26/12/20

Regresso a casa

Sim, 2020 foi um ano em que grande parte das pessoas regressou, literalmente, a casa. Ao espaço onde vivem. Atiradas para lá à força, impedidas de sair, obrigadas a lá permanecer o máximo de tempo possível. Fique em casa devia ser considerada a frase do ano. Para quem tinha a sua rotina de sair de casa para trabalhar e regressar ao final do dia, e mesmo para quem tinha que sair para cumprir outras rotinas e afazeres, ou para quem se viu forçado a trabalhar em casa sem saber para onde se virar ou como dar conta de tudo, acredito que tenha sido difícil.

No meu caso, no entanto, não houve um regresso literal a casa, porque, em casa, já eu estava. No espaço onde vivo, quero eu dizer. Houve, no entanto, um regresso à minha “casa espiritual”. Sinto que me reencontrei ao longo deste ano. 

Sei, também, que a grande maioria das pessoas considera que este foi um ano deitado ao lixo, em que nada aconteceu, em que não fizeram nada. Eu também tinha os meus planos. Gostava de ter feito pelo menos uma viagem. Gostava de ter iniciado o meu negócio próprio. Entre outras coisas que a pandemia não deixou fazer. E, por causa disso e por ter sido, tal como toda a gente, forçada a ficar em casa, em vez de deixar que a incerteza em relação ao futuro e que a ansiedade e o medo de não saber o que poderia vir a acontecer me sufocassem e me sugassem toda a sanidade, eu voltei a minha atenção para outros aspectos.

14/12/20

Tomar as minhas próprias decisões

Fora do campo artístico, neste ano atípico passei a maior parte do tempo em casa, continuei no meu regime de prestação de serviços – serviços esses que só surgem de vez em quando –, não encontrei um emprego a tempo inteiro nem um trabalho temporário, e não comecei o meu negócio próprio, que tinha planeado iniciar este ano. Quem vê de fora, especialmente quem mal me conhece ou que nem sabe do meu projecto artístico, dirá que não fiz nada durante um ano inteiro, que não contribuí para nada. No entanto, eu sei que fiz algo. Fiz muitas coisas, aliás. Mas quero falar sobre algo particularmente importante: o trabalho interior, o olhar para dentro e perceber, finalmente, o que realmente quero e o que faz sentido para mim e aquilo que não quero para a vida. O tomar as minhas próprias decisões, independentemente da opinião alheia. 

07/12/20

Um balanço, artisticamente falando

Sei que já não venho aqui há tanto tempo, e, na verdade, por vezes até me questiono se manter este cantinho na internet continuará a fazer sentido. Já nem se coloca o facto de os blogs estarem a morrer – se é que já não morreram – e de sentir que escrevo para o vazio, tal é a falta de feedback. A verdade é que o tempo não estica, tive que redefinir prioridades e nem tenho tido grande paciência de cá vir. Até já deixei de parte as publicações que fazia no início de todos os meses, acerca das coisas boas de cada um, porque o facto de ser como uma “obrigação” – por ser algo recorrente – retirou-me a vontade de escrever sobre isso. No entanto, estas coisas estão registadas na minha espécie de Gratitude Journal, onde celebro cada pequena vitória e cada pedacinho de alegria de todos os dias.

E a verdade é que o mês passado foi ocupado. Pela primeira vez, recebi diversas encomendas dos meus trabalhos personalizados – canecas, para ser mais precisa. Por isso, ao longo de algumas semanas, trabalhei nelas depois da minha rotina matinal, e cheguei a fazê-lo durante o dia todo, enquanto tinha luz natural. 

E, bem, como adorei estes dias. Apesar do nervoso miudinho para fazer algo do inteiro agrado das pessoas e apesar das dores de cabeça que todas as canecas me deram – umas mais do que outras –, trabalhar nelas foi tão divertido e gratificante. E senti-me feliz. Feliz por saber, ao acordar, que iria sentar-me na secretária a desenhar. Não para mim, mas para pessoas reais, clientes reais. E que iria ganhar algo com isso, não apenas monetariamente falando. Como se fosse um trabalho. Sempre fui feliz a desenhar, mas, neste caso, era a felicidade redobrada por estar a fazer algo para alguém; por saber que aplicaria a minha arte num objecto que iria para a casa de alguém; por saber que várias pessoas mo haviam pedido; por saber que essas pessoas gostam daquilo que faço e reconhecem o valor do meu trabalho. Acordar, ir desenhar e vir a ganhar algo com isso foi como viver um sonho. Profissionalmente, sempre quis fazer algo relacionado com o ramo artístico, mas nunca soube exactamente o que poderia vir a fazer e foram várias as pessoas que me desencorajaram nesse sentido – porque, na opinião delas, eu não iria ter emprego, nem dinheiro. E ter feito estes trabalhos nestes poucos dias só me fez perceber o quanto gostava de o fazer mais vezes. Acredito que isto tenha sido sol de pouca dura, ainda para mais estando em época de Natal; acredito, assim, que este tipo de produtos terá os seus picos de procura e as suas alturas do ano em que a coisa andará mais estagnada, mas, honestamente, está tudo bem. Não posso obrigar ninguém a comprar, nem posso exigir à minha criatividade que me faça ganhar rios de dinheiro – tal como refere Elizabeth Gilbert n’A Grande Magia –, e uma coisa eu posso fazer nesses períodos em que pouco ou nada acontece: investir noutros produtos e noutras aprendizagens e continuar a trabalhar para melhorar e evoluir. 

Acho que, no que se refere ao meu projecto, esta foi uma das minhas grandes falhas, e algo que correu menos bem durante este ano. Penso que poderia ter aproveitado melhor o tempo, investindo em novas aprendizagens. Poderia ter começado a investir no digital ou ter feito um curso online que já está pendente há imenso tempo, por exemplo. Poderia, assim, já estar a começar a ter novos produtos e serviços. Poderia ter começado a pensar mais “à frente”, naquilo que eu gostaria e poderia vir a oferecer, em vez de me ter focado tanto no momento presente, desenhando aquilo que me apetecia ou fazendo coisas de que gosto. 

13/09/20

Letters by Rachel #4 - Encomendas e orçamentos

Em Julho, fui contactada por uma seguidora da minha página. Disse que adorava o meu trabalho e que gostaria de oferecer uma caixa personalizada por mim a uma amiga que estava grávida. Perguntou-me se eu aceitava encomendas.

Fiquei sem saber o que dizer. Por um lado, era óbvio que queria aceitar encomendas e fazer produtos personalizados para outras pessoas – era o meu grande objectivo! Mas, por outro, eu nunca tinha feito aquilo antes. Não sabia se os meus produtos podiam já ser considerados dignos de serem vendidos. Achava que tinha muito mais a aprender e a aperfeiçoar antes de tornar a questão das encomendas algo “oficial”. Era como se eu estivesse à espera de um “momento perfeito” inexistente para anunciar que estava a aceitar encomendas e que estava pronta a colocar o meu trabalho no mundo, fora das minhas portas. Percebi o quanto estava a ser tola ao pensar nestes entraves, e aceitei. Fiz a caixa com todo o gosto, demorando todo o tempo que foi necessário, mantendo a moça – a minha primeira cliente! – a par de todo o processo; gostei bastante de fazer a caixa, de ver o resultado final e de saber que, tanto ela como a amiga, tinham-na adorado. 

