e que a autora faz sempre imensa questão de realçar – e é notável o amor e a união que existem entre os sete. Por acaso gostava que a questão da “madrasta má” e a sua presença no seio da família tivessem sido mais desenvolvidas. A partir de certo ponto, quando são dadas as condições para que os irmãos da protagonista se libertem da maldição, achei que a leitura fosse tornar-se aborrecida, mas não. O simples dia-a-dia da personagem principal é bom e encantador de se ler, e a constante mudança de ambiente e até a mudança das estações do ano foi algo refrescante. Houve uma cena que me chocou um pouco, uma cena marcante quase a meio do livro e que altera o rumo dos acontecimentos. Não foi chocante propriamente pelo seu conteúdo, mas pela linguagem utilizada – que foi muito bem empregue e a cena foi muito bem descrita; talvez por isso se tenha tornado mais chocante ainda. E não gostei do final, pois não estava à espera que acabasse daquela maneira. Aliás, esperava que algumas das coisas acontecessem, mas não outras. Portanto, não é um conto-de-fadas.

Mas talvez seja devido a esse final que ficamos com a curiosidade aguçada para o próximo volume da série. Foi o que me aconteceu. E até este segundo livro, para além de um pouco diferente, está a ser ainda mais interessante.