Este primeiro pedido foi como que um “empurrão” para não continuar à espera de um momento perfeito em que eu pense que já aprendi, pratiquei e aperfeiçoei o suficiente e que considere o meu trabalho digno de ser mostrado e vendido. Porque, na verdade, eu continuarei sempre a aprender, a melhorar e a evoluir. Eu sei que farei melhores trabalhos com o passar dos anos. A evolução é algo constante. Por isso, não faz sentido continuar a adiar, e este pedido, este “empurrão”, deu-me uma certa confiança para arriscar e ver no que isto vai dar. 

Assim sendo…estou, oficialmente, a aceitar encomendas!

E como funcionam? 

12/09/20

Letters by Rachel #3 - O projecto

Através de um curso online, aprendi o básico dos básicos acerca do lettering. Aprendi, entre outras coisas, as regras principais, a montar uma composição e a começar a usar materiais dos quais nunca tinha ouvido falar antes: os marcadores caligráficos e as brushpens. Ao longo do curso, comecei a entusiasmar-me cada vez mais, e a alegria de desenhar regressou. Foi como se me tivesse reencontrado após um longo período tão negro.

Depois de terminar, comecei a criar as minhas primeiras composições – os meus primeiros letterings –, e uns dois meses depois, ganhei força e coragem para criar a minha página no Instagram dedicada a estes meus trabalhos. Criei a página para mostrar os trabalhos e divulgar o que começara recentemente a aprender e a fazer, mas, para além disso, eu tinha um objectivo muito maior e mais ambicioso. Eu fora inspirada pelas tais artistas brasileiras, e queria ser assim, como elas, ganhando a vida com a minha arte. 

Lettering não é apenas quadros. Se virmos bem, frases inspiradoras desenhadas com letras bonitas e trabalhadas, combinadas para criar um resultado harmonioso, equilibrado e atractivo, estão presentes em todo o lado. Quadros, canecas, caixas de madeira, peças de roupa, tote bags e até mesmo paredes são apenas alguns exemplos. As oportunidades de negócio são imensas, e, como me encontrava desempregada, isso também me motivou. 

11/09/20

Letters by Rachel #2 - A inspiração

Nunca tinha ouvido o termo lettering na minha vida, nem sabia que fazer um desenho apenas com uma frase era algo legítimo, apesar de a frase ter letras bonitas e coloridas e de, no seu todo, criar um resultado harmonioso. Não sabia, sequer, que existiam tantas pessoas que se dedicavam a essa arte – a arte de desenhar letras. Eu apenas tinha visto imagens destas “frases desenhadas”, e foi isso que o meu subconsciente foi buscar quando comecei a desenhar para expressar os meus sentimentos, em 2016/2017.

Deparei-me com a palavra lettering pela primeira vez no Instagram, quando conheci as páginas de algumas artistas brasileiras cujas fotos eram apenas dos seus trabalhos: frases desenhadas, de uma forma tão bonita e com cores e padrões que combinavam tão bem entre si, que criavam um resultado tão harmonioso e apelativo. Foram elas que, de alguma forma, chegaram ao meu perfil e me enviaram pedidos para seguir – apenas para promoverem a sua página, percebi um tempo depois –, e eu, depois de entrar nas páginas delas para ver quem eram, fiquei encantada com o que faziam e não resisti em segui-las. 

O lettering é, de facto, a arte de desenhar letras, e de combinar e dispor diferentes letras e palavras de uma forma coerente, harmoniosa e com sentido, para transmitir uma mensagem e/ou chamar a atenção. Essas artistas que eu segui e que se dedicavam a essa arte faziam sobretudo quadros, à mão ou num meio digital, e vendiam-nos. Ou então apenas desenhavam frases nos seus cadernos. Seja como for, criavam uma peça de decoração unicamente composta por letras e palavras – que actualmente se vê imenso por aí –, coisa que eu achei fascinante. Afinal, pensei, viver da arte não implica fazer quadros abstractos ou desenhos realistas que mais parecem fotografias. 

Eu olhava para os trabalhos dessas artistas e pensava no quanto gostaria de saber fazer algo assim. Pensando, erradamente, que tinha apenas que ver com dom e com “jeito”, que não existiam regras para fazer aquele tipo de trabalho, que não existiam, sequer, cursos para aprender aquilo. Mas não fiz nada para tentar, nem pesquisei sobre o assunto. Até ao dia em que vi um vídeo de uma dessas artistas, acerca de motivação, em que ela perguntava algo do género Qual é o teu objectivo? Ser o maior artista de lettering da tua região?. Só aí se acendeu uma luzinha na minha cabeça, especialmente depois de me ter apercebido, através delas, a quantidade de oportunidades de negócio que o lettering podia oferecer. No dia a seguir, estava a pesquisar sobre cursos de lettering.

10/09/20

Letters by Rachel #1 - A arte esteve sempre presente

As actividades criativas sempre estiveram presentes na minha vida desde a infância. Quando era criança, desenhava. Quando aprendi a escrever textos, enchi cadernos com histórias. Acabei por juntar as duas coisas e fazer, num mesmo caderno, desenhos alusivos às histórias que criava. Com o passar dos anos, de tanto estarem presentes e de eu investir tanto tempo neles, o desenho e a escrita tornaram-se nas minhas grandes paixões. Passava horas sozinha, a desenhar ou a escrever, e adorava cada segundo, mesmo que me achassem estranha por passar tanto tempo no meu canto ou por gostar de estar sozinha ou em casa. Tudo o que aprendi, foi por mim mesma. A partir de certa altura, porém, uma destas artes acabou por se destacar mais, e eu acabei por lhe dar mais atenção, deixando a outra para segundo plano e para “de vez em quando”. A escrita tornou-se mais empolgante e mais importante para mim, até porque eu começava a encarar o desenho como uma actividade “de criança”. 

Assim, quando eu ouvia a pergunta de que, se o dinheiro não fosse importante e eu pudesse ser ou fazer o que quisesse, eu sempre respondia – para dentro, pois tinha receio da opinião dos outros caso o proferisse em voz alta – que seria escritora. Agora, no entanto, acho que responderia outra coisa. 

Apesar de já não o fazer com grande frequência – ou, melhor dizendo, de o fazer raramente –, continuo a adorar escrever. Continuo a adorar inventar histórias e criar mundos. Mas…até que ponto as minhas ideias e os meus mundos imaginários dariam bons livros? 

06/09/20

Um mês de recomeços

Perco a conta às pessoas que dizem que Setembro é um mês de recomeços e que gostam imenso deste mês precisamente por isso. Por um lado, acho bonito. Houve a pausa do verão para recarregar baterias, e agora é hora de recomeçar, regressar às rotinas, arregaçar as mangas. Por outro lado, chateia-me e deixa-me algo triste. 

Na verdade, eu nunca gostei de Setembro, precisamente por ser um mês de recomeços e de volta à rotina. Como se eu quisesse que as férias de verão durassem para sempre. Porque era das alturas do ano em que me sentia mais feliz: não sentia pressões, não tinha obrigações, passava mais tempo sozinha a fazer o que mais gostava, não tinha que agradar ninguém nem fingir o que quer que fosse, sentia-me confortável. Regressar à escola e, posteriormente, à universidade, causava-me sempre uma enorme ansiedade por diversos motivos. E, nos últimos anos, Setembro era apenas mais um mês de trabalho como outro qualquer. A questão dos recomeços e do regresso à rotina deixou de se aplicar. 

01/09/20

Agosto

Agosto foi um mês diferente, no sentido em que soube, realmente, a verão. Permiti-me relaxar, colocar o stress e a ansiedade em pausa e desfrutar. 

Fui, finalmente, à praia e mergulhei no mar pela primeira vez este ano – sim, foi só em Agosto…nunca, em toda a minha vida, o primeiro banho de mar do ano tinha sido tão tarde! Eu convenci-me de que estava cansada de praia, mas acho que a verdade é que já não me lembrava do quanto gostava de mergulhar no mar e da sensação tão boa de leveza e liberdade que ele me traz. Mergulhei no mar não apenas na praia mais próxima de casa, como também noutras praias e noutras zonas balneares que desconhecia e que são autênticos tesouros escondidos, lugares com uma paisagem incrível onde o mar cristalino se encontra com formações rochosas tão bonitas e majestosas, que é como se estivesse noutro país. 

Mas, para mim, verão não se resume a praia, pelo que não faltaram momentos dignos desta altura do ano. Almoços em esplanadas, alguns deles com vista para o mar. Um trilho pedestre. Piqueniques românticos. Leituras no parque da cidade, à sombra das árvores. Um serãozinho em casa de uma amiga. Um cozido à portuguesa em família, tipicamente confeccionado com o calor da terra. Bons e agradáveis convívios. 

O aniversário do R. foi celebrado com uma tarde de piquenique à beira de uma lagoa e com um jantar na pizzaria italiana que conheci no mês passado. E o da minha irmã com uma festa na piscina e um convívio que perdurou. Eu e o R. também passámos juntos o dia em que celebrámos mais um mês de namoro. Foi um dia tão bom. Ele ofereceu-me flores, passeámos de mãos dadas junto a uma lagoa, almoçámos à sombra de uma árvore, pusemos os pés na água – que estava tão apetecível –, tirámos fotografias e fomos um pouco à praia. Fizemos uma caminhada junto ao mar antes e depois do jantar, da praia ao restaurante e vice-versa. A caminhada de regresso soube-me especialmente bem, depois de comer e na frescura da noite. Junto à praia, contemplámos o céu estrelado. Estava tão bonito, sem qualquer nuvem. Acho que nunca tinha visto um céu tão estrelado. 

Para além dos dias e dos momentos dignos de verão, continuei a desenhar. Desleixei-me um bocado na questão do exercício físico, mas as vezes em que o fiz souberam-me mesmo bem. E vi alguns filmes, sendo que os meus preferidos foram Interstellar – que já estava há meses para ver –, The Great Gatsby e Whisper of the Heart

Depois deste mês e de todos estes momentos, concluo que já não me lembrava do quanto gostava do verão. Porque existiram dias mesmo assim, com bom tempo, que me souberam a autênticos dias de verão, autênticos dias de férias, em que não existia qualquer preocupação. Mas, apesar de estar com as baterias recarregadas, com o começo de Setembro sinto novamente o stress e a ansiedade à espreita e a baterem-me à porta de vez em quando…

06/08/20

Julho

Julho começou bem com o dia de aniversário da minha mãe passado ao ar livre numa reserva florestal. Aliás, Julho foi um mês repleto de ar livre, de sol, de ar fresco, de esplanadas, de estar junto do mar. Não deixou de ser, também, um mês de trabalho, mas teve tantos momentos bons. Teve tardes românticas, com a melhor companhia do mundo que me faz sentir sempre tão bem, uma delas com um piquenique. Teve um dia diferente, passado longe da cidade, com direito a um almoço delicioso e a um momento de puro descanso junto a uma lagoa. Teve dois churrascos agradáveis, um deles em casa de uma amiga minha de infância com quem já não estava há meses. Já não me lembrava do quanto me sabia tão bem sair de casa e mudar de ares ou ir a um pequeno convívio. 

Em Julho, voltei a investir em mim própria e em novas aprendizagens. Continuei a desenhar, e inclusive ilustrei algumas personagens minhas, de histórias que criei. Retomei as leituras, e ainda adquiri mais uns livrinhos. Vi uma mini-série. Fui a uma pizzaria italiana que não conhecia. Prossegui com novas experiências culinárias e com novos sabores – as deste mês foram “moelas” de seitan, falafels de grão e batata-doce e um salteado de grão-de-bico com molho de amendoim. Fiz algumas comprinhas nos saldos. O filme que mais gostei de ver este mês foi The sun is also a star. E ainda trabalhei na personalização de uma caixa, que me foi encomendada – a minha primeira encomenda! 

Julho foi, assim, um mês relativamente equilibrado, e terminei-o com saldo positivo. Deixou-me, sem dúvida, com um bichinho e um gostinho de querer sair mais de casa e de aproveitar bem o verão. Agora que o consegui terminar o meu mais recente serviço, não vejo a hora de o fazer.

22/07/20

Coisas que mudaram em mim nos últimos meses

Voltei a acordar cedo
Este era um hábito que já tinha tentado manter antes, mas sem grande sucesso. Corria bem no início, mas depois desleixava-me aos fins-de-semana, e depois num ou noutro dia em que não me apetecia levantar. Inclusive, começava a fazer ronha. Mas, poucos dias depois de o confinamento ter começado, quis retomar este hábito para aproveitar o tempo em casa da melhor forma possível. E ainda hoje continuo a mantê-lo. Agora, até, acordo antes do despertador tocar, e também acordo cedo aos fins-de-semana, sem alarme. Acho mesmo que já nem consigo ficar a fazer ronha na cama. É que nem apetece! Pode ser que, no inverno, a conversa seja outra, mas, por enquanto, só quero acordar cedo para aproveitar o dia da melhor maneira. Acordar cedo, de preferência antes do alarme, deixa-me mais bem-disposta e com mais energia, e tem sido das melhores coisas que tenho feito por mim.

Comecei a gostar de cozinhar 
Acreditem quando digo que detestava cozinhar. Detestava! Ora por ser um processo demorado, ora por nunca saber o que devia fazer, ora porque tinha que ter todos os ingredientes em casa e isso implicava ir às compras, ora porque preferia estar a fazer outra coisa qualquer, enfim. Mesmo enquanto estive na universidade, os meus míseros cozinhados resumiam-se a massas, a saladas de atum, a ovos mexidos e a pouco mais. Tudo o que envolvesse o mínimo de tempo e de esforço. O que também incluía, entre outras coisas, comida congelada. Shame on me, I know. 
Juro que não sei ao certo o que se passou durante o confinamento, mas comecei a cozinhar e não parei. Experimentei uma ou outra receita nova, saíram bem, eram saborosas, até a minha mãe aprovou. E isso só aumentou a minha confiança. A partir daí, só quis continuar a procurar mais, a descobrir novos pratos e novos sabores. 

Reduzi drasticamente o meu consumo de carne 
Eu era daquelas pessoas que comia mais carne do que peixe – embora o meu consumo de peixe tenha sido razoável, especialmente nos últimos tempos – e que dizia que nunca seria capaz de deixar de comer carne. Ao mesmo tempo, já há algum tempo que tinha vontade de experimentar pratos vegetarianos e de me aventurar neste tipo de culinária. Isto porque, apesar de tudo, eu sempre gostei – e continuo a gostar – de experimentar novos pratos e novos alimentos. 
Isto de reduzir o consumo de carne veio na sequência de começar a gostar de cozinhar. Já há muito que tinha curiosidade em experimentar hambúrgueres de leguminosas. Vi uma receita facílima de hambúrgueres de grão-de-bico e resolvi experimentar. E este foi o gatilho. O gatilho para começar a cozinhar, para procurar novas receitas e para começar a comer alternativas à carne. Não foi nada planeado; aconteceu, simplesmente. 
Esta foi apenas a primeira receita. Depois desta, seguiram-se tantas outras. E eu comecei a alternar estas receitas vegetarianas com pratos de peixe e com pratos de carne. Até ao dia em que deixou de se ter carne cá em casa e, por incrível que se pareça, eu não sugeri comprar mais nem sugeri que se fizessem pratos de carne, pois deixei de lhe sentir falta. Isto por ter descoberto um mundo de sabores bem mais fascinante e natural. 
Apenas com peixe, com este grande aumento no consumo de legumes e leguminosas e com a descoberta de alternativas vegetais à carne, tenho-me sentido muito mais leve, bem-disposta e motivada a continuar assim. Pode parecer parvo, mas é verdade. Já não me apetece, sequer, comer carne, e até já nem penso nela. 

Tornei-me (ainda) mais organizada 
Sempre fui uma pessoa organizada, mas a coisa atingiu um outro nível durante o período de confinamento. Acho que o facto de ter tido mais tempo para mim fez com que me organizasse de modo a poder aproveitá-lo; ou seja, de modo a poder fazer tudo aquilo que queria e que, antes, me era difícil fazer. Por falta de tempo. 
(Embora a verdade seja que ainda há muito que quero fazer e que ainda não consegui, eheh) 
Comecei, então, a planear os meus dias, definindo, por exemplo, dias para fazer exercício e dias para cozinhar. A planear o que podia fazer para que os dias não fossem todos iguais e fossem minimamente equilibrados. Inclusive, tornei-me organizada no que toca às refeições de cá de casa, planeando com antecedência o que cozinhar nos próximos dias. Para que, numa ida às compras, se trouxesse tudo o que seria necessário – e para que não déssemos em doidas sem saber o que fazer para comer. Confesso que, antes, achava isto tão irritante e era apologista de fazer uma coisa qualquer na hora de comer com aquilo que estivesse em casa, de preferência algo rápido. Mas, lá está, nessa altura eu detestava cozinhar e via-me limitada a certos pratos, pois não sabia, nem queria saber, fazer mais nada. Agora, planear as refeições tornou-se sagrado. 

Comecei a fazer exercício físico em casa, sozinha… 
Nunca gostei de desporto – excepto de natação – nem de fazer exercício físico, pelo que foi um milagre ter encontrado as aulas de pilates e ter gostado delas ao ponto de ser uma aluna assídua e motivada desde meados de 2017. Com toda esta situação, no entanto, as aulas tiveram que ficar em suspenso, e eu vi-me “forçada” a fazê-las em casa. Sozinha, no quarto, sem ninguém à minha volta e sem o instrutor para puxar por mim. Seca. 
Eu achava que ia acabar por desistir, porque ia ficar desmotivada por não ser a mesma coisa. A verdade é que, sim, senti-me desmotivada algumas vezes, mas não deixei de fazer exercício. Dizia a mim mesma que tinha que ser, e assim foi. Continua a não ser a mesma coisa e eu continuo a ter saudades das aulas, mas fico contente e surpreendida comigo própria por conseguir fazer exercício em casa, sozinha, por vezes três vezes por semana, durante cerca de uma hora – nem as aulas de pilates duravam uma hora! 

…e variei um pouco 
Acredito que uma das razões que me deu algum ânimo nesta coisa de fazer exercício sozinha, sem ninguém a guiar-me ou a puxar por mim foi o facto de ter ido mais além do pilates e ter começado com sessões de alongamentos, estiramentos e posições de ioga. Ou seja, ter começado a exercitar-me a um ritmo mais lento e mais calmo, mas sempre desafiando o meu corpo, aos poucos. Eu já fazia algo, embora muito pouco, de ioga nas aulas de pilates, mas muito era feito de forma quase “inconsciente”, isto é, fazia posições de ioga nas aulas sem saber que aquilo era uma posição de ioga. De há uns tempos para cá, comecei a explorar mais esta vertente e a tentar aprender mais algumas poses. E tem sido óptimo. Começo a gostar mais deste tipo de treino do que o de pilates propriamente dito; sinto-me mesmo muito bem quando o faço e noto diferenças na minha flexibilidade. É algo que gostaria de manter, mesmo depois de retomar as aulas.

Comecei a gostar mais de mim própria
Mas este assunto ficará para mais tarde.

08/07/20

Junho

Ao contrário de Maio, que passou num ápice e em que aconteceram e fiz diversas coisas, notei que Junho foi um mês mais monótono.

09/06/20

Diários da quarentena #5 - E agora?

E agora a quarentena acabou e esta será a última publicação desta série – e eu espero que nunca mais se venha a falar em quarentena. E agora os Açores estão livres de Covid-19 e eu fico mesmo contente por isso, mas cheia de medo de que abram os aeroportos e tudo volte atrás. E agora estou farta que se falem em máscaras e em distanciamento social e em priorizar a economia e que tudo gire à volta do dinheiro.

E, entretanto, pedem-nos para retomar a normalidade e regressar à normalidade. O problema é quem não tem uma “normalidade” a que regressar. Quem já não tinha uma vida “normal” antes da pandemia.

02/06/20

Maio

Maio passou a voar e foi mais um mês de incertezas e sem expectativas. Porém, com muitas coisas boas.

24/05/20

Coração Negro, de Naomi Novik

Sinopse: «O nosso Dragão não devora as raparigas que leva, independentemente das histórias que possam ser contadas fora do nosso vale. Ouvimo-las, por vezes, de viajantes que por aqui passam. Falam como se estivéssemos a fazer sacrifícios humanos e como se ele fosse um dragão verdadeiro. Claro que isso não é verdade: ele pode ser um mago imortal, mas não deixa de ser um homem, e os nossos pais juntar-se-iam e matá-lo-iam se ele quisesse devorar uma de nós a cada dez anos. Ele protege-nos contra o Bosque e nós estamos-lhe gratos, mas não assim tão gratos.»


Agnieszka adora a sua pacata aldeia no vale, as florestas e o rio cintilante. Mas o maléfico Bosque permanece na fronteira e a sua sombra ameaçadora paira sobre a vida da jovem.
O povo depende do feiticeiro conhecido apenas por Dragão para manter os poderes de Bosque afastados. Mas o Dragão exige um terrível preço pela sua ajuda: uma jovem deve servi-lo durante dez anos, um destino quase tão terrível como perecer a Bosque.
A próxima escolha aproxima-se e Agnieszka tem medo. Todos sabem que o Dragão irá levar a bela, graciosa e corajosa Kasia, tudo aquilo que Agnieszka não é, e a sua melhor amiga no mundo. E não há forma de a salvar.
Mas Agnieszka teme as coisas erradas. Porque quando o Dragão chega, a sua escolha surpreende todos...


Conheci este livro por acaso, numa ida a uma livraria. Nunca antes tinha ouvido falar dele. Chamou-me a atenção a capa, mas mais a sinopse. É previsível – a escolha do Dragão surpreende todos; está-se mesmo a ver o que vai sair daí – mas as figuras do Dragão e do Bosque despertaram-me imenso interesse e curiosidade.

Logo no início, comecei a gostar da escrita da autora. É rica e detalhada, fazendo-nos transportar para o mundo que criou e fazendo-nos imaginar bastante bem os ambientes e as personagens, tal como eu gosto. Achei engraçados os nomes dos lugares do mundo – há um mapa no início do livro, coisa que eu adoro também – e os de algumas personagens, pois remetiam muito para países como a Polónia, a Croácia ou a Rússia, e eu supus que a autora tivesse raízes para esses lados – basta olhar para o seu sobrenome, seja como for, e não me enganei neste aspecto.

O início, porém, não estava a cativar-me, mesmo tendo a história vários aspectos que eu aprecio imenso, como a magia e o cenário mais medieval, com os seus castelos, reis e aldeias. Especialmente porque tinha acabado de ler Trono de Vidro, que tinha adorado e, por isso, a fasquia estava bastante elevada. Apesar de estar a gostar da escrita, do mundo e da premissa da história, o início foi um verdadeiro tormento, e isto devido às personagens.


13/05/20

Diários da quarentena #4 - Kit de sobrevivência

Ao longo deste período de isolamento, recorri a alguns truques que me permitiram enfrentá-lo de uma forma melhor, menos negativa e mais esperançosa. Apesar de muita gente já não estar em confinamento, estes truques ainda se aplicam a mim, e talvez poderão resultar ou ajudar alguém.

06/05/20

Abril


Em Abril, mudei de quarto. Continuo na mesma casa, apenas passei o meu quarto para outra divisão, mais espaçosa e que não estava a ser usada. Pintei a minha cómoda, a minha mesa-de-cabeceira e a minha estante, todos de branco, para este efeito de mudança. Já há algum tempo que queria mudar a decoração do meu quarto e mudar a disposição das coisas, pois não estava satisfeita. Mas a possibilidade de passar para outra divisão foi bem-vinda. O quarto ainda não está totalmente pronto, uma vez que gostava de fazer uns quadros para decorá-lo, tem uma outra estante por pintar, para ficar tudo a condizer, e estou a ponderar arranjar uma secretária nova, mas cada coisa a seu tempo. E, para já, está óptimo assim. Começo a sentir-me verdadeiramente bem no meu quarto outra vez.

Em Abril, criei novas rotinas, mas continuei a cuidar de mim, tanto a nível físico, como psicológico. As manhãs têm sido lentas, calmas e diferentes, embora tenha voltado a acordar cedo, e isto tem-me feito sentir bem. Fiz exercício físico em casa, pelo menos duas vezes por semana, improvisado e com base no que costumava fazer nas aulas de pilates. Continuei a desenhar, e cada vez tenho mais ideias novas. E escrevi bastante, tanto aqui no blog como para mim, nomeadamente no projecto que estou a reescrever. Ainda não escrevo todos os dias, mas os dias em que escrevo compensam essa ausência, até porque fico tão entusiasmada que não consigo escrever apenas as duzentas palavras por dia a que me tinha proposto.

Em Abril terminei Modern Family e vi poucos filmes, dos quais destaco A Rainy Day in New York e When Marnie Was There, ambos muito fofinhos. O último foi-me aconselhado pelo R. e foi o primeiro filme que vi do famoso Studio Ghibli. Fiquei especialmente rendida aos cenários e às cores, mas também me deliciei com a própria história, até porque me identifiquei com a personagem principal, e só queria fazer o mesmo que ela: ir para um lugar como aquele, numa casinha de férias longe de tudo e passar os dias a passear, a desenhar e a ler sem pensar em mais nada.

Também terminei o livro que estava a ler, Coração Negro, do qual falarei mais tarde – mas posso adiantar que gostei bastante e que foi, para mim, uma grande inspiração. Não li mais nada de ficção depois disso, embora, sim, tenha continuado a ler.

Em Abril, uma das minhas bandas favoritas, Nightwish, regressou com um álbum tão, mas tão bonito. E até a minha banda favorita, Evanescence, regressou! Um regresso mesmo em grande, com uma música tão boa. Aliás, em Abril ouvi muita música nova – houve muitos grandes regressos este mês! –, inclusive de artistas ou bandas que já não ouvia há muito tempo, e de novas bandas também. Houve um dia em particular em que estava a desenhar em frente à janela do quarto e em que queria ouvir música para me acompanhar, mas não sabia ao certo o que queria ouvir. O dia estava tão escuro e via-se nevoeiro ao fundo, sobre os montes, pelo que me apetecia algo melancólico, como que a condizer com o estado do tempo. Depois de ter posto uma música a tocar no Spotify, deixei que este escolhesse mais músicas por mim. E presenteou-me com uma série de músicas melancólicas, cada uma mais bonita que a outra. Foi daquelas coisas inesperadas e tão boas. E, graças a isso, conheci várias novas bandas e artistas, que vou ter que explorar mais tarde.

A Páscoa foi celebrada com uma espécie de brunch: torradas com ovos mexidos, salsicha (de soja), fiambre, queijo e um chá de canela e gengibre; e, depois, panquecas! Seguiu-se uma tarde de sofá e filme com amêndoas de chocolate. No dia a seguir, os meus vizinhos do lado vieram oferecer-nos um folar feito em casa, que estava tão bom e reconfortante. Por falar em comida, Abril também serviu para novas experiências culinárias – das quais destaco um pão de banana delicioso e umas hambúrgueres de grão espectaculares – e para melhorar receitas.

E assim foi Abril em casa. Embora também tenha tido os meus momentos de stress e de ansiedade, Abril foi, na sua maioria, tranquilo, intercalando actividades e rotinas diferentes com as coisas de que mais gosto.

29/04/20

Diários da quarentena #3 - A produtividade e as pequenas coisas


Na última publicação da série Diários da quarentena, em que falei acerca de se agradecer, referi que uma das coisas pelas quais estou grata neste período de isolamento é a tecnologia. No entanto, esta mesma tecnologia, que adoramos por nos manter todos juntos mesmo que separados, consegue ser uma faca de dois gumes, em particular no que diz respeito às redes sociais. Se, por um lado, a partilha de conteúdo pode inspirar-me e motivar-me e fazer-me pensar positivo, pode, por outro lado, deixar-me cheia de stress e de ansiedade. E tudo isto devido à questão da produtividade.

Parece que muitas pessoas estão a encarar este período como um tempo para serem mais produtivas do que nunca. Claro que é bom que se mantenham ocupadas e entretidas em casa, que descubram novas coisas que gostem de fazer ou que façam coisas que já não faziam há muito tempo. Mas vê-las a fazer tanta coisa, como, por exemplo, a fazer tanto exercício físico todos os dias, a cozinhar imensas coisas diferentes ou a criar tanta coisa nova em tão pouco tempo – e a gabarem-se por isso, ao que parece –, acaba por me deixar stressada e desnorteada. Eu pergunto-me se essas pessoas não param, e até me pergunto se fazem o que fazem por gosto e em prol do seu bem-estar ou se apenas para mostrar aos outros o quão produtivas estão a ser nestes dias. Seja como for, às vezes isto só me deixa stressada, em vez de me inspirar e motivar a ser produtiva – e, por isso, sinto-me bem melhor quando me desligo durante horas das redes.

Até porque a questão é: não temos que ser produtivos. Isto é uma pandemia, e não uma competição de produtividade. Não é para ver quem faz mais coisas em menos tempo, ou quem cria mais projectos ou conteúdo. Se antes de tudo isto já nos era dito que não precisamos de ser produtivos o tempo todo e que também temos que descansar, então não faz sentido que as coisas sejam diferentes agora.

28/04/20

Diários da quarentena #2 - Gratidão

No início deste ano, comecei um ritual. Peguei num pequeno caderno que estava abandonado a um canto, todo em branco, e tornei-o no meu diário da gratidão. Todas as noites, salvo aquelas em que estou terrivelmente cansada ou com uma dor de cabeça que não me permite fazer nada, escrevo sobre as coisas boas daquele dia, aquilo que fiz e coisas pelas quais estou grata. Ou, caso tenha sido um dia pior, escrevo algum pensamento ou o que estou a sentir.

Muito se fala sobre o poder da gratidão, como o facto de elevar a nossa frequência energética ou o facto de nos tornar mais positivos, atentos, conscientes. Confesso que não acreditava em nada destas coisas; achava que era tudo treta e passei, aliás, anos e anos sem acreditar nestas coisas que não se vêem, como energias e forças superiores. Nem sei bem de que forma o meu mindset mudou e virou um pouco do avesso. Talvez por eu própria ter ficado virada do avesso e já não saber mais em que acreditar, achando que não teria nada a perder se desse a estas “filosofias” uma oportunidade.

Até me senti estranha no início, ridícula, até, quando comecei a escrever o tal diário. No entanto, tem sido um exercício muito interessante. Sempre fui uma pessoa negativa; era-me muito difícil ser positiva e ver um lado positivo nas coisas. Mas este ritual tem-me ajudado a focar-me nas coisas boas e a dar-lhes valor, especialmente a coisas que costumamos tomar como garantidas.

Pode parecer ridículo dizer-se, por exemplo, que estou grata por poder exercitar o meu corpo, por ter tido a possibilidade de estar à beira-mar e ver o pôr-do-sol, ou por ter tido um dia de trabalho. A mim também me parecia estranho, mas, agora, é-me natural. Porque, se pensarmos bem, não são todas as pessoas que têm um corpo saudável e que podem movê-lo e fazer exercício; não são todas as pessoas que podem ir almoçar fora e que podem ver o mar todos os dias; e há muitas pessoas sem trabalho, que não têm, sequer, a hipótese de, como eu, fazer pequenos trabalhos de vez em quando. Por isso, estas coisas tão “parvas” e tão “banais” para alguns podem ser, na verdade, privilégios.

23/04/20

Trono de Vidro, de Sarah J. Maas


Sinopse: Numa terra em que a magia foi banida e em que o rei governa com mão de ferro, uma assassina é chamada ao castelo. Ela vai, não para matar o rei, mas para conquistara sua própria liberdade. Se derrotar os vinte e três oponentes em competição, será libertada da prisão para servir a Coroa com o estatuto de campeão do rei - o assassino do rei. O seu nome é Celaena Sardothien. O príncipe herdeiro vai provocá-la. O capitão da Guarda vai protegê-la. Mas um halo maléfico vagueia no castelo de vidro - e está lá para matar. Quando os seus concorrentes começam a morrer um a um, a luta de Celaena pela liberdade torna-se numa luta pela sobrevivência e numa jornada inesperada para expor um mal antes de que este destrua o seu mundo.

Li este livro de uma assentada e era sempre muito difícil parar. Já há algum tempo que um livro não me agarrava dessa maneira. Achei-o altamente viciante. Tanto o enredo como as personagens são tão cativantes e interessantes.

Sabem aquela frase que se diz, I have this thing with…? Pois bem, no que toca a livros, eu tenho uma thing com enredos inseridos numa época algo medieval, onde existem castelos e reis, onde se fazem aqueles jogos de alianças pelo poder e pela conquista de terras e construção de impérios; com aquelas intrigas típicas da vida na corte, enredos da realeza, os bailes e tudo mais. Acho verdadeiramente encantador e fascina-me mais do que mundos futuristas e distópicos – embora também goste deles. É verdade que estes não são os aspectos centrais da história, mas fazem parte dela. Para além disso, tenho também uma thing com livros com mapas, algo que também está incluído neste.

Através da sinopse, acho que se torna fácil perceber o desfecho da competição, mas isto não torna o livro em algo cliché, previsível e aborrecido. Muito pelo contrário. Apesar de a competição ser o foco central, há tanto mais a entrar em cena e a enriquecer de forma maravilhosa esta história. Até porque várias das provas da referida competição nem sequer são descritas, sendo apenas feita uma breve referência, o que, na minha opinião, contribuiu para uma leitura mais fluida e interessante e menos maçadora. Assim, para além da competição, temos também a questão do mal que vagueia pelo castelo, um mistério em lugares secretos desse mesmo castelo e as riquíssimas interacções entre as personagens: as intrigas, as desconfianças, as amizades que se vão construindo e, como não podia deixar de ser, uma pitada de romance.

As personagens estão tão bem construídas, e o mesmo se pode dizer das relações e interacções entre elas: nada parece irreal ou forçado. O livro é narrado na perspectiva não só de Celaena, a protagonista, como também na de outras personagens. É algo que eu também adoro nos livros – outro aspecto pelos quais tenho uma thing –, pois acho que os enriquece muito mais e, graças a isso, passamos a conhecer melhor as outras personagens, chegando, até, a criar empatia por elas.

21/04/20

Diários da quarentena #1 - O que estou a sentir

Como disse há algumas publicações atrás, não me está a custar estar em casa e em isolamento. Sou uma pessoa introvertida – sempre o fui, não me tornei introvertida de um momento para o outro só porque isso passou a ser “moda” –, e evito pessoas e multidões e mantenho-me isolada desde sempre. É verdade que sinto falta do R., de poder sair e de passear, mas tenho estado bem. Estar em casa sempre foi normal para mim, e viver num ritmo desacelerado e um dia de cada vez e criar novas rotinas também acabou por se tornar mais ou menos normal antes de tudo isto começar, infelizmente. Digo infelizmente, porque comecei a habituar-me a viver assim devido a um mau motivo: o facto de estar desempregada é que me “forçou” a ver as coisas desta forma. Por isso, tenho estado bem, e este período não me parece assim tão “novo”, nem aborrecido, nem gerador de ansiedade.

Mas eu não deixo de achar tão estranha esta minha forma tão calma e tranquila de lidar com este período de isolamento. Isto porque tenho visto relatos de pessoas que andam muito ansiosas, que choram, que nem sabem bem o que sentir e o que estão a sentir neste período. É claro que cada um lida de forma diferente, mas a minha forma de lidar com isto parece-me demasiado estranha. A ansiedade que eu, por vezes, sinto, manifesta-se quando eu começo a pensar no futuro. No depois. Porque eu começo a pensar que, quando as coisas começarem a acalmar e uma certa normalidade começar a instalar-se, vou ter que voltar à questão do trabalho. O campo profissional sempre foi um grande motivo de ansiedade, de stress e de preocupação para mim, não só agora mas desde há muitos anos, ainda antes de ir para o secundário. Saber que, por estar desempregada, vou ter que começar por algum lado, abrir actividade, começar algo novo do zero, e ter constantemente esta sensação de que posso estar a ir pelo caminho errado, causam-me uma enorme ansiedade. Por isso, sempre que estes pensamentos começam a espreitar e a fazer-me comichão, eu faço um esforço para ignorá-los, para que não estraguem o meu dia. E tudo isto, e não a questão do isolamento e de estar “presa” em casa, é que me causa ansiedade. Como já causa há muito tempo.

Mas confesso que, ao início, isto do isolamento estava a chatear-me, e esta questão do trabalho era uma das razões. Perguntava-me E agora? Vou começar quando? e dizia a mim própria que, se calhar, já devia ter começado. Chateou-me o facto de ter pensado que 2020 ia ser um grande ano, que eu estava finalmente mais optimista, que tinha tantos planos, e, no fim, acabou por não ser “o ano” de ninguém. Tinha comprado uma agenda toda gira e enorme, cheia de espaço para escrever, que, a meados de Março, acabou por ficar com diversas páginas em branco. Tinha escolhido este ano para fazer o meu diário de gratidão, achando que seria um ano incrível, e olha que belo ano este acabou por ser.


04/04/20

Março

Se eu achava que Fevereiro tinha sido estranho, então o que dizer de Março? Logo Março. O meu mês de aniversário e um mês em que tinha tanta coisa pensada. Estava mesmo a contar que fosse um mês interessante.

Começou de uma forma um bocado triste e desanimadora, em parte devido ao facto de estar prestes a fazer anos. Na manhã do meu aniversário, que foi nos inícios do mês, acordei triste, deixei-me ficar na cama e só queria ficar sozinha, até porque não tinha nada planeado. Estava triste porque mais um ano se tinha passado e tudo continuava mais ou menos na mesma. Porque os anos parecem apenas passar por mim e eu só assisto.

Mas lá ganhei forças para me levantar, para me vestir e para sair de casa, mesmo em baixo. Fui almoçar com o meu pai a um dos meus restaurantes favoritos, à beira-mar, na esplanada. O dia estava tão bonito, a comida deliciosa como sempre, aquela vista fantástica sobre o mar, e eu comecei a animar-me. Recebi bons presentes. Depois, acabei por ir jantar fora também, desta vez com a minha mãe. Uns tios meus também nos acompanharam, sem eu ter estado à espera. Fomos a outro dos meus restaurantes favoritos e foi bastante agradável. Não tive bolo de aniversário, porque eu própria não o quis; aliás, não quis fazer a tradicional festa em casa com a família, pois não estava mesmo com espírito e vontade para tal. Em vez de bolo, comi um delicioso brownie com uma bola de gelado de After Eight como sobremesa, que me soube pela vida. No dia a seguir, jantei com o R., que me preparou um jantar romântico à luz de velas – e aí acabei por ter bolo! Não estava mesmo nada à espera – presumi que jantaríamos num restaurante – e soube tão bem, achei um gesto tão querido e senti-me tão grata e feliz. Depois de tudo isto, achei que tinha sido mesmo tola por ter acordado tão triste no meu dia de anos.


30/03/20

We're Here Because We're Here

Via We Heart It.

No dia onze deste mês, estive num concerto. Imediatamente antes desta crise pandémica se ter instalado e de as nossas vidas terem virado do avesso. Eu não iria adivinhar. Nem eu, nem ninguém. Já se ouvia falar do vírus, mas nada comparado ao que se vive hoje, e a vida corria normalmente como sempre, apenas com a novidade dos cuidados redobrados com a desinfecção de mãos.

Estava quase certa que o concerto seria cancelado, mas não foi, para meu grande espanto. Mesmo assim, muitas pessoas decidiram não ir, e eu não as condeno e compreendo os seus motivos. Eu fui de qualquer das formas, uma vez que isto já tinha sido planeado há algumas semanas. Eu não vivo em Lisboa nem nos arredores, aliás, nem sequer vivo em Portugal continental. Pelo que não posso ir a Lisboa sempre que me apeteça; não posso simplesmente apanhar um comboio ou entrar no carro e meter-me nas auto-estradas. Eu fui a Lisboa de propósito para ir a este concerto e a outros eventos que calharam na mesma altura. Ora, se planeara tudo, se já lá estava e se o concerto iria em frente, eu não ia deixar de ir. Apesar de tudo isto ser discutível. Talvez tenha sido imprudente não só da minha parte e de todas as outras pessoas que para lá foram, mas também por parte da banda, dos produtores, do próprio local do evento. De qualquer forma, estou ciente do perigo e, assim que regressei a casa no dia imediatamente a seguir, tendo noção da quantidade de locais a que fui e da quantidade de pessoas com quem contactei durante aqueles poucos dias, sujeitei-me ao isolamento social. Já lá vão mais de quinze dias.

Podem julgar-me. A verdade é que não me arrependo de um único segundo passado no Capitólio naquela noite. Aliás, o meu grande arrependimento seria estar em Lisboa e decidir faltar ao concerto.

24/03/20

Um

Nem acredito que já se passou um ano desde o pedido de namoro. Lembro-me perfeitamente daquele dia, quando, há precisamente um ano, entrei naquela casa na minha inocência e vi velas e balões, com uma música romântica ao fundo. Era algo de que não estava mesmo, mas mesmo nada à espera. Mas eu não hesitei no momento de aceitar, pois, no fundo, eu sabia que nós dois podíamos construir algo maravilhoso juntos. Houve sempre algo em ti. Houve algo que me cativou, e continuou a cativar-me e a fascinar-me enquanto nos conhecíamos através de mensagens. Engraçado como, pouco tempo antes, eu tinha escrito um texto sobre aquilo que eu procurava numa pessoa. Depois, apareceste tu. Como se fosses um presente; como se fosse o universo a dizer-me Aqui tens o que pediste.

Este ano passou tão rápido. Mas não foi preciso um ano inteiro para te tornares na pessoa mais especial que já conheci. Em menos de um ano, tornaste-te no melhor que eu tenho na vida e naquilo que mais tenho de precioso. Fizeste com que a vida se tornasse mais bonita e colorida e com que eu própria me tornasse numa pessoa melhor, uma pessoa mais feliz, fazendo com que o melhor de mim viesse à tona. És uma pessoa tão incrível, tão linda por dentro – e por fora também, como é óbvio –, que é o que nunca ninguém foi para mim e que eu amo como nunca antes. Amo poder conversar contigo sobre tudo o que quiser; amo que me faças rir; amo que sejas a pessoa em quem mais confio e com quem me sinto mais à-vontade, com quem posso ser eu própria; amo que tenhamos tanto em comum; amo acordar com as tuas mensagens de bom dia, ou que seja eu a mandar-te uma mensagem de bom dia em primeiro lugar, dependendo de quem acorda primeiro; amo que me compreendas tão bem; amo tudo aquilo que fazes, desde o tocar guitarra e os teus cozinhados – muitos dos quais ainda estou à espera de provar – às tuas surpresas tão boas; amo o teu jeito romântico e carinhoso; amo pensar em ti sempre que leio um texto romântico ou ouço uma música com uma letra romântica; amo que lutes ao meu lado contra a distância que nos separa e que, tal como eu, estejas disposto a tudo para que demos certo; enfim. Este foi um ano de partilha, de descoberta, de momentos mágicos e inesquecíveis, de apoio e cuidado, de construção, de cumplicidade, de confiança, de amor, e só te tenho a agradecer por tudo. Pelo que me dás, pelo que me fazes ser, por estares sempre presente, ainda que fisicamente distante. Por fazeres parte da minha vida, por me teres feito acreditar no amor novamente, por me dares a conhecer e me fazeres viver um amor que eu nunca tinha vivido antes, com momentos, gestos e palavras que eu nem achava possível que viessem a acontecer comigo. Desculpa se não sou tão romântica e expressiva como tu – incluindo o facto de não ter grande jeito para este tipo de textos (os teus são sempre mil vezes mais bonitos) – e se fico facilmente sem jeito quando és assim, mas é a minha maneira de ser e ando a tentar melhorar isso. Desculpa se alguma vez te desiludi e te decepcionei. Mas aquilo que mais lamento é o facto de, ao longo de um ano de namoro, não poder ter estado contigo tanto quanto desejaria, apesar de nenhum de nós ter culpa de vivermos em locais diferentes e a cerca de quarenta minutos de distância. No entanto, sei que isto é algo que nos fortalece e que nos faz valorizar ainda mais esta relação e o tempo que passamos juntos. E sei que este é um obstáculo que vamos contornar e que não estará no nosso caminho para sempre.

Nunca me passou pela cabeça que, no nosso primeiro aniversário, estivéssemos fisicamente separados não por causa da distância de todos os dias, mas sim devido à situação em que nos encontramos agora. Quando tudo isto passar, juro-te que a primeira coisa que vou fazer é ir ter contigo, dar-te um abraço tão grande e todos os miminhos do mundo, e que só te vou largar na hora de ir embora. Este é só mais um obstáculo, que iremos ultrapassar juntos. E, quando o ultrapassarmos, celebraremos. E celebraremos todos os outros anos que estão para vir, no nosso dia, juntos, sem ser através de uma videochamada.

Obrigada por tudo, por tudo deste primeiro ano de muitos. Enches os meus dias de felicidade, fazes com que me sinta tão sortuda e tão grata, e só quero continuar a fazer-te feliz, como tanto mereces – e tu mereces o mundo –, e a arrancar-te sorrisos todos os dias, esses sorrisos e esses olhares ternurentos que me derretem completamente. Ainda temos tanto pela frente, temos toda a vida para construirmos e vivermos o nosso amor, felizes, e eu tenho a certeza que o melhor ainda está para vir. E também tenho a certeza que és tu quem eu quero ao meu lado. Agora que te encontrei, não te quero largar ❤

22/03/20

Uma questão de tempo


Estou de quarentena há uma semana e dois dias, e, até agora, tudo tem estado bem. Estou bem de saúde e estou bem a nível psicológico – o facto de estar em isolamento e entre quatro paredes ainda não me pôs doida. Nos primeiros dias, o tempo esteve bom, e isso soube bem. O sol parece conferir algum ânimo e alguma esperança. Parece tornar os dias mais fáceis e suportáveis. Até porque pude desfrutar de algum ar fresco na varanda. Passei estes dias, sobretudo, a ler lá fora, a usufruir do sol. Até almocei lá fora, dado o tempo ter estado tão convidativo. Evitei passar os dias de pijamas e vesti roupas frescas, até porque o sol e o calor pediam-no. Também já desenhei um pouco nestes dias, fiz algum exercício, fui ao supermercado uma vez porque assim teve que ser e fiz algumas limpezas aqui em casa. Durante este período, quero poder desenhar muito mais, até porque estou cheia de ideias; quero poder escrever em força, tanto aqui no blog como nas minhas histórias; quero tirar o pó à minha PS4 e jogar alguns dos jogos que estão em stand-by há demasiado tempo; quero pintar os móveis do meu quarto e decidir o que fazer em relação ao meu quarto para torná-lo mais confortável e agradável para mim.

Portanto, está tudo bem. Não encaro este período como um isolamento forçado, como clausura ou como castigo, nem o vivo com frustração. Para mim, não é algo tão anormal, pois já estou tão habituada a estar em casa. Sempre gostei de estar em casa, uma vez que era o único lugar onde podia fazer todas as minhas actividades favoritas – onde podia jogar videojogos, onde podia escrever, desenhar, ler em silêncio, ouvir as músicas de que gostava. Para além disso, estou desempregada, pelo que estar em casa tem sido, infelizmente, habitual.

Mas, como é óbvio, existem grandes diferenças. A primeira é o facto de não poder sair, a não ser devido a extrema necessidade. Não poder estar com o meu namorado – de quem estou a morrer de saudades –, não poder ir tomar um café, não poder ir passear, enfim. A segunda…é que esta é das poucas vezes em que estou em casa e estou de consciência tranquila.

04/03/20

Fevereiro

Fevereiro foi um mês estranho. Agridoce. Começou de uma forma tensa, pesada e triste. Logo depois de o mês de Janeiro ter terminado com saldo positivo e de eu estar algo esperançosa. O mau começo de Fevereiro pareceu como que um castigo. Quanto ao resto do mês, a maioria dos dias foi passada em casa. Trabalhei pouco neste mês. Muito pouco, mesmo – é uma das desvantagens de se ser prestadora de serviços. E os planos também foram poucos, devido a diversas circunstâncias.

No entanto, o facto de ter trabalhado muito pouco e de, ao contrário de Janeiro, ter passado mais tempo em casa do que fora dela, permitiu que me dedicasse a outras coisas. Fiz alguns desenhos novos e tive umas quantas ideias para outros. Tive uma tarde em que regressei à escrita em força, escrevendo quase três mil palavras. E voltei a pegar em coisas antigas, tentando trazer à tona um novo projecto, o meu backup plan, do qual falarei mais tarde, quando tudo já estiver mais encaminhado.

Em Fevereiro revi a saga Harry Potter – vamos só fingir que não saltei um dos filmes porque ainda o tinha bem presente na memória e porque o que eu queria mesmo, mesmo era rever os últimos (uma vez que mal me lembrava deles), sim? Comecei a ler um novo livro, Trono de Vidro, e quase terminei-o nesse mesmo mês – terminei-o ontem. Já nem me lembro da última vez que tinha devorado um livro assim, tão rapidamente, e em que tinha ficado tão entusiasmada com a leitura. Ouvi o novo álbum dos Delain, uma das minhas bandas favoritas, do qual gostei bastante – embora tenha, como é óbvio, que o ouvir mais vezes para dizer mais qualquer coisa a seu respeito. Passei tardes maravilhosas com o R., uma delas num dia fantástico de sol à beira-mar e com direito a um adorável pôr-do-sol. Apesar de não termos celebrado o dia dos namorados um com o outro, estivemos juntos uns dias antes e eu ofereci-lhe um pequeno miminho de qualquer das formas. Em troca, ele fez-me a surpresa mais querida de sempre. Assim, apesar de Fevereiro ter começado de forma triste e cinzenta, também trouxe consigo, literalmente, dias de sol e que fizeram lembrar o verão.

Para além de tudo isto, em Fevereiro ganhei, finalmente, coragem para tomar decisões importantes. Agora resta-me a parte mais difícil: acreditar e ter confiança em mim.

Apesar de não ter começado da melhor maneira, terminei Fevereiro de forma leve e plena. No entanto, agora, no início de Março, estou novamente para baixo, com pensamentos negativos a ocuparem-me a mente, em parte devido ao facto de este ser o meu mês de aniversário e de não gostar propriamente de fazer anos. Por isso, acho que ninguém consegue imaginar o esforço que estou a fazer para escrever isto e, mais do que isso, para tentar encontrar os pontos positivos dos últimos dias.

26/02/20

Pensamentos num dia de sol


Um dia estranho, o de ontem.

Na verdade, os dias têm sido estranhos desde o fim-de-semana, devido ao estado do tempo. O sol tem estado a brilhar durante o dia todo e o frio do inverno parece ter desaparecido. Os dias convidam a passeios ao ar livre ou a desfrutar da esplanada, pedem roupas mais frescas e quase me convenceram a vestir uma t-shirt ou a dar um mergulho no mar. É algo tão estranho e atípico, não apenas por ser Fevereiro, mas também porque, aqui onde vivo, vários dias de sol seguidos é uma raridade.

O sol e o céu azul conseguem alegrar-me de certa forma e convidam-me a ir para o exterior, para usufruir da luz do sol e do seu calorzinho reconfortante. É uma espécie de energia positiva e de renovação e de um presente após vários dias chuvosos, cinzentos ou sem graça; algo que parece alegrar a alma. Por muito que goste de chuva e de um céu escuro no inverno, especialmente quando não tenho planos e o meu único plano é ficar em casa, o sol parece despertar algo dentro de mim, como se eu tivesse, realmente, necessidade dele. Por isso, quando surgem dias como estes, sinto como que a “necessidade” de desfrutar deles. De apanhar algum ar fresco, nem que seja apenas na minha varanda, e aproveitar o próprio sol.

O dia de ontem foi particularmente estranho porque dei por mim a pensar no verão. Eu, que passei a encarar o calor como algo insuportável, que acabo por ficar irritada quando os dias seguidos de sol começam a ser em demasia, que deixei de considerar o verão como a minha estação do ano preferida – como já por aqui falei – …comecei a pensar no verão.